segunda-feira, setembro 22, 2008

HOSPITAL DE S.JOÃO: UMA OUTRA IMAGEM

Tive, há dias, necessidade de visitar um doente internado no Hospital de S. João, no Porto. Fiquei boquiaberto com o que vi e com o que por lá se passa. De repente senti-me nos corredores de uma qualquer unidade hospitalar do terceiro-mundo. O ingresso no recinto, as ruas esburacadas, o parque automóvel, as portas de entrada, os corredores do ambulatório, as salas de espera, os ascensores de acesso aos pisos, o aspecto de algumas enfermarias, tudo isto me pareceu ali confuso, desordenado, caótico. Julguei que não estava nas instalações de uma das maiores unidades hospitalares do meu País. Mas estava…

Ouvi funcionários a gritar desabridamente ao microfone, observei doentes aos repelões, escutei pessoas em altos berros, reparei em gente anónima que se vagueava sem destino por corredores que poucos sabiam aonde iam dar. Encontrões, barulho, vozearia, cestos de imundície, pequenas bancas de negócio, papelarias de mau gosto, farnéis, tudo isso eu vi numa casa que já foi, há três décadas atrás, uma das mais importantes unidades de referência hospitalar do nosso País.

Ter ido recentemente a este Hospital constituiu-se numa experiência que não poderei esquecer mais, tal foi a dimensão dos aspectos negativos que, com desagradável surpresa, ali pude observar. Não exagero se disser que ter lá ido foi como se tivesse ido a uma das feiras semanais da cidade de Espinho, tamanha era a desorganização, o caos, a vozearia, a falta de respeito, a poluição ambiental.

Não ponho em causa que, no que toca a números, este Hospital até esteja de boa saúde. Os números que o Conselho de Administração faz constar do seu “site” parecem bons, parecem estar mesmo acima dos indicadores de outros hospitais do País. Mas os hospitais não são números, não são estatísticas cegas, não são apenas o balanço e a demonstração de resultados. Os Hospitais são outra coisa bem diferente: são lugares sagrados onde é obrigatório ter-se respeito pela pessoa humana; são espaços onde há gente que sofre, onde há bebés que nascem, onde há jovens que requerem a saúde que perderam, onde há velhos que morrem. Quem não entender isto não é digno de trabalhar num hospital; quem apenas olha para os números, quem apenas considera o hospital pela óptica financeira dos resultados, não reúne, de todo, condições para ser seu dirigente ou administrador. Terá o Conselho de Administração do Hospital de S. João consciência disto?

Admito que estas palavras sejam brutalmente injustas para quem lá trabalha com honestidade e para os serviços que, apesar da descrição feita, apresentam níveis de excelência, comparáveis com o que de melhor há no mundo em unidades do género. A essas pessoas e a esses serviços peço desculpa e aqui presto a minha homenagem muito sincera. Mas o sentimento geral que retive quando por lá passei foi exactamente o que acabo de relatar. Indignado com o que vi, não pude ficar calado.

4 comentários:

Anónimo disse...

Não é concebível que o HSJ tenha chegado ao estado de degradação a que chegou. Não se percebe o que andaram a fazer todas as Administrações dos últimos 30 anos. Figuras insígnes como foram, dentre outras, Hernâni Monteiro,Fernando Magano, Álvaro Rodrigues, Coriolano Ferreira, Ernesto Morais corariam de vergonha se cá voltassem e observassem o Hospital de S. João no estado em que se está.
Eu também me sinto envergonhado.
PF

Anónimo disse...

Conheço mal o HSJ, mas tive recentemente uma experiência que me deixou a mesma impressão que aqui está bem exposta. É uma pena. O que me parece é que, como noutros casos semelhantes,isto é apenas o resultado de uma gestão incompetente. E todos sabemos qual é o critério de selecção para aqueles lugares.

Anónimo disse...

A descrição feita em torno do Hospital de S. João é globalmente correcta, apenas peca por defeito. É que a situação é bem mais grave no que diz respeito ao ambiente humano que lá se respira. O ambiente é de cortar à faca, há um clima de medo, não se pode ter opinião livre, persegue-se e exonera-se quem não for professo da cor política dos membros que o compõem.
A Administração é despótica, insolente, incompetente, desumana.
Não se percebe como é ainda possível tê-la ao leme de um Hospital que já foi uma referência nacional mas que manifestamente já não é. Esta Administração tem culpas neste cartório.
AF

Anónimo disse...

Reitero o artigo e todos os comentários feitos acerca do HSJ. As historietas que se contam acerca de grupos económicos que por lá se movem são mais do que muitas.
Há, de facto, casos de duvidosa transparência que nunca foram bem explicados. Dentre outros, estão os casos da exploração do parque automóvel, da construção de uma unidade hoteleira e da concessão a privados de espaços de restauração, tudo isso em terrenos públicos do próprio Hospital.
Seria também interessante saber se há ou não há cumplicidades estranhas entre funcionários e fonecedores, entre dirigentes e poderosos laboratórios de produtos farmacêuticos.
Uma investigação profunda por parte das autoridades competentes nunca seria despicienda e teria, no mínimo, a vantagem de dar transparência a situações que, aos olhos da opinião pública, não parecem nada transparentes.
AF