SINAIS DE UMA POLÍTICA À PORTUGUESA
Quem tiver estado atento aos sinais que se têm vindo a passar nos últimos tempos no contexto da classe política de Portugal terá reparado que alguns deles estão já a reflectir agora o que tenderá a ser uma realidade amanhã. Dos muitos de que poderia falar, há dois que merecem, neste espaço, a minha especial atenção. Um diz respeito às Regiões Autónomas dos Açores e da Madeira; o outro tem a ver com a eleição do futuro Presidente da República.
Tenho como adquirido que Carlos César, nos Açores, e Alberto João Jardim, na Madeira, pensam seriamente na independência política das Regiões que governam. Mais o segundo do que o primeiro, mas no fundo ambos têm como objectivo estratégico final a formação, no concerto das nações, de dois novos Estados, livres, independentes, com hinos, bandeiras e as suas capitais políticas nas cidades de Ponta Delgada e do Funchal. Posso estar redondamente enganado, mas é isso que penso. A sua ligação secular a Portugal tem-se vindo a esvair, de ano para ano, a autonomia política dos Açores e da Madeira tem vindo a ter gradualmente ganhos políticos de causa e o nosso País funciona, cada vez mais, como alavanca financeira de uma independência política que tem vindo a ser subtilmente preparada. Portugal está para Ponta Delgada e o Funchal, como a União Europeia e Bruxelas estão para Lisboa e o Governo português: ambos representam dinheiro, ambos significam fundos estruturais de apoio. Mas com uma diferença: Portugal vai perdendo soberania, os Açores e a Madeira têm estado a consolidá-la.
O novo Estatuto da Região Autónoma dos Açores e as últimas intervenções públicas de Alberto João Jardim no comício do Chão da Lagoa são sinais claros do que se pretende. César vai fazendo o seu caminho, caminhando devagar; Jardim está a fazê-lo, caminhando mais depressa; o primeiro com muita serenidade, o segundo com actos e palavras de truculenta rebelião. A ver vamos, o tempo o dirá…
Sempre votei em Cavaco Silva, quer para Primeiro-ministro quer, recentemente, para Presidente da República. Fui sempre seu apoiante, admirei globalmente a obra que desenvolveu como Chefe dos três Governos que liderou durante dez anos, mas já não estou tão certo de que o aprecie com o mesmo grau de admiração como Presidente da República. Há, infelizmente, muitos sociais-democratas que comungam do mesmo sentimento de decepção. Isto não significa, porém, que nas eleições presidenciais de 2010 o não apoiemos de novo. Com convicção social-democrata vamos todos certamente apoiá-lo.
Não tenho a mesma certeza no que diz respeito a Sócrates e ao Partido Socialista. Melhor, tenho como adquirido que o candidato do Partido Socialista nas próximas eleições presidenciais nunca será Cavaco Silva, mas será Manuel Alegre. A assumida cooperação estratégica de Presidente e Primeiro-ministro só tem servido a Sócrates e ao seu Governo. De inócua utilidade prática para o País, aquela cooperação tem-se caracterizado por ser particularmente hostil para o PSD e a sua base social de apoio, e nada vai servir para que Cavaco Silva saia dela beneficiado no seu futuro processo de recandidatura.
Se dúvidas ainda pudessem subsistir no espírito de alguns de que o PS poderia apoiar Cavaco nas eleições presidenciais de 2010, declarações públicas recentes de altos dirigentes daquele Partido desvaneceram-nas definitivamente. Augusto Santos Silva, Carlos César e o Ministro Mariano Gago foram, pelas declarações públicas que proferiram, de uma hostilidade atroz à figura do Presidente da República. Cada um ao seu estilo, cada um no âmbito das responsabilidades políticas de que é detentor, estes reputados dirigentes do Partido Socialista declararam o fim da tão badalada cooperação estratégia. Está aberta a guerra do novo inquilino do Palácio de Belém, foi iniciada uma estratégia que vai permitir que José Sócrates e o Partido Socialista se afastem de Cavaco Silva e se preparem para a abertura de um caminho livre que vai desembocar inexoravelmente na candidatura de Manuel Alegre à Presidência da República no ano de 2010. A ver vamos, o tempo o dirá…
4 comentários:
Carlos César e Alberto João Jardim até podem ter a ideia de que os Açores e a Madeira se podem transformar em novos Estados independentes. Duvido que tenham viabilidade económica e que, em referendo, os Açorianos e Madeirenses votem a sua separação de Portugal.
Mas nunca se sabe. Com líderes carismáticos e de grandee capacidade de intervenção junto das populações, estas podem facilmente ir na onda dos caciques que as dirigem...
A comunicação que Cavaco Silva fez esta noite ao País está na linha do que o autor do Blog diz na primeira parte deste artigo.Também o Presidente da República está atento ao sinal de que as Regiões Autónomas dos Açores e Madeira estão a dar passos decisivos no sentido da sua total independência política. O novo Estatuto Político-Administrativo dos Açores que, com a ajuda do Tribunal Constitucional, se permitiu vetar foi um sério travão às tendências independentistas.
Mas vale a pena travar essa tendência se for essa a vontade de Açorianos e Madeirenses?
Os meus parabens por se ter antecipado ao discurso do PR, que também achou de extrema gravidade o que se está (ou estava?) a passar. Parabens por ter feito a previsão do discurso.
O Presidente da República não devia ter criado tanta expectativa para o seu discurso, acabando por deixar a ideia de que a montanha pariu um rato. Penso que Cavaco Silva está a ver fugir-lhe eleitorado e é quase certo que não será reeleito. Estou de acôrdo que tem sido uma desilusão. Quanto à Madeira e aos Açores, sou dos que apoiam a sua independência. Que se governem com os seus próprios meios, uma vez que parece ser isso que pretendem.
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