terça-feira, setembro 30, 2008

FUTEBOL CLUBE DO PORTO E OS DEMÓNIOS DE JESUALDO


Escrevo este artigo a poucas horas do embate de Londres entre o Arsenal e o Futebol Clube do Porto. Pelo que nos diz a história de resultados anteriores o meu clube vai, de novo, perder mais um jogo de futebol com um dos mais famosos clubes do campeonato de Inglaterra. Se a história é, neste domínio, implacável (em onze jogos perderam-se dez e empatou-se um…), Jesualdo Ferreira e os demónios que o atormentam vão, certamente, encarregar-se de confirmar o resto. A derrota é sina certa, previsível como dois e dois serem quatro.

Jesualdo é um treinador medroso. Em jogos com equipas de valor idêntico ou teoricamente superior agacha-se quase sempre. Já disse isso neste espaço e confirmo-o de novo. Sempre que revelou medo, perdeu. Não tendo aprendido com as derrotas, ainda não é desta que vai aprender. Jesualdo Ferreira é assim mesmo: acanhado, medroso, conservador, cheio de dúvidas na hora da tomada de uma decisão difícil; o medo de perder está-lhe na massa do sangue. Que me lembre nunca ganhou uma final pelo FCP; que me recorde nunca venceu um jogo fora, com clubes da Primeira Liga Inglesa. O jogo desta noite para a Liga dos Campeões Europeus é, por isso, mais um jogo para perder. A história di-lo, Jesualdo vai confirmar.

Prevejo que o Professor ponha em campo uma equipa à defesa, assustada, a tremer por todos os poros, com tremeliques de toda a ordem. Prevejo que jogue de início quem devia ficar na bancada, auguro que se fique pelo banco quem devia fazer parte da equipa titular. Ninguém percebe por que razão Mariano Gonzalez tem de jogar sempre de início; ninguém entende por que razão Tarik Sektoui não integre sequer o conjunto de 19 jogadores que o treinador decidiu convocar para este jogo de Londres; ninguém compreende por que não joga de início Hulk, todos se surpreendem por que fica quase sempre de fora Lino.

Com o estado de espírito que acabei de revelar vou, contudo, ver o jogo tranquilamente pela televisão. Este treinador teve, pelos antecedentes, a virtude de me relaxar antes dos grandes jogos. Como, por sistema organiza a equipa para empatar e perde quase sempre, a derrota já não me perturba. Irrita mas não me tira o sono.

Estarei hoje, por uma vez, enganado? Poderei esperar pelo milagre? É hoje que vou dar a mão à palmatória? A ver vamos…

segunda-feira, setembro 29, 2008

GANÂNCIA

Nos últimos tempos tem-se falado muito em crise. Numa crise que tem vindo a abalar o sistema financeiro dos países ocidentais, numa crise que inquieta todos os países mas nomeadamente os Estados Unidos e a Europa, numa crise que tem dado azo a que, com frequência, se fale em ganância e em pessoas sem escrúpulos que se presume estarem na base de uma situação preocupante que está, de facto, a agitar o mundo e a meter medo a quem menos culpa tem dela.

Economista, gestores, políticos, auditores, revisores, analistas financeiros, reguladores e especuladores, nenhum destes abencerragens fica bem neste processo. Se há crise e se a mesma é muito grave, toda esta gente tem a sua quota-parte de responsabilidade. Se as consequências para o mundo não estão ainda totalmente avaliadas, a responsabilidade do que se está a passar pertence-lhes por inteiro. Uns mais do que outros mas todos têm culpa neste cartório.

Incompetência, peculato, imoralidade, utilização ilícita de meios, sede de glória, avidez de honrarias inúteis, eis o pano de fundo de uma tragédia que, como se disse, faz tremer o mundo, inquieta quem é economicamente frágil e, sobretudo, assusta quem não tem culpa nenhuma deste momento perigoso e decisivo que todos consideram injusto mas que implacavelmente a todos diz respeito.

A onzena, a ambição desmedida de obtenção de dinheiro fácil, a ânsia de acumulação de riqueza sem limites, a cobiça pelos lucros rápidos, tudo isso está na génese de comportamentos de gente sem carácter, de gente sem escrúpulos, de gente que faz da ganância o seu princípio de vida. Querem mais, querem sempre mais, são gulosos, não olham a meios para obter os fins, exactamente os fins únicos da sua imensa ambição…A usura, o lucro fácil, a voracidade, a ilicitude comportamental que todos, de uma forma ou outra, se consentiram ter como princípio de orientação à frente de governos, de multinacionais, de bancos e de grupos financeiros, foram, de acordo com a generalidade dos observadores, a causa profunda do actual estado mundial da economia.

Se foram, como sair disto? Que medidas tomar? Substituindo os governos, prendendo os culpados, nacionalizando a riqueza ilicitamente adquirida, tributando, de outra forma, os rendimentos socialmente obscenos, mandando para a cadeia quem roubou, impedindo que especuladores sem ética proliferem pelos sectores da economia, racionalizando os mercados financeiros, exonerando, de imediato, os incompetentes, correndo com os padecem de ganância...

Mas não será isto pedir de mais? Como vencer a cumplicidade de interesses instalados? Como acabar com conivências de auto-protecção? No meio de um panorama assim ainda haverá alguém que, não tendo culpa do que se passa, esteja com poder, disponível e legitimamente capaz de contribuir para o estabelecimento de uma outra ordem económica?

segunda-feira, setembro 22, 2008

HOSPITAL DE S.JOÃO: UMA OUTRA IMAGEM

Tive, há dias, necessidade de visitar um doente internado no Hospital de S. João, no Porto. Fiquei boquiaberto com o que vi e com o que por lá se passa. De repente senti-me nos corredores de uma qualquer unidade hospitalar do terceiro-mundo. O ingresso no recinto, as ruas esburacadas, o parque automóvel, as portas de entrada, os corredores do ambulatório, as salas de espera, os ascensores de acesso aos pisos, o aspecto de algumas enfermarias, tudo isto me pareceu ali confuso, desordenado, caótico. Julguei que não estava nas instalações de uma das maiores unidades hospitalares do meu País. Mas estava…

Ouvi funcionários a gritar desabridamente ao microfone, observei doentes aos repelões, escutei pessoas em altos berros, reparei em gente anónima que se vagueava sem destino por corredores que poucos sabiam aonde iam dar. Encontrões, barulho, vozearia, cestos de imundície, pequenas bancas de negócio, papelarias de mau gosto, farnéis, tudo isso eu vi numa casa que já foi, há três décadas atrás, uma das mais importantes unidades de referência hospitalar do nosso País.

Ter ido recentemente a este Hospital constituiu-se numa experiência que não poderei esquecer mais, tal foi a dimensão dos aspectos negativos que, com desagradável surpresa, ali pude observar. Não exagero se disser que ter lá ido foi como se tivesse ido a uma das feiras semanais da cidade de Espinho, tamanha era a desorganização, o caos, a vozearia, a falta de respeito, a poluição ambiental.

Não ponho em causa que, no que toca a números, este Hospital até esteja de boa saúde. Os números que o Conselho de Administração faz constar do seu “site” parecem bons, parecem estar mesmo acima dos indicadores de outros hospitais do País. Mas os hospitais não são números, não são estatísticas cegas, não são apenas o balanço e a demonstração de resultados. Os Hospitais são outra coisa bem diferente: são lugares sagrados onde é obrigatório ter-se respeito pela pessoa humana; são espaços onde há gente que sofre, onde há bebés que nascem, onde há jovens que requerem a saúde que perderam, onde há velhos que morrem. Quem não entender isto não é digno de trabalhar num hospital; quem apenas olha para os números, quem apenas considera o hospital pela óptica financeira dos resultados, não reúne, de todo, condições para ser seu dirigente ou administrador. Terá o Conselho de Administração do Hospital de S. João consciência disto?

Admito que estas palavras sejam brutalmente injustas para quem lá trabalha com honestidade e para os serviços que, apesar da descrição feita, apresentam níveis de excelência, comparáveis com o que de melhor há no mundo em unidades do género. A essas pessoas e a esses serviços peço desculpa e aqui presto a minha homenagem muito sincera. Mas o sentimento geral que retive quando por lá passei foi exactamente o que acabo de relatar. Indignado com o que vi, não pude ficar calado.

sexta-feira, setembro 19, 2008

OS ATRELADOS

Quem consultar o dicionário da Porto Editora verificará que a palavra atrelado pode ter quatro significados: pode querer dizer algo que se encontra preso ou engatado a outro veículo, pode ser um veículo sem motor rebocado por outro, pode ser alguma coisa que ande preso com trelas e pode, por convenção, ser alguém que anda sempre associado a uma pessoa, como se ambas tivessem que funcionalmente estar para sempre coladas uma à outra. É obviamente em sentido coloquial que me quero referir aos atrelados, aos atrelados ditos sociais. De resto, cabem perfeitamente dentro do conceito das castas lusitanas, já retratadas neste espaço de expressão livre, num anterior artigo de opinião.

Na sociedade portuguesa há por aí muitos atrelados. Há homens e mulheres que, com rara habilidade, se atrelam a outras pessoas nas empresas, nos bancos, nas fundações, na economia, nas organizações sindicais, nos municípios, nos agrupamentos desportivos, nas instituições associativas, nas confissões religiosas, nos partidos, nos governos e no mundo da política em geral.

Quem não os conhece? Não sendo chefes, agem como se o fossem; não tendo poder próprio comportam-se como se o tivessem; não sendo ricos aparecem aperaltados por tudo o que cheire a jet-set. Por norma são falsos, vingativos, arrogantes, bajuladores, servis. Do ponto de vista ético são toda esta misturada de grelos que ninguém respeita mas que todos temem.

O atrelado procura andar sempre atrás de alguém que tenha nome, que tenha fama, que tenha dinheiro, que tenha poder; sem valor próprio, o atrelado é, por natureza, um ser obscuro, sebáceo, mesquinho, ganancioso, delator; indo com o chefe para todo o lado, é o parasita que nunca o larga; serve o chefe, mas para se servir dele; ataca impiedosamente quem lhe possa fazer sombra, vende-se para nunca perder as boas graças do chefe que adula.

O atrelado é, em geral, um ser menor. Sem grande carácter, de personalidade duvidosa e intelectualmente pouco dotado, o atrelado tem a vaga esperança de, um dia, ser ele o próprio chefe. Às vezes consegue sê-lo. Ou porque o seu chefe deixou naturalmente de o ser, ou porque o próprio chefe o promoveu, ou porque lhe foram criadas condições de incontornável apropriação do lugar que ficou vago.

Esta gente que abunda por aí, caída do céu aos trambolhões, é irritante e não presta. Não se suporta e são sobejamente conhecidos muitos dos seus figurantes. Essa gente está em todo o lado, nos Organismos Públicos como em prestigiadas Fundações da nossa sociedade. Os atrelados reconhecem-se, sem esforço, nas estruturas distritais dos principais partidos políticos de Portugal. Pairando, sobretudo, por estas bandas, conhecem-se de ginjeira e deveriam ser publicamente denunciados. Por pudor não o são, por ora.

quarta-feira, agosto 27, 2008

SENHORAS QUEQUE


Sabem o que é uma senhora queque? É aquela senhora jovem ou de meia-idade que, cultivando aparência sofisticada, é habitualmente pretensiosa, afectada, snobe. Exageradamente apegada a tudo o que é moda, uma senhora queque julga-se superior nas opções, nas ideias, nos gostos e nos comportamentos em relação àqueles que ela pensa não terem dinheiro, posição ou prestígio social. Uma senhora queque é uma senhora excêntrica, enfatuada, arrogante e presumida. Uma senhora queque, geralmente pouco inteligente, é sonsa, tem dinheiro ou, na maior parte das vezes não o tendo, quer fazer crer que o tem. Frívola, arrogante, néscia, uma senhora queque gosta de parecer aquilo que não é, exibe-se com extravagância, gasta sem regra o que tem e o que não tem.

No nosso País há por aí senhoras queque aos montes. Estão em toda a parte: no carro, no cabeleireiro, no supermercado, na farmácia, no restaurante, na praia, na piscina, no avião, no hotel, no casino, no jet-set, nos convívios sociais. Sem respeito pelos outros, e julgando-se com prioridade sobre tudo e sobre todos, vêem-se facilmente na forma prepotente como, na estrada, conduzem o seu automóvel. Gastando tempo de mais com o empregado que as atende, observam-se à vista desarmada nas farmácias a falar em alta voz para que todos a vejam. Coscuvilhando a vida de pessoas ausentes, nos cabeleireiros assumem-se sempre como modelo de virtudes, sem respeito pelas que, ao seu lado, não têm já paciência para os disparates que aquelas senhoras repetidamente produzem. Na praia passam o tempo a gritar pelos filhos, ralham, deitam lixo para a areia, permitem que os garotos aí joguem à bola, desprezam quem passa, atropelam quem tranquilamente faz questão de fruir dos benefícios de um banho de sol relaxante.

Uma senhora queque não aguarda pela sua vez nas filas de espera; ultrapassa-as, sempre que pode, nas caixas do supermercado, nas filas do check-in do aeroporto, na fila de espera de uma repartição pública, no check-out de uma unidade hoteleira. Uma senhora queque age como se tivesse sempre a primazia nos cruzamentos, raramente dá prioridade de passagem a quem a tem. Uma senhora queque estaciona o carro em qualquer sítio, onde calha, mesmo que isso implique estar em frente de uma garagem ou a impedir a mobilidade de um outro condutor. Uma senhora queque deixa sempre o carrinho das compras do supermercado abandonado na rua ou no passeio, à espera que outros o ponham no lugar que é o seu. Uma senhora queque nunca recolhe os dejectos que o seu cãozinho de estimação depositou no jardim, na rua, no passeio do prédio ou na própria entrada de um restaurante ou café.

As senhoras queque irritam pelo que são, pelo que não são e fingem ser, pelo atropelo sistemático das boas normas de cortesia, pela violação reprovável das regras de uma cidadania solidária. Como disse, as senhoras queque são frívolas, sonsas, dissimuladas, afectadas e, como diz o povo, burras incorrigíveis. Como não têm emenda temos que as aceitar como são, procurando com muita paciência saber conviver com elas.

terça-feira, agosto 26, 2008

ESPINHO, UMA CIDADE PARADA NO TEMPO


Se há no nosso País cidade que reúne condições excepcionais para nela se poder viver com conforto, com segurança e com qualidade de vida, essa cidade poderia ser a cidade de Espinho. Cidade marítima da região norte de Portugal, do distrito de Aveiro e do grande Porto, Espinho é sede de um pequeno município com 21,42 km quadrados de superfície e uma população de 30 649 habitantes, espalhados pelas freguesias de Anta, Espinho, Guetim, Paramos e Silvalde. Hoje naturalmente integrado na Grande Área Metropolitana do Porto (AMP), o município de Espinho é, por outro lado, limitado pelos municípios de Vila Nova de Gaia, a norte, de Santa Maria da Feira, a leste, de Ovar, a sul, e pelo Oceano Atlântico, a oeste.

Situada à beira mar, de praias atraentes, cidade plana, com área e população reduzida e ainda sem o tráfego e o caos urbanístico dos grandes centros, a cidade de Espinho não tem, infelizmente, e apesar das condições naturais descritas, a atmosfera, a beleza e a qualidade de vida que as populações do mundo de hoje exigem ao poder político constituído. Parada no tempo, Espinho é uma cidade morta, esteticamente desinteressante, desequilibrada, de ruas esburacadas, pouco asseada, com cimento a mais e zonas verdes a menos. Espinho está muito longe de ter o encanto de outras cidades marítimas do norte de Portugal que, sem perda da sua identidade, rapidamente souberam evoluir para padrões de elevada qualidade de vida, como é o caso das cidades de Gaia, Matosinhos, Vila do Conde, Póvoa do Varzim, Esposende e Viana do Castelo. Como é substancialmente diferente a dimensão de quem tem vindo a ter o governo daquelas cidades, comparada com a falta de nível e de visão política de quem tem estado à frente dos destinos da cidade e município de Espinho…

Tem, de facto, faltado a Espinho alguém com visão estratégica de médio e longo prazo. Espinho não tem tido, na última década, poder político capaz de fazer desta cidade a mais bela cidade litorânea do nosso País. Tem-lhe faltado alguém que, dotado de inegável qualidade intelectual, gostasse do belo pelo belo e apreciasse a qualidade de vida da população que ali reside e dos visitantes que a demandam; de alguém que lhe desse dimensão europeia e lhe emprestasse a classe que ainda não possui; de alguém que soubesse promover com afinco o asseio das casas que a povoam e assegurasse com firmeza o bom estado das ruas que a percorrem.

Infelizmente Espinho não tem ainda nem a atmosfera nem o nível de outras cidades congéneres; é objectivamente feia, esburacada, suja e, em certas zonas, incrivelmente poeirenta; Espinho é uma cidade parola, anafada, sem classe; Espinho é claramente o espelho do Presidente que a governa. Até quando? Esperemos que apenas até ao acto eleitoral de 2009. Têm a palavra os munícipes.

segunda-feira, agosto 25, 2008

BULGÁRIA, IMPRESSÕES DE UMA VISITA

Há anos que não gozava férias na praia. Fi-lo este ano, no início do presente mês de Agosto. A Bulgária foi o País escolhido, Sunny Beach, na costa do Mar Negro, o local onde permaneci pelo período de uma semana. Optei por esta zona balnear por ter ouvido boas referências das agências que consultei, por me ter sido dado boa nota por familiares que já lá tinham estado e por, nesta época de aperto económico, ser uma das zonas do mundo de mais fácil acesso à bolsa depauperada dos portugueses de uma classe média não muito exigente. Além disso não sairia da Europa e teria a possibilidade de constatar, in loco, o estado de desenvolvimento de um País que tinha recentemente aderido à União Europeia. Por comparação com o nosso País há sempre a curiosidade de se saber em que medida os países da Europa de leste se tem vindo a desenvolver no contexto de uma nova realidade que mal conheciam até há poucos anos. Sabe sempre bem comparar o estado em que estão com o estado de desenvolvimento económico em que está o nosso País.

Sunny Beach, situada a cerca de 30 quilómetros da cidade de Burgas, é a maior estância balnear da costa do Mar Negro, e um local privilegiado para quem quer fazer férias em família, a preço acessível, em praias de areia fina, com dias longos de sol e água do mar a temperaturas muito agradáveis. Com 8 quilómetros de praia espalhados pelo sudoeste da costa do Mar Negro, Sunny Beach oferece, de facto, condições excelentes para uma boa semana de férias passadas com a família, a preços acessíveis.

Quem estiver nesta estância de férias da República da Bulgária, além da praia, tem opções para todos os gostos. Casinos, restaurantes, supermercados, bazares, discotecas e bares com música ao vivo permanecem praticamente abertos 24 horas sobre 24 horas. Quem, além disso, for adepto de uma actividade desportiva pode facilmente fazê-lo com a prática da vela, do windsurf, do jet ski, do ténis, do mini golfe, do bowling, do ciclismo, dos passeios a cavalo ou até mesmo dos mergulhos em centros de mergulho adequados. Ainda não há golfe na zona, mas pensa-se que haverá a curto prazo.

Quem, além de tudo aquilo, estiver na disposição de querer saber alguma coisa mais acerca da Bulgária e do povo búlgaro pode deslocar-se a Varna e passar um dia em Nessbar. Visitando Varna ficará com uma ideia acerca do segundo maior centro económico e da terceira maior cidade do País, do que são, durante o percurso rodoviário, algumas das suas aldeias rurais e de como são alguns dos montes da famosa cordilheira dos Balcãs. Indo a Nessbar verá uma das mais antigas cidades da Europa, nascida no já longínquo século segundo antes de Cristo, desde 1956 património da humanidade e, hoje em dia, um local de visita obrigatória para quem está neste País da Europa oriental pelo exotismo das suas construções de madeira, pela grandiosidade arquitectónica das suas igrejas medievais, pela atmosfera agradável que ali se sente.

As actividades que acabo de descrever têm, no entanto, por detrás um serviço que está muito longe dos níveis de qualidade praticados pela maioria dos Estados que integram a actual União Europeia em particular e o mundo mais desenvolvido em geral. A prestação turística é ainda muito básica e de fraca qualidade, os hotéis apresentam enormes deficiências de funcionamento, a exploração do turista é uma constante bem visível, a comida é globalmente fraca, a ganância pelo dinheiro rápido grassa a olhos vistos, a corrupção é palavra corrente a todos os níveis da sociedade, especialmente dos serviços da administração pública. Nesta matéria, lá como cá…

Gostei de ter visitado este País da ex-cortina de ferro. País pobre, altamente dependente dos fundos estruturais da União Europeia, de pessoas simples e acolhedoras, a Bulgária está hoje para Portugal em termos de desenvolvimento socioeconómico como o nosso País estava para a França há trinta anos atrás. Ter ido a este País da União Europeia foi como regressar ao Portugal dos tempos do início da revolução de Abril. Foi esse o sentimento que tive. Só por isso passei a apreciar muito mais o meu País, só por isso passei a viver, pelo menos por uns tempos, muito menos deprimido
.

sexta-feira, agosto 22, 2008

VOOS CHARTERS


Já viajei muitas vezes nos chamados voos charters mas, confesso, nunca gostei muito deste meio aéreo de transporte. O único atractivo que apresenta é o baixo preço das suas tarifas, substancialmente muito mais reduzido do que o praticado pelas companhias de aviação de voos regulares. Se se não tiver em conta a questão da tarifa, os inconvenientes do charter são em muito maior número do que as vantagens que são oferecidas pelos aviões de carreiras regulares.

Há, entre estes dois modelos de transporte aéreo, uma decisão clara que tem de ser tomada: ou se escolhe apenas a tarifa mais barata, e o charter é claramente a escolha a fazer; ou se opta pelo conforto de um avião mais seguro, e a opção a tomar é o avião de preço mais elevado de uma companhia de voos regulares. Ou se opta, em suma, por pagar menos, e se tem a noção de que se vai viajar num avião que é, por norma, velho e inseguro; ou se escolhe a tarifa mais cara, e se tem a convicção de que se vai fazer um voo num avião mais moderno, mais confortável e, sobretudo, mais seguro.

Não tenho informação actualizada acerca do número de acidentes com os aviões charters e não sei se, em proporção, são em maior ou menor número do que os acidentes das outras companhias aéreas. Proporcionalmente o número de acidentes com aviões charters pode até ser menor, mas o que, por experiência própria, sei, é que uma viagem neste tipo de avião se transforma, de uma maneira geral, numa infindável fonte de problemas. Na partida, durante o voo, na chegada ao destino, no regresso ao aeroporto de origem. A confusão é sempre muita, os responsáveis do que não está bem dificilmente dão a cara, quando há problemas cada um desenrasca-se como pode.

Viajar num voo charter é, por sistema, viajar com desconforto; utilizar estes aviões é ter a certeza de que se vai voar apertado, com condições do tipo sardinha na canasta; escolher um voo charter é ter a noção de que o voo não vai cumprir os horários, é estar preparado para ter de ficar em terra, é estar psicologicamente predisposto para ter de passar noites deitado nos bancos do aeroporto, é ter a certeza de que o avião em que vai viajar tem mau aspecto, de que é velho e assustadoramente inseguro. Num avião charter a manutenção diária praticamente não existe e as operações de grande manutenção, por norma, são deficientes. Num charter, o pessoal de bordo aparenta ter pouca preparação e é normalmente mal-encarado. Num voo charter o snack praticamente não existe, a limpeza deixa muito a desejar, as condições de higiene a bordo são habitualmente más.

O acidente aéreo de Barajas do passado dia 20 de Julho foi aquele tipo de tragédia que é muito próprio de um avião charter. Os sinais que têm vindo a público por declarações de testemunhas de origem variada demonstram que as circunstâncias em que o acidente se deu configuram, infelizmente, isso mesmo. Confusão no check-in, atraso de voo, avião velho, descolagem abortada, manutenção local duvidosa, assistência técnica insuficiente, nova tentativa de descolagem, incêndio no motor, descontrolo do avião, desastre inevitável, dezenas de vidas humanas tragicamente trucidadas.

Teria este desastre acontecido com um voo regular? Penso que não. A segurança não tem preço, a vida vive-se apenas uma vez, perdida não se repete. Vistas as coisas assim, a opção por um ou outro modelo de transporte aéreo parece clara. Já fiz a minha.

quarta-feira, julho 30, 2008

SINAIS DE UMA POLÍTICA À PORTUGUESA


Quem tiver estado atento aos sinais que se têm vindo a passar nos últimos tempos no contexto da classe política de Portugal terá reparado que alguns deles estão já a reflectir agora o que tenderá a ser uma realidade amanhã. Dos muitos de que poderia falar, há dois que merecem, neste espaço, a minha especial atenção. Um diz respeito às Regiões Autónomas dos Açores e da Madeira; o outro tem a ver com a eleição do futuro Presidente da República.

Tenho como adquirido que Carlos César, nos Açores, e Alberto João Jardim, na Madeira, pensam seriamente na independência política das Regiões que governam. Mais o segundo do que o primeiro, mas no fundo ambos têm como objectivo estratégico final a formação, no concerto das nações, de dois novos Estados, livres, independentes, com hinos, bandeiras e as suas capitais políticas nas cidades de Ponta Delgada e do Funchal. Posso estar redondamente enganado, mas é isso que penso. A sua ligação secular a Portugal tem-se vindo a esvair, de ano para ano, a autonomia política dos Açores e da Madeira tem vindo a ter gradualmente ganhos políticos de causa e o nosso País funciona, cada vez mais, como alavanca financeira de uma independência política que tem vindo a ser subtilmente preparada. Portugal está para Ponta Delgada e o Funchal, como a União Europeia e Bruxelas estão para Lisboa e o Governo português: ambos representam dinheiro, ambos significam fundos estruturais de apoio. Mas com uma diferença: Portugal vai perdendo soberania, os Açores e a Madeira têm estado a consolidá-la.

O novo Estatuto da Região Autónoma dos Açores e as últimas intervenções públicas de Alberto João Jardim no comício do Chão da Lagoa são sinais claros do que se pretende. César vai fazendo o seu caminho, caminhando devagar; Jardim está a fazê-lo, caminhando mais depressa; o primeiro com muita serenidade, o segundo com actos e palavras de truculenta rebelião. A ver vamos, o tempo o dirá…

Sempre votei em Cavaco Silva, quer para Primeiro-ministro quer, recentemente, para Presidente da República. Fui sempre seu apoiante, admirei globalmente a obra que desenvolveu como Chefe dos três Governos que liderou durante dez anos, mas já não estou tão certo de que o aprecie com o mesmo grau de admiração como Presidente da República. Há, infelizmente, muitos sociais-democratas que comungam do mesmo sentimento de decepção. Isto não significa, porém, que nas eleições presidenciais de 2010 o não apoiemos de novo. Com convicção social-democrata vamos todos certamente apoiá-lo.

Não tenho a mesma certeza no que diz respeito a Sócrates e ao Partido Socialista. Melhor, tenho como adquirido que o candidato do Partido Socialista nas próximas eleições presidenciais nunca será Cavaco Silva, mas será Manuel Alegre. A assumida cooperação estratégica de Presidente e Primeiro-ministro só tem servido a Sócrates e ao seu Governo. De inócua utilidade prática para o País, aquela cooperação tem-se caracterizado por ser particularmente hostil para o PSD e a sua base social de apoio, e nada vai servir para que Cavaco Silva saia dela beneficiado no seu futuro processo de recandidatura.

Se dúvidas ainda pudessem subsistir no espírito de alguns de que o PS poderia apoiar Cavaco nas eleições presidenciais de 2010, declarações públicas recentes de altos dirigentes daquele Partido desvaneceram-nas definitivamente. Augusto Santos Silva, Carlos César e o Ministro Mariano Gago foram, pelas declarações públicas que proferiram, de uma hostilidade atroz à figura do Presidente da República. Cada um ao seu estilo, cada um no âmbito das responsabilidades políticas de que é detentor, estes reputados dirigentes do Partido Socialista declararam o fim da tão badalada cooperação estratégia. Está aberta a guerra do novo inquilino do Palácio de Belém, foi iniciada uma estratégia que vai permitir que José Sócrates e o Partido Socialista se afastem de Cavaco Silva e se preparem para a abertura de um caminho livre que vai desembocar inexoravelmente na candidatura de Manuel Alegre à Presidência da República no ano de 2010. A ver vamos, o tempo o dirá…
CONSEQUÊNCIAS DE UM PARECER INSÓLITO


Em face dos acontecimentos que ultimamente se passaram no contexto do futebol português, eis algumas notícias que, para gáudio de todos, poderão vir a público, a curto prazo, nos principais Órgãos de Comunicação Social do nosso País.

José Sócrates foi suspenso das funções de Primeiro-ministro, por deliberação da maioria dos Ministros presentes no último Conselho de Ministros. Tendo dado por finda a reunião sem que todos os temas agendados fossem objecto de análise e aprovação, houve um conjunto de Ministros que, discordando do encerramento, decidiram prosseguir com a ordem de trabalhos e deliberar sobre os temas que ainda não tinham sido decididos. Alegando que Sócrates não tinha legitimidade para proceder ao encerramento da reunião, os Ministros rebeldes decidiram suspendê-lo do cargo de Primeiro-ministro, substituíram-no por um outro em regime de interinidade e instauraram-lhe um processo disciplinar por conduta de má-fé.

Por se ter permitido encerrar os trabalhos da Assembleia da República antes de terem sido apreciados todos os assuntos constantes da Agenda de trabalhos do dia, Jaime Gama foi destituído do cargo de Presidente, tendo os deputados revoltosos decidido continuar com a ordem de trabalhos, sob a condução de um novo Presidente que, entretanto, elegeram em regime de substituição.

Os Juízes do Tribunal Constitucional, descontentes com o facto de o Presidente Rui Moura Ramos ter terminado a última reunião sem motivo que o justificasse, decidiram suspendê-lo do cargo, elegeram outro Presidente, continuaram com a reunião, deliberaram sobre ao temas que ainda não tinham sido objecto de julgamento, e também deliberaram mover ao Presidente suspenso o competente processo disciplinar por abuso de poder. Alegaram, para as decisões que tomaram, que Moura Ramos previu que iria ser derrotado nalguns dos temas objecto de deliberação. Moura Ramos, como simpatizante do maior partido da oposição, queria evitar perder na votação de temas de inegável importância política para a nova líder do PSD.

Por não concordar com o sentido de voto de um dos temas importantes da ordem de trabalhos do dia e, por isso, ter dado como encerrada a reunião em clima de grande tumulto, Rui Vilar acaba de ser demitido de Presidente da Fundação Calouste Gulbenkian pelos seus pares do Conselho de Administração. Os vogais rebelaram-se, continuaram com a reunião, elegeram novo Presidente, deliberaram sobre os temas ainda não apreciados e, para que constasse, redigiram acta dos trabalhos e decisões tomadas já na ausência do Presidente demitido.

Intuindo que uma proposta sua de elogio à política económica do Governo iria ser derrotada pelos membros do Conselho de Administração da Caixa Geral de Depósitos, Faria de Oliveira decide encerrar a última reunião daquele Órgão Social da Caixa sem que o tema fosse discutido e votado. Revoltados com a decisão, alguns dos Administradores presentes decidem continuar com a reunião, cooptam um novo Presidente, deliberam sobre todos os temas da agenda da reunião encerrada, suspendem Faria de Oliveira do cargo de Presidente do Conselho de Administração da Caixa Geral de Depósitos, movem-lhe um processo disciplinar por abuso de poder e lavram a Acta das deliberações tomadas.

O que acabo de descrever é, como já concluíram, um mero exercício de imaginação. É algo que não aconteceu; mas se porventura acontecesse, não haveria problema nenhum. Tudo seria facilmente legitimado por parecer de um qualquer especialista de direito administrativo. Foi assim com o recente parecer do Professor Freitas de Amaral que entendeu como correcto que o Conselho de Justiça da Federação Portuguesa de Futebol pudesse funcionar à margem do Presidente e Vice-presidente daquele Tribunal Desportivo, considerando válidas as decisões que cinco vogais em rebelião tomaram no contexto de uma reunião que tinha sido dada por terminada pelo legítimo Presidente. Depois disto, tudo pode acontecer no nosso País. Basta ser-se imaginativo, basta pedir-se ao Professor Freitas do Amaral o seu douto parecer. Ele sabe fazê-lo a contento da parte mais forte.

segunda-feira, julho 28, 2008

O PREC NO FUTEBOL PORTUGUÊS


Ingenuamente pensava que o processo revolucionário em curso estava, há muito, afastado do meu País. Infelizmente não está. Os sinais que se vão vendo pela área do futebol são uma prova clara de que o PREC está vivo, bem vivo. O comportamento dos membros que compõem a Comissão Disciplinar da Liga e o Conselho de Disciplina da Federação Portuguesa de Futebol revelam que o nosso País está de regresso aos tempos em que tudo valia para que objectivos que não eram conseguidos por via legítima o pudessem ser por processos enviesados, nem que para isso fosse necessário ter-se leis à medida, leis revolucionárias.

No futebol português já nem sempre contam os resultados que se obtêm no campo de jogo; contam, quando convém a alguns, mais influentes, os resultados que se conseguem obter por processos de secretaria. Na época de 2006/2007 foi o famigerado caso Mateus em que desceu de divisão quem tinha ganho no campo e ficou na primeira Liga quem deveria ter descido. Gil Vicente, com pontos ganhos em jogo jogado, foi para a Liga de Honra; Clube de Futebol Clube os Belenenses, condenado à despromoção, permaneceu injustamente na Primeira Liga na época de 2007/2008 que há pouco terminou.

Soube-se hoje que, para a época desportiva que brevemente vai ter início, uma situação idêntica se irá igualmente passar, tendo agora como protagonistas o Boavista Futebol Clube e o Futebol Clube de Paços de Ferreira. O primeiro acabou o campeonato em nono lugar com 36 pontos e foi condenado a descer para a Liga de Honra; o segundo, classificado em penúltimo lugar com apenas 25 pontos, é, por decisões de natureza burocrática, ilegitimamente repescado para o mais importante campeonato de futebol do nosso País. Tudo isto à revelia dos próprios tribunais da república que, com processos de contencioso em curso, nada decidiram ainda em relação ao Clube que, tendo claramente ganho em campo, ficara classificado em nono lugar no campeonato da Primeira Liga de 2007/2008. Incrível.

No meio de tudo isto o que dizer da Federação Portuguesa de Futebol e de Gilberto Madaíl? Fazendo de Pilatos pede um parecer sobre a legalidade ou ilegalidade de funcionamento do Conselho de Justiça da FPF, para daí poder tirar conforto de decisão futura. Escudado apenas num parecer, decidiu por razões de conveniência administrativa em vez de decidir por razões de natureza desportiva. Enviesou a natureza intrínseca do futebol, por "crimes" alegadamente cometidos quatro anos antes...

Por que não se escudou Gilberto Madaíl em dois pareceres mas apenas num? Por que razão entendeu como bom apenas o parecer de Freitas do Amaral e não o de outros eminentes juristas, de opinião diametralmente oposta ao distinto professor de direito? Não poderia o chamado interesse público ser invocado pelos resultados obtidos em campo pelo Boavista Futebol Clube e pelo respeito que é devido aos tribunais que ainda vão julgar os casos? Não serão pertinentes e de indesmentível interesse público as providências cautelares que os tribunais admitiram como boas e se encontram ainda em curso? O que moveu Gilberto Madaíl neste caso? Que interesses estão por detrás? E se os tribunais decidirem, no futuro, em contrário às decisões da Federação Portuguesa de Futebol? Como se repõe a justiça nesta caso? Como reparar os danos causados ao Boavista Futebol Clube?

terça-feira, julho 15, 2008

A DERROTA DE UM BANDO DE PESSOAS INÍQUAS


Desde que me conheço sou adepto do Futebol Clube do Porto e há mais de trinta anos seu sócio efectivo, com as quotas em dia e detentor de um lugar cativo no Estádio do Dragão. Nunca consegui saber por que razão me tornei, desde tenra idade, fã deste clube. Em casa falava-se, à época, muito do Benfica, o meu pai era seu adepto ferrenho e no núcleo familiar eu era a única pessoa que destoava, tornando-me adepto do FCP. Porquê? Não sei responder. É tanto de admirar este meu desvelo natural pelo clube azul e branco quanto o vencedor sistemático dos anos cinquenta, ou era o Sport Lisboa e Benfica ou era o Sporting Clube de Portugal. O Belenenses não passava, nesse tempo, de um epifenómeno, tal qual o Boavista dos anos 2000.

O Futebol Clube do Porto faz parte de mim próprio. É uma paixão ardente, é como que um prolongamento do que sou, na alegria e na tristeza, no sonho e na desilusão, na vitória e na derrota. Beliscá-lo é beliscar-me a mim próprio; diminuí-lo é diminuir-me também; atacá-lo é atacar-me de igual modo; vexá-lo é vexar-me.

Desde que se instalou o regime democrático em Portugal o Futebol Clube do Porto passou a ser, na área desportiva em que se insere, o símbolo, por excelência, da democracia portuguesa. Começou a ganhar no campo; com suor, com luta, com empenho, com o arreganho das gentes do norte. Por muito que isso custe ouvir ao Benfica e aos seus adeptos, este clube está para o regime de Salazar/Caetano como o Futebol Clube do Porto está para democracia que se estabeleceu em Portugal a partir dos anos setenta. Com a democracia deixou de haver vencedores institucionais; implantado e consolidado o regime democrático, o vencedor do campeonato português de futebol começou a ser aquele que, mais forte, ganhava claramente no campo de jogo. Em democracia, e sem a protecção de um regime iníquo que soçobrara, o Futebol Clube do Porto passou a ser o mais forte dos clubes portugueses. É-o ainda, e por muito que isso doa aos seus detractores, vai continuar a sê-lo por muitos e muitos anos. O tempo o dirá, como já o disse de há três décadas a esta parte.

O Futebol Clube do Porto é hoje uma marca. Uma marca do Porto cidade, uma marca do Porto região, uma marca do País. É assim hoje o meu clube. Audaz, empreendedor, organizado, competitivo, disciplinado, conquistador. Organizado e com homens de visão a liderá-lo, o Futebol Clube do Porto tem vindo a ter a melhor estratégia, possuiu quase sempre os melhores jogadores, foi sistematicamente o mais competitivo e, por isso, tem vindo a vencer com facilidade os seus adversários internos; audaz, conseguiu ultrapassar os limites do próprio País, com vitórias claras na Europa e conquistas inquestionáveis na esfera intercontinental.

O dia 15 de Julho de 2008 foi para o meu clube um dia memorável. Uma vez mais esmagador, o Futebol Clube do Porto conseguiu vencer também a batalha dos invejosos, a luta dos medíocres, a má fé de um bando de pessoas de raiva mal contida. O TAS (Tribunal Arbitraire du Sport), compreendendo o que se tramava contra o Futebol Clube do Porto, entendeu lucidamente fazer valer a verdade desportiva dos resultados obtidos em campo no campeonato português de 2007/2008. Como não poderia deixar de ser. Por muito que isso custe a Filipe Vieira, a Maria José Morgado, a Leonor Pinhão, a Ricardo Costa e ao inacreditável Conselho de Disciplina da Federação Portuguesa de Futebol. Terão aprendido a lição? Receio bem que não.

quinta-feira, junho 26, 2008

MALACA, REDUTO DE UMA PRESENÇA PERDIDA NO TEMPO


Depois de, nestas páginas, me referir à Malásia e ao orgulho de a ter visitado, mal parecia não tecer também algumas impressões acerca de Malaca, do que foi no passado, do que é hoje e do que representou para Portugal no contexto da gesta descobridora do século XVI.

MALACA é um dos estados mais pequenos do conjunto de estados e sultanatos que compõem o actual Estado da Malásia. Situado na parte meridional da Península Malaia e com uma população de 760 000 habitantes, Malaca já foi um sultanato durante séculos governado por um Sultão, mas hoje é um dos 4 estados que se encontram a ser politicamente administrados por um Governador oriundo de eleições livres. Integrante de uma Monarquia Constitucional, Malaca não sendo, como disse, nos tempos que correm, o reino de um só Sultão, é o Estado de um Governador eleito por períodos de quatros anos.

Principal ponto de passagem marítimo entre os oceanos Índico e Pacífico, polo estratégico de uma região onde se cruzavam actividades comerciais provenientes das regiões mais prósperas daquela parcela do mundo, Malaca foi sempre, desde tempos remotos, muito cobiçada por reis, sultões, militares e comerciantes. Fundada por Parameswara no ano de 1400, Malaca cedo se transformou num grande porto comercial e depressa passou a ser um dos pontos de referência de um Sultanato próspero, que se permitia dominar toda a região e atrair a si o grande comércio mundial da época. No auge da sua pujança económica Malaca era, na verdade, um sultanato poderoso que controlava todo o sul da Península Malaia, grande parte da Ilha de Sumatra e todo o comércio que, proveniente do oriente e do ocidente, cruzava obrigatoriamente aquele incontornável entreposto comercial do mundo de então.

Não foi surpresa, por isso, que Afonso de Albuquerque desde cedo se apercebesse da importância estratégica de Malaca e a conquistasse para o Reino de Portugal no dia 1 de Julho do ano de 1511, permanecendo portuguesa até 1641. A partir desta data, e até 1795, foi dominada pelos Holandeses que, por sua vez, a cederam pelo tratado Anglo-Neerlandês à Coroa Britânica em 1824. Parte territorial daquela Coroa, controlada e gerida pela Companhia Britânica das Índias Orientais, assim se manteve até à proclamação da Independência da Malásia em 1957, a cujo novo País começou definitivamente a fazer parte integrante.

As poucas horas que passei em Malaca deram facilmente para perceber, quinhentos anos depois da sua conquista por Diogo Lopes Sequeira e Afonso de Albuquerque, que houve portugueses que passaram por lá e que por lá permaneceram durante 130 anos. A primeira presença portuguesa ocorreu no dia 11 de Setembro de 1500 através do navegador Diogo Lopes Sequeira. A sua conquista efectiva para a Coroa portuguesa de D. Manuel I foi operada por Afonso de Albuquerque onze anos depois, exactamente no dia 1 de Julho de 1511.

São hoje claros os vestígios da presença portuguesa. Desde logo por haver quem ainda naquele local entenda o português; por ainda haver quem seja capaz de soletrar a nossa língua; por ainda haver quem utilize a culinária do nosso País; por ainda haver quem dedilhe a guitarra e cante o folclore de Portugal; por ainda haver quem comemore as festas dos santos populares; por ainda haver quem adopte nomes de origem portuguesa para os seus restaurantes, para as ruas da sua cidade, para os nomes e apelidos das pessoas que constituem a sua própria comunidade. Parece impossível mas tudo isso é ainda hoje verdade, várias dezenas de gerações depois da primeira presença de portugueses naquela região da Ásia oriental. Tudo isso eu vi, tudo isso eu senti quando lá estive há duas semanas atrás. Falei em português e fui compreendido; escrevi em português e fui percebido; corrigi frases mal escritas de um português com erros e as pessoas agradeceram. Foram duas horas de um diálogo intenso que emocionou, dum diálogo que nunca mais vou esquecer. Como vou recordar para sempre aquele malaio de tez escura, simpático, poliglota, amável, comovido e ainda com a esperança vaga de um dia poder ver com os seus próprios olhos o chão de uma pátria que remotamente o predestinou para ser agora um malaio de origem portuguesa!!! Se eu fosse um homem rico ter-lhe-ia proporcionado esse seu desejo comovedor….Que dirão a isto os políticos que hoje governam Portugal? Nada.
MALÁSIA, UMA AGRADÁVEL SURPRESA


Nunca imaginei que, aos olhos de um europeu distante da realidade asiática, a Malásia pudesse já ter o estado de desenvolvimento económico e social que me foi dado observar pessoalmente durante os quatro dias de férias que lá passei há duas semanas atrás. Apreciei as suas belezas naturais, impressionou-me a sua pujança económica, surpreendeu-me a sua organização política, agradou-me o convívio sadio das etnias que compõem aquele jovem Estado.

A Malásia é, desde 1957, uma monarquia constitucional composta por 13 estados, dos quais 9 são sultanatos regidos por um sultão, e 4 são territórios governados, durante 4 anos, por um governador saído de eleições democráticas. Se o poder do dia a dia está nas mãos de um Primeiro-ministro escolhido pelo povo em eleições livres, o verdadeiro símbolo da soberania malaia é essencialmente a figura do Rei. Dum Rei que, ao contrário do que é habitual nas monarquias tradicionais, não é um rei para toda a vida; dum rei que o é apenas pelo período de 5 anos, em sistema de rotação e depois de eleito dentre cada um dos sultões que reinam nos 9 sultanatos da Malásia. Se o Rei, o Primeiro-ministro, o Parlamento e os Tribunais representam, na Malásia, os poderes clássicos de uma qualquer monarquia constitucional ou de um Estado Republicano, o Rei e o Primeiro Ministro são, na prática, os que detêm maior visibilidade e o poder efectivo do dia a dia: o primeiro como símbolo nacional e internacional da própria soberania malaia, o segundo como símbolo do poder efectivo, daquele poder que, de facto, mexe com o País e bole com as populações.

A Malásia é, no concerto de uma economia global, um País rico. O turismo, os recursos naturais (a Malásia é o maior produtor mundial de estanho), os produtos agrícolas (primeiro produtor mundial de borracha e óleo de palma), os produtos manufacturados e especialmente o petróleo são a base de uma economia sólida que se tem vindo a sustentar nas relações comerciais que os diversos governos souberam desenvolver com perfeição com os Estados Unidos da América, a República Popular da China, o Japão e os chamados tigres asiáticos. A Malásia tem recursos próprios, cultiva-os, acrescenta-lhes valor e sabe vendê-los na perfeição ao mundo em geral e àqueles países em particular.

Kuala Lumpur, capital da Malásia, é uma cidade de dois milhões de habitantes que impressiona pelo bulício das suas actividades, pela sumptuosidade dos edifícios modernos que por ela se espalham, pela imponência das suas Torres Gémeas e da Torre Menara, pela grandiosidade dos seus monumentos, templos, mesquitas e palácios, pela grandiloquência dos seus arranha-céus, pelos sinais de uma economia que fervilha por toda a parte, pela tranquilidade afável das suas populações multiétnicas. Kuala Lumpur é uma grande metrópole do oriente asiático que se manifesta, desde logo para quem lá chega, pela imponência acolhedora do seu próprio aeroporto internacional.

Independentemente do que atrás se descreve, e que é do domínio comum, há outros aspectos peculiares de que não posso deixar de realçar um ou outro. É, por exemplo, o caso das três principais etnias que por lá coexistem pacificamente e é o caso três religiões que aí se praticam. A etnia malaia, a etnia chinesa e a etnia hindu constituem a base da população da actual Malásia numa relação aproximada de 60%, 30% e 10%, respectivamente, e em que a prática da religião se faz exactamente na mesma proporção de culto.

Se a religião oficial do Estado é uma religião islâmica de saudável tolerância, o budismo dos chineses ou o hinduísmo das populações indianos são também religiões que se praticam ao longo do Estado malaio sem nenhuma espécie de dificuldade. Mesquitas, templos budistas e templos hindus coexistem, por isso, lado a lado, sem nenhuma ponta de hostilização de quem os frequenta. Apesar de tudo quem for um fiel de Maomé tem outras possibilidades: o emprego é mais fácil e rápido dado que é obrigatório que todas as empresas empreguem, pelo menos, 30% do total de postos de trabalho. E se alguém não for muçulmano e quiser contrair matrimónio com uma pessoa muçulmana só o poderá fazer se se converter previamente à religião do profeta Maomé; se não o fizer fica legalmente impedido de se casar. É uma lei civil ainda fortemente coagida pelas imposições oficiais de um Corão que, apesar de tudo, é muito mais tolerante por aquelas bandas do que o é por outros países de cultura e religião igualmente islâmicos.

Gostei de ter ido à Malásia, gostei de ter convivido de perto com as suas populações, emocionei-me especialmente com o facto de em Malaca, passados que foram cinco séculos, ainda haver quem por ali compreenda o português. Por isso, hei-de lá voltar de novo.

terça-feira, junho 24, 2008

MACAU, A CIDADE DE LAS VEGAS DO ORIENTE


Nos últimos vinte anos visitei Macau por cinco vezes, tendo a última visita ocorrido há duas semanas. Que diferença, senhores, entre o que vi da primeira vez que lá estive na década de oitenta e o que agora vi na primeira década do século vinte e um. Não há comparação possível. De cada vez que lá ia, via diferenças. Desta vez as diferenças foram avassaladoras. Duma pequeno território que no início conheci, atrasado, burlesco e muito mal visto por turistas e chineses que o demandavam, passou-se para uma Região Administrativa Especial da República Popular da China, moderna, sumptuosa, rica, pujante de actividade, cosmopolita.

Sem se querer fazer aqui a sua história, a bem dizer poderemos hoje falar de Macau como território de administração portuguesa antes do Governador Carlos Melancia, de um território da eras Melancia e Rocha Vieira, e de uma Região Administrativa Especial de Edmundo Ho depois da sua integração, em 1999, na República Popular da China.

Independentemente de um clima de corrupção generalizado que por lá se viveu durante o consulado do Governador Carlos Melancia, e que fizeram as delícias dos jornais sensacionalistas da época, há que ser-se justo, reconhecendo que foi especialmente no tempo deste Governador que foram dados os passos decisivos para a transformação do que Macau é nesta primeira década do século vinte e um. Melancia foi frenético, teve uma ideia para este território, deu-lhe visão estratégica, concebeu-lhe os grandes projectos infra-estruturais, dotou-o dos primeiros casinos e preparou-o para poder ser um dos grandes pólos regionais e mundiais do jogo e do turismo. Se Carlos Melancia teve uma ideia e um projecto de desenvolvimento a longo prazo para Macau, o General Rocha Vieira foi capaz de o seguir, exprimindo com obras, com infra-estruturas e com desenvolvimento económico as ideias-mestras do seu antecessor. Sem a visão estratégica de Carlos Melancia e a gestão tranquila de Rocha Vieira dificilmente Macau teria tido condições para ser hoje uma espécie de LAS VEGAS do oriente asiático. O sentimento que tive quando visitei, há duas semanas, Macau e as ilhas de Taipa e Coloane foi, de facto, o de que estava num mundo novo, onde se respirava jogo e dinheiro por todos os lados. Hotéis e mais Hotéis, Casinos e mais Casinos, uns sumptuosamente funcionais, outros ainda em fase acelerada de construção.

Há duas ou três ideias-chave que passarei a recordar desta visita relâmpago a Macau. O Chinês e o Inglês são as línguas de comunicação corrente, e o português mal se fala, embora se veja ainda escrito nas ruas e nos monumentos de expressão portuguesa. Com uma população residente de pouco mais de quinhentas mil pessoas e uma média de trinta milhões de turistas que visitam esta Região por ano, Macau, tal como Hong Kong e Singapura, é hoje um dos grandes centros económicos do longínquo oriente da Ásia. Vive do jogo e para o jogo e, nesse domínio, pede meças à grande metrópole americana do jogo e dos casinos. Quem entra em Macau, pelas Portas do Cerco, pelo Aeroporto Internacional ou pelos barcos provenientes de Hong Kong, é gratuitamente conduzido por shuttle-buses para o seu Hotel-Casino para poder jogar. Cada Hotel é um casino, cada casino funciona ininterruptamente 24 horas por dia, e em cada casino há espectáculos, snack e bebidas gratuitas para que o jogador se mantenha a jogar o maior número de horas que for lhe possível.

Gostei de Macau, gostei de lá ter ido, apreciei a sua pujança económica, gostei das suas gentes, senti que, apesar de tudo, ainda há por lá um bocado de todos nós, um pedaço de Portugal. As Ruínas de S. Paulo, a gruta de Camões, a Fortaleza do Monte e o Farol da Guia são, dentre muitas outras, ilustrações reveladoras.

quinta-feira, junho 19, 2008

BYE-BYE, SENHOR FILIPE SCOLARI


Portugal perdeu o jogo com a Alemanha por 3-2 mas perdeu muito mal. Se foi mal batido nos três golos, o modo como sofreu o terceiro foi absolutamente inaceitável. O guarda-redes português ficou muito mal na fotografia, independentemente de o golo ser precedido de falta ou não. Houve, de facto, falta sobre Paulo Ferreira, mas Ricardo, na sua área de intervenção, tinha que controlar a bola antes de a mesma ser cabeceada com êxito pelo avançado alemão. Se Ricardo Ferreira já tinha tido responsabilidades na perda de um campeonato por parte do Sporting Clube de Portugal (não chegou à bola com as mãos onde Luisão “tropeçou” com cabeça…) também o seu desempenho como guarda-redes da selecção nacional ficará, para sempre, ligado às derrotas do meu País no EURO de 2004 e agora no de 2008. Excelente dentro da baliza foi sempre um desastre ao sair dela. Altamente protegido e apaparicado por Scolari e por uma certa imprensa de Lisboa, Ricardo Ferreira nunca foi o guarda-redes de que Portugal precisava. Nem ele, nem Petit, nem Nuno Gomes. O resultado é o que se vê, uma profunda desilusão.

Luís Filipe Scolari passou pelo futebol português sem glória. Quase que ganhava tudo mas acabou por não ganhar absolutamente nada. Para o que fez, qualquer treinador de qualidade média fazia o mesmo, a menor custo e sem dividir os portugueses. Ainda bem que se vai embora. O futuro dele à frente do Chelsea provará que não passa de um grande bluff.

Scolari nunca foi um seleccionador isento e, por vezes, fez dos portugueses uma gente menor. Não gostei que o símbolo do meu País tivesse sido por ele usado ao serviço dos seus intentos pessoais e sempre detestei a forma como tratou o melhor clube português dos últimos vinte anos. Ainda está por explicar a exclusão de Vítor Baía do EURO 2004 e nunca se entendeu a provocação que lhe foi feita, bem como ao Futebol Clube do Porto, de se ter permitido convocar o terceiro guarda-redes deste clube para os trabalhos da selecção no período de preparação para aquele torneio internacional.

Um seleccionador nacional nunca pode ter o comportamento que teve no fim do jogo com a Sérvia, revelando mau perder e “cumprimentando a soco” um dos atletas adversários. Um seleccionador nacional, em pleno campeonato da Europa de 2008, nunca deve vir a público com a notícia de que já tinha celebrado contrato com uma nova equipa de futebol. Ao tê-lo feito traiu a entidade patronal que lhe pagava, humilhou os portugueses e deu-se ao desplante de ser um mau exemplo para os próprios atletas que dirigia. Desde que fez esse anúncio, por coincidência ou não, Portugal nunca mais ganhou um jogo do Euro: perdeu com a Suíça e perdeu hoje com a selecção da Alemanha.

Scolari vai-se embora e ainda bem que vai. Não ganhou nada, não foi isento, dividiu os portugueses, teve comportamentos reprováveis e, em termos de carácter, deixou muito a desejar. Parte sem glória e não deixa saudades. Que seja muito feliz e que outros o queiram aturar…

sábado, maio 31, 2008

AGORA FAÇAM O FAVOR DE TER JUÍZO


O Partido Social-democrata tem, a partir de hoje, uma nova liderança. Manuela Ferreira Leite acaba de ser eleita Presidente do segundo maior partido português, sendo, dentro do PSD, a primeira mulher a desempenhar uma tal função. Conforme as previsões, ganhou democraticamente nas urnas contra Pedro Passos Coelho, Pedro Santana Lopes e Mário Patinha Antão. Não obteve uma maioria absoluta mas assiste-lhe a legitimidade de uma vitória clara que não foi posta em dúvida por nenhum dos candidatos derrotados, que, de resto, a felicitaram tão depressa foram conhecidos os resultados eleitorais. Todos tiveram fair play na hora da vitória e da derrota. Um bom sinal…

Ferreira Leite tem, a partir de agora, cinco tarefas fundamentais a levar a cabo, e pela seguinte ordem de prioridade: unir e credibilizar o Partido; unir os deputados e reorganizar a liderança do grupo parlamentar na Assembleia da República; seduzir os portugueses para as causas que defende; derrotar José Sócrates nas legislativas de 2009; formar Governo e traçar um novo rumo para Portugal. São, é certo, as habituais tarefas de um líder partidário que, na oposição, pretende ser Primeiro-ministro, mas que, no contexto da actual situação política portuguesa e mundial, se revelam de acrescida dificuldade de execução.

Depois de se terem ouvido as últimas declarações de azedume do Presidente demissionário e sendo do domínio público que o PSD se encontra, sob o controlo de caciques locais, incrivelmente organizado em maquiavélicos sindicatos de voto, não será tarefa fácil unir e credibilizar o partido; sabendo-se, como se sabe, qual é a composição do actual grupo parlamentar, eleito em condições de especial comprometimento com o ex-primeiro Ministro, é gigantesca a tarefa de unir os actuais deputados e mobilizá-los para um processo de luta contra José Sócrates e o Governo por si liderado; mais fácil parece a tarefa de sedução dos portugueses para as causas que defende, se conseguir demarcar-se, com clareza, das políticas e da forma como Sócrates tem vindo a lidar com a sociedade portuguesa; derrotar o actual Primeiro-ministro, formar Governo e traçar para Portugal um novo rumo de desenvolvimento económico e social, são tarefas possíveis que apenas dependem do sucesso que Manuela Ferreira Leite tiver, até ao próximo acto eleitoral de 2009, na concretização das tarefas anteriormente descritas.

Manuela Ferreira Leite tornou-se num mito dentro da família social-democrata. Íntegra, tranquila, de honestidade acima de qualquer suspeita, tecnicamente competente, dedicada ao Partido e ao bem-estar dos portugueses, esta prestigiada militante do Partido Social-democrata era, na embrulhada em que o PSD se tinha metido desde que Durão Barroso decidiu ir tratar dos seus interesses pessoais para Bruxelas, a referência salvadora. Uma vez eleita, tem o caminho aberto para demonstrar o que vale dentro do Partido, junto dos portugueses e nas legislativas de 2009. Se conseguir vencer José Sócrates no ano que vem, ficará na história como a heroína salvadora; se perder, esvair-se-á a auréola de que era detentora. Como a todos os que perderam.

Manuela Ferreira Leite é a primeira mulher portuguesa a presidir a um partido político de poder. Ninguém tem dúvidas de que quererá fazer o melhor pelo PSD e pelo País. Assim saibam estar com ela os que venceram e os que perderam no combate eleitoral que hoje terminou. Haja sensatez;que todos tenham juízo.

segunda-feira, maio 26, 2008

NÃO SE ILUDAM COM A ACTUAL SELECÇÃO NACIONAL


Não acredito na selecção portuguesa de futebol que Luís Filipe Scolari está a formar em Viseu para o campeonato da Europa que vai ter lugar no próximo mês de Junho, na Áustria e na Suíça. Há jogadores que estão lá e não deviam estar; há jogadores que não foram escolhidos e deviam tê-lo sido. Uma equipa que não tem um guarda-redes de categoria, que não tem um lateral esquerdo de classe e que não tem um ponta de lança de prestígio, dificilmente poderá ir longe. Só por um bambúrrio da sorte ganhará coisa que se veja.

Por outro lado incomoda-me aquilo que se vai passando pelo estágio. Por aquelas bandas parece haver mais passagem de modelos com honras diárias de televisão do que um estágio sério de preparação de uma equipa nacional que está prestes a entrar numa competição internacional de grande exigência. O que andaram por lá a fazer Roberto Leal e Tony Carreira? Aquilo parece tudo um lamentável forrobodó. Por onde tem andado o sargentão? Ou me engano muito ou este folguedo de honrarias e festanças vai pagar-se caro.

Que ninguém se iluda. Scolari nunca foi, no nosso País, um treinador capaz de, com os atletas que teve ao seu dispor, constituir uma equipa ganhadora. Com jogadores de qualidade, com vedetas de dimensão internacional, com atletas que tinham acabado de vencer competições europeias e mundiais, este seleccionador nunca conseguiu ganhar nada à frente da Selecção Nacional. Continua a ter ainda jogadores de elevada cotação internacional, dispõe mesmo do melhor jogador do mundo, mas não se vislumbra que Filipe Scolari esteja a construir uma equipa organizada, coerente, com fio de jogo e em que o conjunto se sobreponha sempre às altas individualidades.

Portugal, com as estrelas internacionais que possui, precisava de um treinador vencedor; precisava de alguém com a inteligência de José Mourinho ou a capacidade de organização de Otto Rehagel. Mourinho no Futebol Clube do Porto e no Chelsea, e Rehagel no comando da selecção da Grécia foram treinadores vencedores. Organizaram-se para as vitórias e, sem contestação, obtiveram-nas de forma brilhante. Scolari ainda não passou, em Portugal, de um treinador vulgar, de um treinador do quase que vence mas não vence. Quase que vencia o euro 2004 mas ficou-se pelo segundo lugar; quase que vencia o mundial de 2006 mas ficou-se pelo quarto lugar.

No contexto em que estão as coisas, e em que já não há nada a fazer, espero que Luís Filipe Scolari ganhe finalmente alguma coisa no comando da Selecção portuguesa. Tendo em conta os factos do passado recente não acredito, mas desejo sinceramente ser rebatido no próximo mês de Junho.

segunda-feira, maio 19, 2008

COMPETENTE MAS IRRITANTEMENTE INCAPAZ


Falar depois de se conhecer o resultado dum jogo de futebol é sempre muito fácil. Na vitória, o treinador foi competente, na derrota o treinador não prestou para nada. É o que este ano aconteceu com o professor Jesualdo Ferreira: foi competente por ter sido campeão nacional dois anos seguidos; acaba de ser considerado incapaz por ter sido derrotado na final da Taça de Portugal pelo Sporting Clube de Portugal.

Considero Jesualdo Ferreira um treinador vitorioso e com capacidade de organização para um campeonato de trinta jornadas; mas também o considero medíocre para um tipo de jogo em que esteja em causa a vitória num único jogo. São prova da sua capacidade os dois campeonatos seguidos na Primeira Liga de Portugal nos anos de 2006/2007 e 2007/2008; provam a sua incompetência para vencer finais ou jogos decisivos as duas derrotas com o SCP na última Taça Cândido de Oliveira e na final da Taça de Portugal da tarde de 18 de Maio de 2008. Contra factos não há argumentos.

É pena que o Professor Jesualdo Ferreira ainda não tenha percebido que o FCP nunca pode entrar numa competição para empatar ou ganhar à tangente. Sempre que isso aconteceu consigo o FCP perdeu. Perdeu com o Sporting por três vezes em ano e meio, foi fatalmente derrotado pelo Chelsea, Liverpool e Schalke 04 nas duas últimas edições da Champions League.

Jesualdo tem um medo enorme de perder um jogo. Isso tem sido notório sempre que o figurino da equipa passa do seu habitual modelo ofensivo para um modelo de nítida defesa de um resultado tangencial. Antes da final desta última edição da Taça de Portugal nunca me passou pela cabeça que Jesualdo viesse, uma vez mais, a incorrer nesse erro. Incorreu e perdeu de novo. Não se percebe que João Paulo tenha alinhado a defesa esquerdo, sendo um central; não se entende por que fica de fora da equipa o avançado Tarik Sektoui, substituído por um desengonçado Mariano González, de pendor mais claramente defensivo.

Só por ter medo de perder é que Jesualdo abandona o seu habitual esquema de jogo de 4-3-3, substituindo-o, sem razão, por um sistema defensivo de 4-2-2. Sem José Bosíngwa, com Tarik Sektoui inexplicavelmente no banco e com um sistema de jogo virado mais para a defesa do que para o ataque, o resultado só poderia ser o que foi nesta final do Estádio do Jamor. Tem sido sempre assim, provam-no os desaires acima referidos. Até quando, Senhor Professor? Espero que definitivamente tenha aprendido a lição. Os desafios da nova época desportiva assim o exigem, o Futebol Clube do Porto quer que o Senhor deixe de ser medroso. Veja lá se consegue...

terça-feira, maio 13, 2008

UM ESTÁDIO HELÉNICO


Nunca aceitei que a final da taça de Portugal tivesse sempre lugar no Estádio Nacional. Impressionou-me, por isso, muito mal que o actual Secretário de Estado do Desporto tivesse feito a apologia deste Estádio como palco de jogo do próximo dia 18 de Maio. Dizia aquele responsável político que também devemos viver de símbolos, de momentos mágicos, sendo que aquele Estádio é um dos símbolos de maior magia do nosso País. Mas a que raio de símbolo mágico se refere Laurentino Dias? Será este senhor um dos nostálgicos do regime político que, há décadas, fez daquele Estádio uma referência mor do poder que nos subjugou durante quarenta anos? É que nos tempos de hoje o Estádio Nacional, por muito helénico que lhe pareça, só me faz recordar Salazar, o centralismo político, administrativo e desportivo de Lisboa, bem como a obrigação quase patriótica de que o vencedor da Taça de Portugal devesse ser sempre um dos três clubes da capital.

No passado longínquo apenas teria justificação que uma final se pudesse realizar no Jamor se os contendores fossem da cidade de Lisboa. Não o sendo, a equidade desportiva esteve, na minha opinião, quase sempre em causa. Uma coisa é um clube de Lisboa jogar naquele estádio, outra, bem diferente, é um clube do norte, do sul, do Funchal ou até mesmo da cidade de Setúbal, ter que jogar naquele lugar. As circunstâncias da disputa são objectivamente diferentes e a verdade desportiva, pode, por isso, ficar á partida viciada.

Para o Benfica ou para o Sporting disputar uma final no Estádio do Jamor é, na prática, o mesmo que a disputar no Estádio da Luz ou no Estádio José de Alvalade, com todos os sócios e adeptos ali mesmo à mão de semear. Não é o mesmo para o Futebol Clube do Porto, para o Boavista, para o Braga, para o Marítimo ou para o Vitória de Setúbal. Para estes clubes disputar uma final em Oeiras é, na prática, o mesmo que a disputar no campo do adversário. Ou não será assim? Não estarão os sócios dos clubes que visitam Lisboa em condições económicas muito mais desfavoráveis? Não seria mais justo, mais democrático que o campo de jogo de uma final da Taça de Portugal ocorresse sistematicamente num local neutro e que acarretasse sacrifícios similares para os adeptos de ambas as equipas finalistas? Não será um disparate pegado realizar-se uma final no Jamor quando os adversários pertencem a outras cidades que não a cidade de Lisboa?

A disputa da final da Taça de Portugal do próximo dia 18 de Maio no Estádio Nacional vai ser uma luta em que as circunstâncias desportivas e económicas favorecem claramente o clube de Lisboa. O Sporting Clube de Portugal vai jogar a final ali ao lado do seu próprio Estádio, com os seus sócios, com mais adeptos, sem outros custos senão os que apenas vão decorrer da compra do bilhete de acesso ao jogo.

Muitos sócios e adeptos do actual campeão nacional gostariam de, ao vivo, assistir ao jogo do próximo Domingo. Não o vão poder fazer pela própria dificuldade da deslocação, por acharem desgastante fazerem 700 quilómetros num só dia e por não estarem disponíveis para as despesas que teriam forçosamente de resultar dessa mesma deslocação; iriam, certamente, se o jogo fosse realizado em Coimbra ou em Leiria, num estádio moderno, confortável e em condições de sacrifício económico exactamente iguais para os adeptos do Futebol Clube do Porto e do Sporting Clube de Portugal. Sendo o jogo no Estádio Nacional, infelizmente não vão.

Já agora por que é que a Selecção Portuguesa de Futebol não realiza os jogos internacionais no Estádio do Jamor?

quarta-feira, abril 23, 2008

FOI-SE MARCELO.VENHA JARDIM

Posta de parte a opção Marcelo, se se quiser ganhar as eleições legislativas de 2009 há, no leque das gradas figuras do PSD, um militante que, para além de Marcelo, é também capaz de, no terreno, o fazer com facilidade. Esse militante é Alberto João Jardim. Eu sei que a esquerda burguesa do nosso País e as elites instaladas do PSD não gostam do Presidente do Governo Regional da Madeira. Mas gostam os portugueses e a maioria dos militantes de base do Partido Social-democrata. Não acreditam? Perguntem-lhes, façam uma sondagem e vejam os resultados.

Jardim fez da Madeira uma espécie de Singapura da Europa e tem obra feita; é polémico quanto baste, não tem medo, é determinado, tem convicções, sabe lutar por causas, penetra com imensa facilidade no eleitorado anónimo, sabe o que quer e, se for eleito Presidente do PSD, terá certamente um projecto de mudança para Portugal. Experiência política não lhe falta.

Alberto João Jardim é um homem honesto, não se lhe conhecem cumplicidades ou ligações perigosas aos grandes barões da economia, é dos raros políticos que não enriqueceu com a política, não fez habilidades para obter rendimentos que não fossem os que provêm do exercício da sua própria actividade política, não inventou, como muitos outros, esquemas propiciadores de reformas que atentem contra a consciência colectiva dos Portugueses.

Gosto de pessoas como Alberto João Jardim; gosto de pessoas que não têm papas na língua para dizerem o que pensam, de pessoas que não temem as consequências daquilo que dizem, de pessoas que fazem das dificuldades uma oportunidade, de pessoas alegres que olham para o futuro com optimismo, de pessoas que lutam abnegadamente pelo povo, de homens que amem o seu País e que o sirvam acima de tudo.

Jardim não é dos que foge nas situações de “pântano”, não é dos que trai os eleitores que o elegeram a pretexto de uma qualquer posição de âmbito internacional. Jardim é um homem honrado, gosta da Madeira e ama os portugueses. Jardim é um homem de causas, passou a vida a lutar por elas, soube pô-las em prática na Região Autónoma da Madeira. É altura de também lutar por elas ao serviço do nosso País. Têm a palavra, para já os militantes do PSD, elegendo-o Presidente do Partido; em 2009 os portugueses, elegendo-o Primeiro-ministro de Portugal.

sábado, abril 19, 2008

QUEREM UM PRESIDENTE VENCEDOR? ESCOLHAM MARCELO


O Partido Social-democrata vive um momento particularmente difícil. Sem Presidente e sem liderança, sem ética, sem princípios, “sovietizado” na militância e funcionalizado nas estruturas, o PSD bateu no fundo. Atravessa, talvez, o período mais negro da sua história. Sem valores que o orientem, sem rumo que o encaminhe e sem liderança que o mobilize, muita gente, de dentro e de fora, se pergunta se este Partido serve hoje para alguma coisa, ou se não estará já no limiar de uma mais que provável extinção.

O Partido Social-democrata não morre. Sofre de doença grave, está mergulhado em crise profunda, mas não morre. A crise que o assola não é mais do que uma das crises por que passam os partidos de poder, sempre que vivam longos períodos de oposição. Já se puseram questões do mesmo género ao Partido Socialista quando o PSD governou Portugal, está a acontecer hoje, de novo, o mesmo ao Partido Social-democrata. Os Partidos de Governo são mesmo assim: fortes enquanto detêm o poder, ansiosamente enfraquecidos quando se encontram na oposição. A ausência prolongada dos corredores do poder gera sempre este tipo de crises; passam com o tempo, vão e vêem na relação directa do poder que se tem e do poder que se perdeu. É sempre assim em democracia, e ainda bem. As crises de oposição são como que crises regeneradoras dos próprios regimes democráticos, que se requerem consistentes e saudáveis. Em ditadura nunca há crises assim.

No cômputo dos partidos que existem em Portugal, o PSD é aquele que mais genuinamente reflecte a idiossincrasia dos portugueses. Nasceu português, não precisou de nenhuma muleta internacional para se afirmar, dispensou-se de padrinhos ideológicos para se expandir. O Partido Social-democrata cresceu, tornou-se adulto, ganhou eleições e governou Portugal. Teve crises, ainda está em crise, mas a liderança que aí vem pode tirar o PSD da crise. Assim queiram os seus militantes.

A eleição do próximo Presidente do PSD pode representar o início de um novo ciclo de poder. Pode, se o Presidente for alguém conhecido dos portugueses; pode, se o Presidente eleito for uma pessoa de bem, culta, honrada, com experiência de vida, madura, solidária; pode, se o novo Presidente for uma pessoa credível aos olhos dos portugueses, se não tiver telhados de vidro e se, claramente, demonstrar que não precisa da política para dela se servir ou enriquecer; pode, se o líder a eleger fizer do exercício da política um acto generoso de serviço público para com o País; pode, se tiver uma visão que mobilize os portugueses e um desígnio que engrandeça Portugal.

Sem desprimor por nenhum dos candidatos que decida apresentar-se ao acto eleitoral do próximo dia 24 de Maio, Marcelo Rebelo de Sousa é, na minha opinião, o que reúne melhores condições de ser o Presidente de que PSD precisa para o momento que atravessa. Com Marcelo é possível readquirir-se a credibilidade perdida e regenerar-se o partido por dentro; com Marcelo é possível ter-se uma liderança forte, credível, consistente, determinada. No actual contexto do País, em crise social e económica profunda, e com os índices de popularidade de Sócrates em baixa acelerada, o Professor Marcelo Rebelo de Sousa é, praticamente, a única personalidade do Partido Social-democrata que tem condições de ir a votos e ganhar as Legislativas de 2009. Não vejo outros, por muito estimáveis que sejam. De que estão à espera os militantes do PSD? Não querem regressar ao poder em 2009?

quinta-feira, abril 10, 2008

O PRINCÍPIO DE PETER


Muitas vezes me tenho perguntado sobre se o actual Presidente do Partido Social-democrata reúne condições para ganhar as eleições legislativas de 2009. Quanto mais me pergunto mais dúvidas tenho e não há meio de me libertar definitivamente delas. Para ser sincero já não acredito muito na capacidade política de Meneses para, como líder do PSD, vencer as eleições do ano que vem e formar um Governo alternativo ao do Primeiro-ministro José Sócrates.

Transcorridos que foram alguns meses desde que foi directamente eleito pelas bases do PSD, o que fez Meneses de relevante até hoje? Que estratégica de Governo já apresentou aos portugueses para que comecem a surgir os primeiros sinais de uma viragem política para o acto eleitoral de 2009? Que visão tem para o País, quais as grandes linhas de governo por que pautará a acção governativa no caso de vir a ser Primeiro-ministro? Pensa governar Portugal com elites e as bases do PSD, ou apenas com as bases que o elegeram? Se com ambas, que novas elites independentes e do PSD estão disponíveis para, em conjunto, trabalharem no processo de mudança política do País? Estará Luís Filipe Meneses rodeado das pessoas mais indicadas? Em consciência sentir-se-á Meneses habilitado para o cargo Primeiro-ministro de Portugal? Estará a pessoa do Presidente do PSD de bem consigo mesmo, consciente de que a sua vida será, mais cedo ou mais tarde, rebuscada de alto a baixo, à semelhança do que tem acontecido com Sócrates e todas as figuras públicas do nosso País? Estará Filipe Meneses emocionalmente preparado para combates de carácter, do tipo daqueles que, sem êxito, tanto assolaram Francisco Sá Carneiro?

Filipe Meneses tem, inegavelmente, qualidades pessoais, é um homem culto, teve e exerceu uma profissão de evidente relevo social antes de se dedicar a tempo inteiro à actividade política, tem sido um homem determinado relativamente aos projectos a que dedicou boa parte da sua vida, venceu quase sempre as lutas em que se envolveu e tem, sobretudo, uma obra notável à frente da Câmara Municipal de Vila Nova de Gaia. Filipe Meneses tem tudo isso e tem também uma assinalável experiência política como governante, como deputado, como dirigente partidário e como Presidente de uma das maiores autarquias de Portugal. Apesar de tudo isso, e a avaliar pelas sondagens que têm vindo a público, não há meio de Meneses convencer o País de que é melhor do que José Sócrates, e de que pode formar um Governo de qualidade superior ao Governo do actual Primeiro-ministro. Porquê? Terá já Filipe Meneses pensado nas razões que fazem com que os portugueses não tenham vindo a aderir à sua causa?

São muitas as causas que poderão estar na base dos baixos índices de popularidade de Filipe Meneses. O povo gosta, com efeito, de líderes consistentes, determinados, que se orientem, na política como na vida privada, por objectivos claros em cuja concretização todos acreditem. Ora Meneses não tem sabido ser um líder forte, a sua liderança tem vindo a ser uma liderança frágil de duas pessoas; o povo aprecia um líder que seja capaz de dinamizar multidões, decidido, com visão estratégica, com autoridade mas sem ser autoritário. Meneses não tem sabido ser suficientemente mobilizador, ainda não apresentou uma ideia que estimulasse o País, tem-se visto confrangedoramente perdido ao sabor dos acontecimentos, e inutilmente entretido com as quotas, os símbolos, as cores e as setas do seu Partido, de interesse nulo para um povo que anseia por coisas de uma dimensão diferente; o povo quer para Primeiro-ministro uma pessoa de indiscutível estatuto, coerente de princípios, sólida de carácter, impoluta de comportamento. Nesta matéria Meneses terá que, muito claramente, dizer aos portugueses o que tem sido a sua vida, se enriqueceu com o exercício da política, se é coerente entre o que diz e o que faz, se tem uma visão política global para o desenvolvimento do País, e qual. O povo precisa de saber, de uma vez por todas, se o candidato do PSD é uma espécie de segunda versão falhada de Sócrates ou de Santana Lopes, ou se é uma edição moderna de Francisco Sá Carneiro ou de Aníbal Cavaco Silva. Compete a Meneses dizê-lo.

Será que por causa de uma candidatura de êxito duvidoso a Primeiro-ministro de Portugal se vai perder para sempre um autarca de obra feita? Que dirão os munícipes de Vila Nova de Gaia?

terça-feira, abril 08, 2008

PONTO DE PARTIDA.PONTO DE CHEGADA


Gosto dos Estados Unidos da América. Não aprecio especialmente o actual Presidente mas sou um dos que muito admira o povo americano e, de um modo geral, a maioria dos seus políticos. Por muitos defeitos que por lá haja, por muito acentuadas que ali sejam as diferenças sociais, aquele imenso País é um País onde vale a pena viver. Quem for capaz de ser diferente, quem tiver sonhos, quem for competente para, por si só, vencer na vida, quem se sentir habilitado para construir o seu próprio futuro, encontrará nos Estados Unidos o local apropriado para a concretização dos projectos que idealizou. A capacidade criativa do povo americano, a sua organização, a facilidade com que cada cidadão é capaz de criar o seu próprio trabalho e daí partir para a construção de um imenso império empresarial, é algo que está intrinsecamente metido na raiz de um povo de que não vejo paralelo no mundo.

Nos Estados Unidos ninguém está, por sistema, à espera de que o Estado protector cuide de nós, nos arranje um emprego ou resolva os problemas individuais que a cada um urge resolver; nos Estados Unidos o Estado é que espera tudo do cidadão. País supremo das liberdades individuais, País modelo da forma como funciona a democracia, País de oportunidades para quem for capaz de as aproveitar ou construir, ali não se passa a vida a dizer mal de tudo, ali não há tempo para se ter inveja do vizinho que progride, ali só há tempo para que cada um procure construir o futuro por que anseia; ali ninguém perde tempo à espera que o destino lhe traga o conforto que deseja, ali a felicidade é um dever que compete a cada um procurar, ali o bem-estar social não é um direito que se reivindique gratuitamente ao Estado, ali o bem-estar de cada um conquista-se com o trabalho de cada dia, de todos os dias.

Gosto, como disse, dos Estados Unidos da América, do seu povo e da forma como constrói a sua vida e a vida de todos os americanos; aprecio especialmente o modo como este povo invulgar gosta do País e o defende na paz e na guerra, no êxito e na adversidade; admiro as suas liberdades individuais, a sua capacidade de iniciativa, a luta por uma vida melhor, a maneira como interpreta a democracia, a forma competitiva como enriquece, a forma como torna desenvolvido o País que é o seu e de que empenhadamente se orgulha.

Nos Estados Unidos já se é rico quando se chega à política, e a política não é o meio de se ser rico. Nos Estados Unidos o exercício de um cargo político é sempre um ponto de chegada, nunca, por sistema, um ponto de partida; ser-se político é, nos Estados Unidos, um tempo de nobre dedicação à causa pública, à causa de todos os americanos.

E em Portugal? Como é entendida no nosso País a política? Ao contrário dos Estados Unidos da América, em Portugal a política raramente é um ponto de chegada; aqui a política é instrumental, é quase sempre um ponto de partida, é, sobretudo, um modo de vida ao serviço de quem a exerce, é uma profissão como outra qualquer, é um meio habilidoso de depressa se ser notável e notado, é uma forma rápida de se ser rico, de se obter riqueza ou de, sem decoro, se conseguir, antes da idade da maioria dos portugueses, uma reforma dourada para todo o resto de vida. Em Portugal não há ética na política. Nos EUA há ética e há princípios.

domingo, março 23, 2008

SIMPLEX DE COMPLICAÇÃO E BUROCRACIA

“O Programa Simplex – Programa de Simplificação Administrativa e Legislativa” é um programa desenhado para simplificar a vida dos cidadãos e das empresas. Tem como objectivo melhorar a qualidade de vida dos cidadãos e as condições de laboração das empresas e ajudar a promover o desenvolvimento e o crescimento económico do País, reduzindo a carga burocrática imposta aos utentes dos serviços públicos”. O texto que acabo de citar foi retirado do portal que o Governo pôs à disposição dos portugueses no âmbito do tão apregoado programa SIMPLEX.

A “ADSE – Direcção-Geral de Protecção Social aos Funcionários e Agentes da Administração Pública” é, por sua vez, um dos muitos serviços públicos que, em conformidade com aquele programa, já deveria ter sido objecto da sua intervenção. Não sei se foi ou não foi. O que sei é que a ADSE em dois casos concretos, de grande simplicidade, não funcionou bem, foi lenta, ostracizou direitos e esteve-se absolutamente nas tintas para com um dos utentes que, pela primeira vez em trinta e seis anos de contribuições atempadamente pagas, precisou dos seus serviços. Em dois casos praticamente iguais a ADSE teve um comportamento miserável, tal foi a desconsideração que patenteou para com o utente-funcionário que se lhe dirigiu.

Os casos podem resumir-se na carta, tipo chapa cinco, que aquela Direcção-Geral, há uma semana, acabou de dirigir ao funcionário-requerente. Eis o texto: “Junto devolvo a V. Ex.ª o (s) documento (s) apresentado (s) em virtude de o processamento e a atribuição da comparticipação nos mesmos ser da responsabilidade do Organismo Autónomo/Autarquia/Região Autónoma a que a inscrição de V. Ex.ª se encontra associada e onde os documentos que ora se devolvem deverão ser entregues para esse efeito”.

Os documentos hospitalares que acompanhavam a carta, cujo assunto dizia respeito ao reembolso legal das despesas de uma intervenção cirúrgica numa clínica privada, demoraram quase três meses (!!!) a ser devolvidos ao interessado. Espantosamente documentos de despesa de uma outra intervenção cirúrgica ocorrida no mês de Outubro de 2007 ainda nem sequer foram devolvidos (!!!). O beneficiário pagou tudo do seu bolso e não bufou; o reembolso legal das despesas virá quando tiver que vir, quando os burocratas socialistas da ADSE assim o entenderem. Que vergonha, que irresponsabilidade a destes senhores!!!

Os casos que acabo de relatar são reais e ocorreram dentro de um Organismo do Estado que o Governo presume funcionar bem. A ADSE já foi um modelo de bom funcionamento no passado; mas, a avaliar pela experiência descrita, não funciona agora bem. Maior do que a indignação do utente é a indiferença dos responsáveis da ADSE que subscreveram a carta referida. A propaganda que, repetidamente, tem sido feita à volta do SIMPLEX não passa disso mesmo: de propaganda para eleitor desprevenido engolir. O que aconteceu com este cidadão na ADSE vai, infelizmente, acontecendo pelo País fora em quase todos os Organismos do Estado. A carga burocrática que impende sobre os portugueses é hoje mais pesada e a qualidade de vida dos cidadãos está bem pior do que era antes de Sócrates. Isto não obstante os objectivos do SIMPLEX; isto apesar da propaganda obscena do Primeiro-ministro e do seu Governo…

quarta-feira, março 19, 2008


BALANÇO DISSIMULADO

Estive atento às declarações públicas do Primeiro-ministro e de outros membros do seu Governo acerca do balanço de três anos de actividade governativa. Estive atento e confesso que fiquei indignado. Elogio em causa própria é vitupério. Quem ouviu José Sócrates a perorar sobre o que passou no País de 2005 para cá, se não soubesse o que se passa em Portugal, ficaria com a ideia errada de que tudo tem estado no melhor dos mundos, e não está. “O Governo tem vindo a governar tão bem que nada se justifica falar do que está mal”, dizia, soberbo, o Ministro Silva Pereira.

Este Primeiro-ministro, habitualmente alheado dos problemas reais, não sabe o que se passa com a maioria dos portugueses. Sabe de alguns que docilmente privilegia, mas ignora as dificuldades com que se depara a maioria. Que o digam os seiscentos mil desempregados, os dois milhões de pobres, os reformados do regime geral da segurança social, os aposentados da Caixa Geral de Aposentações, os doentes, os idosos, os licenciados à procura do primeiro emprego, os militares, os professores, os funcionários públicos, os juízes, os magistrados, os médicos, os enfermeiros, os portugueses da classe média. Não há grupo profissional da sociedade portuguesa que esteja satisfeita com a política deste Governo. Todos detestam o Primeiro-ministro que têm; consideram-no fingido, banal, vaidoso, arrogante, mentiroso, altivo para com os fracos, afectuoso para com os poderosos.

Apesar de tudo há portugueses que o admiram, o elogiam e o desejam como Primeiro-ministro por muito mais tempo, se possível por mais um mandato de quatro anos. São os portugueses que dominam os grandes grupos económicos e os portugueses que fazem parte de um pequeno mundo de privilegiados. Esta gente nunca esteve, de facto, tão bem na vida como tem vindo a estar com este Primeiro-ministro e os Ministros que Sócrates amansou. Esta gente está bem e tem a garantia de que vai continuar a estar bem. Que o digam os gestores dos Institutos e Empresas de capitais públicos; que o digam o actual Governador, administradores, dirigentes e ex-gestores reformados do Banco de Portugal, do Grupo Caixa Geral de Depósitos, do Grupo PT, da RTP, da CP, da REFER, da EDP, da PT, das ÁGUAS DE PORTUGAL, da TAP… Esta gente sim, esta gente gosta deste Governo, admira e defende este modelo de Primeiro-ministro.

Mas atenção que o País não é aquela minoria de privilegiados. O País real é o outro, o que está pobre, desempregado, desiludido, indignado; o que silenciosamente sofre, o que já não tem dinheiro para comer, o que tem medo de sair à rua, o que receia dizer publicamente o que pensa, o que, resignado, já não vislumbra grandes perspectivas de vida à sua frente.

Perante tudo isto o que fazem os partidos da oposição? O que é que o PSD tem a dizer aos portugueses? Que políticas alternativas apresenta, para que surjam sinais claros de que se prefere Luís Filipe Meneses para Primeiro-ministro de Portugal? De que está à espera, Senhor Presidente do Partido Social-democrata? Deixe-se de quotas e do símbolo do PSD, e apresente-se com ideias novas e uma estratégia de governo que convença, em definitivo, os portugueses. Olhe que o País ainda não assimilou que o senhor pode vir a ser o seu Primeiro-ministro…!!! Começa a ser tempo de o convencer, amanhã já é tarde…