quarta-feira, agosto 27, 2008

SENHORAS QUEQUE


Sabem o que é uma senhora queque? É aquela senhora jovem ou de meia-idade que, cultivando aparência sofisticada, é habitualmente pretensiosa, afectada, snobe. Exageradamente apegada a tudo o que é moda, uma senhora queque julga-se superior nas opções, nas ideias, nos gostos e nos comportamentos em relação àqueles que ela pensa não terem dinheiro, posição ou prestígio social. Uma senhora queque é uma senhora excêntrica, enfatuada, arrogante e presumida. Uma senhora queque, geralmente pouco inteligente, é sonsa, tem dinheiro ou, na maior parte das vezes não o tendo, quer fazer crer que o tem. Frívola, arrogante, néscia, uma senhora queque gosta de parecer aquilo que não é, exibe-se com extravagância, gasta sem regra o que tem e o que não tem.

No nosso País há por aí senhoras queque aos montes. Estão em toda a parte: no carro, no cabeleireiro, no supermercado, na farmácia, no restaurante, na praia, na piscina, no avião, no hotel, no casino, no jet-set, nos convívios sociais. Sem respeito pelos outros, e julgando-se com prioridade sobre tudo e sobre todos, vêem-se facilmente na forma prepotente como, na estrada, conduzem o seu automóvel. Gastando tempo de mais com o empregado que as atende, observam-se à vista desarmada nas farmácias a falar em alta voz para que todos a vejam. Coscuvilhando a vida de pessoas ausentes, nos cabeleireiros assumem-se sempre como modelo de virtudes, sem respeito pelas que, ao seu lado, não têm já paciência para os disparates que aquelas senhoras repetidamente produzem. Na praia passam o tempo a gritar pelos filhos, ralham, deitam lixo para a areia, permitem que os garotos aí joguem à bola, desprezam quem passa, atropelam quem tranquilamente faz questão de fruir dos benefícios de um banho de sol relaxante.

Uma senhora queque não aguarda pela sua vez nas filas de espera; ultrapassa-as, sempre que pode, nas caixas do supermercado, nas filas do check-in do aeroporto, na fila de espera de uma repartição pública, no check-out de uma unidade hoteleira. Uma senhora queque age como se tivesse sempre a primazia nos cruzamentos, raramente dá prioridade de passagem a quem a tem. Uma senhora queque estaciona o carro em qualquer sítio, onde calha, mesmo que isso implique estar em frente de uma garagem ou a impedir a mobilidade de um outro condutor. Uma senhora queque deixa sempre o carrinho das compras do supermercado abandonado na rua ou no passeio, à espera que outros o ponham no lugar que é o seu. Uma senhora queque nunca recolhe os dejectos que o seu cãozinho de estimação depositou no jardim, na rua, no passeio do prédio ou na própria entrada de um restaurante ou café.

As senhoras queque irritam pelo que são, pelo que não são e fingem ser, pelo atropelo sistemático das boas normas de cortesia, pela violação reprovável das regras de uma cidadania solidária. Como disse, as senhoras queque são frívolas, sonsas, dissimuladas, afectadas e, como diz o povo, burras incorrigíveis. Como não têm emenda temos que as aceitar como são, procurando com muita paciência saber conviver com elas.

terça-feira, agosto 26, 2008

ESPINHO, UMA CIDADE PARADA NO TEMPO


Se há no nosso País cidade que reúne condições excepcionais para nela se poder viver com conforto, com segurança e com qualidade de vida, essa cidade poderia ser a cidade de Espinho. Cidade marítima da região norte de Portugal, do distrito de Aveiro e do grande Porto, Espinho é sede de um pequeno município com 21,42 km quadrados de superfície e uma população de 30 649 habitantes, espalhados pelas freguesias de Anta, Espinho, Guetim, Paramos e Silvalde. Hoje naturalmente integrado na Grande Área Metropolitana do Porto (AMP), o município de Espinho é, por outro lado, limitado pelos municípios de Vila Nova de Gaia, a norte, de Santa Maria da Feira, a leste, de Ovar, a sul, e pelo Oceano Atlântico, a oeste.

Situada à beira mar, de praias atraentes, cidade plana, com área e população reduzida e ainda sem o tráfego e o caos urbanístico dos grandes centros, a cidade de Espinho não tem, infelizmente, e apesar das condições naturais descritas, a atmosfera, a beleza e a qualidade de vida que as populações do mundo de hoje exigem ao poder político constituído. Parada no tempo, Espinho é uma cidade morta, esteticamente desinteressante, desequilibrada, de ruas esburacadas, pouco asseada, com cimento a mais e zonas verdes a menos. Espinho está muito longe de ter o encanto de outras cidades marítimas do norte de Portugal que, sem perda da sua identidade, rapidamente souberam evoluir para padrões de elevada qualidade de vida, como é o caso das cidades de Gaia, Matosinhos, Vila do Conde, Póvoa do Varzim, Esposende e Viana do Castelo. Como é substancialmente diferente a dimensão de quem tem vindo a ter o governo daquelas cidades, comparada com a falta de nível e de visão política de quem tem estado à frente dos destinos da cidade e município de Espinho…

Tem, de facto, faltado a Espinho alguém com visão estratégica de médio e longo prazo. Espinho não tem tido, na última década, poder político capaz de fazer desta cidade a mais bela cidade litorânea do nosso País. Tem-lhe faltado alguém que, dotado de inegável qualidade intelectual, gostasse do belo pelo belo e apreciasse a qualidade de vida da população que ali reside e dos visitantes que a demandam; de alguém que lhe desse dimensão europeia e lhe emprestasse a classe que ainda não possui; de alguém que soubesse promover com afinco o asseio das casas que a povoam e assegurasse com firmeza o bom estado das ruas que a percorrem.

Infelizmente Espinho não tem ainda nem a atmosfera nem o nível de outras cidades congéneres; é objectivamente feia, esburacada, suja e, em certas zonas, incrivelmente poeirenta; Espinho é uma cidade parola, anafada, sem classe; Espinho é claramente o espelho do Presidente que a governa. Até quando? Esperemos que apenas até ao acto eleitoral de 2009. Têm a palavra os munícipes.

segunda-feira, agosto 25, 2008

BULGÁRIA, IMPRESSÕES DE UMA VISITA

Há anos que não gozava férias na praia. Fi-lo este ano, no início do presente mês de Agosto. A Bulgária foi o País escolhido, Sunny Beach, na costa do Mar Negro, o local onde permaneci pelo período de uma semana. Optei por esta zona balnear por ter ouvido boas referências das agências que consultei, por me ter sido dado boa nota por familiares que já lá tinham estado e por, nesta época de aperto económico, ser uma das zonas do mundo de mais fácil acesso à bolsa depauperada dos portugueses de uma classe média não muito exigente. Além disso não sairia da Europa e teria a possibilidade de constatar, in loco, o estado de desenvolvimento de um País que tinha recentemente aderido à União Europeia. Por comparação com o nosso País há sempre a curiosidade de se saber em que medida os países da Europa de leste se tem vindo a desenvolver no contexto de uma nova realidade que mal conheciam até há poucos anos. Sabe sempre bem comparar o estado em que estão com o estado de desenvolvimento económico em que está o nosso País.

Sunny Beach, situada a cerca de 30 quilómetros da cidade de Burgas, é a maior estância balnear da costa do Mar Negro, e um local privilegiado para quem quer fazer férias em família, a preço acessível, em praias de areia fina, com dias longos de sol e água do mar a temperaturas muito agradáveis. Com 8 quilómetros de praia espalhados pelo sudoeste da costa do Mar Negro, Sunny Beach oferece, de facto, condições excelentes para uma boa semana de férias passadas com a família, a preços acessíveis.

Quem estiver nesta estância de férias da República da Bulgária, além da praia, tem opções para todos os gostos. Casinos, restaurantes, supermercados, bazares, discotecas e bares com música ao vivo permanecem praticamente abertos 24 horas sobre 24 horas. Quem, além disso, for adepto de uma actividade desportiva pode facilmente fazê-lo com a prática da vela, do windsurf, do jet ski, do ténis, do mini golfe, do bowling, do ciclismo, dos passeios a cavalo ou até mesmo dos mergulhos em centros de mergulho adequados. Ainda não há golfe na zona, mas pensa-se que haverá a curto prazo.

Quem, além de tudo aquilo, estiver na disposição de querer saber alguma coisa mais acerca da Bulgária e do povo búlgaro pode deslocar-se a Varna e passar um dia em Nessbar. Visitando Varna ficará com uma ideia acerca do segundo maior centro económico e da terceira maior cidade do País, do que são, durante o percurso rodoviário, algumas das suas aldeias rurais e de como são alguns dos montes da famosa cordilheira dos Balcãs. Indo a Nessbar verá uma das mais antigas cidades da Europa, nascida no já longínquo século segundo antes de Cristo, desde 1956 património da humanidade e, hoje em dia, um local de visita obrigatória para quem está neste País da Europa oriental pelo exotismo das suas construções de madeira, pela grandiosidade arquitectónica das suas igrejas medievais, pela atmosfera agradável que ali se sente.

As actividades que acabo de descrever têm, no entanto, por detrás um serviço que está muito longe dos níveis de qualidade praticados pela maioria dos Estados que integram a actual União Europeia em particular e o mundo mais desenvolvido em geral. A prestação turística é ainda muito básica e de fraca qualidade, os hotéis apresentam enormes deficiências de funcionamento, a exploração do turista é uma constante bem visível, a comida é globalmente fraca, a ganância pelo dinheiro rápido grassa a olhos vistos, a corrupção é palavra corrente a todos os níveis da sociedade, especialmente dos serviços da administração pública. Nesta matéria, lá como cá…

Gostei de ter visitado este País da ex-cortina de ferro. País pobre, altamente dependente dos fundos estruturais da União Europeia, de pessoas simples e acolhedoras, a Bulgária está hoje para Portugal em termos de desenvolvimento socioeconómico como o nosso País estava para a França há trinta anos atrás. Ter ido a este País da União Europeia foi como regressar ao Portugal dos tempos do início da revolução de Abril. Foi esse o sentimento que tive. Só por isso passei a apreciar muito mais o meu País, só por isso passei a viver, pelo menos por uns tempos, muito menos deprimido
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sexta-feira, agosto 22, 2008

VOOS CHARTERS


Já viajei muitas vezes nos chamados voos charters mas, confesso, nunca gostei muito deste meio aéreo de transporte. O único atractivo que apresenta é o baixo preço das suas tarifas, substancialmente muito mais reduzido do que o praticado pelas companhias de aviação de voos regulares. Se se não tiver em conta a questão da tarifa, os inconvenientes do charter são em muito maior número do que as vantagens que são oferecidas pelos aviões de carreiras regulares.

Há, entre estes dois modelos de transporte aéreo, uma decisão clara que tem de ser tomada: ou se escolhe apenas a tarifa mais barata, e o charter é claramente a escolha a fazer; ou se opta pelo conforto de um avião mais seguro, e a opção a tomar é o avião de preço mais elevado de uma companhia de voos regulares. Ou se opta, em suma, por pagar menos, e se tem a noção de que se vai viajar num avião que é, por norma, velho e inseguro; ou se escolhe a tarifa mais cara, e se tem a convicção de que se vai fazer um voo num avião mais moderno, mais confortável e, sobretudo, mais seguro.

Não tenho informação actualizada acerca do número de acidentes com os aviões charters e não sei se, em proporção, são em maior ou menor número do que os acidentes das outras companhias aéreas. Proporcionalmente o número de acidentes com aviões charters pode até ser menor, mas o que, por experiência própria, sei, é que uma viagem neste tipo de avião se transforma, de uma maneira geral, numa infindável fonte de problemas. Na partida, durante o voo, na chegada ao destino, no regresso ao aeroporto de origem. A confusão é sempre muita, os responsáveis do que não está bem dificilmente dão a cara, quando há problemas cada um desenrasca-se como pode.

Viajar num voo charter é, por sistema, viajar com desconforto; utilizar estes aviões é ter a certeza de que se vai voar apertado, com condições do tipo sardinha na canasta; escolher um voo charter é ter a noção de que o voo não vai cumprir os horários, é estar preparado para ter de ficar em terra, é estar psicologicamente predisposto para ter de passar noites deitado nos bancos do aeroporto, é ter a certeza de que o avião em que vai viajar tem mau aspecto, de que é velho e assustadoramente inseguro. Num avião charter a manutenção diária praticamente não existe e as operações de grande manutenção, por norma, são deficientes. Num charter, o pessoal de bordo aparenta ter pouca preparação e é normalmente mal-encarado. Num voo charter o snack praticamente não existe, a limpeza deixa muito a desejar, as condições de higiene a bordo são habitualmente más.

O acidente aéreo de Barajas do passado dia 20 de Julho foi aquele tipo de tragédia que é muito próprio de um avião charter. Os sinais que têm vindo a público por declarações de testemunhas de origem variada demonstram que as circunstâncias em que o acidente se deu configuram, infelizmente, isso mesmo. Confusão no check-in, atraso de voo, avião velho, descolagem abortada, manutenção local duvidosa, assistência técnica insuficiente, nova tentativa de descolagem, incêndio no motor, descontrolo do avião, desastre inevitável, dezenas de vidas humanas tragicamente trucidadas.

Teria este desastre acontecido com um voo regular? Penso que não. A segurança não tem preço, a vida vive-se apenas uma vez, perdida não se repete. Vistas as coisas assim, a opção por um ou outro modelo de transporte aéreo parece clara. Já fiz a minha.