segunda-feira, dezembro 31, 2007

UM HINO À LIBERDADE


Se tivesse que distinguir alguma Entidade do Ano que está prestes a terminar, essa Entidade seria, sem favor, a Comunicação Social Portuguesa. Quando num País a Justiça não funciona, a Educação é fraca, a Saúde é um bem raro e inacessível, os políticos são covardes e algumas castas do mundo financeiro engolem tudo, vale-nos a Comunicação Social para tudo desmontar e dizer que a sociedade não vai bem.

Sem os jornalistas dificilmente saberíamos que há empresários gananciosos, gestores corruptos, partidos políticos vendidos ao capital, juízes injustos, polícias sanguinários, magistrados comprados, Chefes de Governo mentirosos, seiscentos mil portugueses desempregados, dois milhões de cidadãos na miséria ou no limiar da pobreza, pedófilos escondidos, prisões desumanizadas, terrorismo organizado, tráfico de influências, sociedade de futuro duvidoso. Sem os jornalistas dificilmente tomaríamos conhecimento dos escândalos que abalam a sociedade. Sem uma comunicação social livre dificilmente teriam vindo a lume os casos FreePort, Portucale, Casa Pia, Millennium BCP, Universidade Moderna, Universidade Independente, licenciatuta de José Sócrates, viagens sumptuosas dos membros do Governo, viagens fantasmas de deputados, pensões indecentes do Banco de Portugal e da Caixa Geral de Depósitos, pensões vitalícias de políticos sanguessugas, cruzamentos e atribuição de lugares entre amigos no seio de empresas de capitais públicos(REFER/CP) e o episódio Margarida Moreira/Fernando Charrua.

Pelas razões apontadas atrevo-me, pois, a considerar a Comunicação Social Portuguesa como a entidade que mais mereceria as honras de Entidade do Ano. Um País que não tenha uma imprensa livre, uma rádio isenta ou uma televisão independente não pode ser considerado um País livre. Portugal, neste domínio, é felizmente um País livre e independente. Poderá não sê-lo noutras áreas, mas é-o claramente na área da Comunicação Social. Não é, além disso, possível vivermos em verdadeira democracia sem os jornais, a rádio, a televisão, os analistas, os comentadores, os “bloggers”, os humoristas e todos aqueles que, sem medo de represálias, manifestam publicamente a sua opinião.

Eu sei que o actual Primeiro-ministro não gosta de ser contrariado por opiniões diferentes da sua, que detesta ser publicamente contestado e que, se pudesse, os aniquilava a todos por mor de um poder pessoal que desejaria inquestionável. Mas vai ter que se habituar à ideia de que os seus erros vão continuar a ser objecto de apreciação pública, de que suas mentiras continuarão a ser badaladas, de que os truques utilizados para a obtenção de fins inconfessáveis continuarão sempre a ser também objecto da apreciação crítica dos portugueses, graças à abençoada Comunicação Social Portuguesa.

sexta-feira, dezembro 28, 2007

PORTUGAL, UMA REPÚBLICA NACIONAL-SOCIALISTA?


Com o advento de Sócrates ao lugar de Primeiro-ministro passou Portugal a ser uma espécie de República Nacional-Socialista? De acordo com a Porto Editora o nacional-socialismo foi “um movimento ideológico e político chefiado por Adolfo Hitler que assentava fundamentalmente na supremacia do Estado sobre o indivíduo e na exaltação da superioridade da raça ariana em relação a todas as outras…”; foi, pois, “um regime totalitário” que se implantou na Alemanha entre 1933 e 1945, que teve como chefe absoluto Adolfo Hitler e como instrumento de aplicação na sociedade o Partido Nacional-Socialista.

Não se pode dizer, em abono da verdade, que o nosso País esteja a ser uma República Nacional-Socialista nos termos em que, acima, foi o nacional-socialismo definido, nem que Sócrates seja, ou venha a ser, um novo Adolfo Hitler. Nem Portugal é a Alemanha, nem o nosso Primeiro-ministro tem, para o bem e para o mal, a envergadura intelectual daquele ditador, nem os tempos de hoje são comparáveis aos tempos em que foi democraticamente possível desenvolver aquele regime, de tão má memória para a Alemanha e para o mundo. Mas lá que há tiques, sinais e comportamentos parecidos com tão hediondo regime, lá isso há. É só olhar à volta e vê-los a eito pelo País fora.

Desde que subiu ao poder Sócrates amordaçou o Partido Socialista, calou a opinião divergente de altos dirigentes e militantes, tornou amorfos os membros do governo e os deputados socialistas, estabeleceu uma poderosa rede nacional de delatores (a DREN e a senhora que a dirige é um dos expoentes máximos desta rede), criou poderes subalternos de obediência acrítica, perseguiu quem ousou fazer-lhe frente, ostracizou quem dele discordava, amansou com benesses e cargos públicos de relevo os que, pelo seu prestígio, poderiam criar-lhe algum tipo de dificuldade. Tudo isto ele fez no interior do Partido Socialista.

Mas na sociedade Sócrates foi muito mais longe: lenta e paulatinamente conseguiu dominar toda a máquina administrativa e empresarial do estado. Hoje já só há dirigentes socialistas em tudo o que cheira a poder, por menor que o mesmo seja. Há-os, aos montes, espalhados pelas instituições administrativas de saúde, pelos hospitais, pelos centros de saúde, pelos serviços centrais e regionais do Ministério da Educação, pelos Centros Regionais e Distritais de Segurança Social, pelas Empresas Reguladoras do Estado, pelos Institutos Públicos e pelas Empresas de capitais total ou parcialmente públicos.

Para cúmulo dos cúmulos, Sócrates não se quis ficar por aqui. Na voragem de um poder que pretende ver cada vez mais alargado sobre a sociedade portuguesa, está prestes a dar um outro salto. Depois de, por prosélitos da sua confiança, dominar a Caixa Geral de Depósitos e o Banco de Portugal, quer agora dominar também o maior banco privado português. Servindo-se da debilidade estrutural que tem vindo a abalar o MILENNIUM BCP Sócrates apressa-se a dominar também este poderoso grupo financeiro. Santos Ferreira, Armando Vara e Victor Fernandes serão os apóstolos da sua cruzada, os accionistas de referência os seus mensageiros coniventes…

Que ninguém duvide. Na sociedade portuguesa há, de 2005 até agora, um movimento pragmático e político chefiado por José Sócrates Pinto de Sousa que assenta fundamentalmente na supremacia do Estado Socialista sobre todo o indivíduo não socialista e na exaltação da seita socialista em relação a todas as outras que o não são; tal como na Alemanha dos meados do século XX, criou-se, desde 2005, também por via democrática, um regime totalitário que tem tido como chefe absoluto o licenciado José Sócrates Pinto de Sousa e como instrumento de aplicação na sociedade portuguesa o seu “PARTIDO Nacional SOCIALISTA”.

Como cidadão livre, independente e adepto do contraditoriamente diferente chateia-me este esquisito nacional-socialismo dos portugueses. Como sair desta modorra?

sábado, dezembro 22, 2007

UMA DERROTA INJUSTA

Estou a escrever, ainda a quente, depois de uma derrota inesperada do Futebol Clube do Porto no Funchal contra o Nacional da Madeira. Foi inesperada e injusta. Inesperada porque não seria pensável que os "azuis e brancos", atento o historial recente de resultados de uma e outra equipa, perdessem este jogo; injusta porque, em jogo jogado e em oportunidades de golo não convertidas, o FCP foi a equipa que mais mereceu a vitória. Mas um jogo é assim: nem sempre ganha o mais forte, nem sempre vence a equipa que mais ocasiões de golo cria. A imprevisibilade do resultado final de um jogo de futebol é uma das magias deste espectáculo que tanto encanta e arrasta multidões.

Depois de, finalmente, ter sabido ser corajoso no Estádio da Luz, desta vez só tenho dois reparos a fazer ao treinador Jesualdo Ferreira: Não se entende a razão de tanto insistir num jogador que, tendo já tido mais do que uma oportunidade para mostrar o que vale, nunca deu uma para a caixa, foi sempre uma completa desilusão. Se dúvidas ainda houvesse elas ficaram hoje definitivamente desvanecidas. Mariano González é um jogador banal que pode e deve ser colocado no mercado de transferências do próximo mês de Janeiro. No mínimo ponham-no a rodar numa outra qualquer equipa que lhe pague o ordenado que ainda não conseguiu justificar no clube, e que não tenha as responsabilidades do FCP. Impressiona-me como é que este atleta conseguiu chegar a internacional da poderosa selecção da Argentina. Há fenómenos que não consigo entender.

Mas se Jesualdo Ferreira falhou ao escalonar Mariano González para o jogo com o Nacional da Madeira, falhou também ao não proceder à sua substituição quando, já a perder por 1-0, quis, e bem, mudar o rumo dos acontecimentos. Tê-lo mantido em jogo significou, quase sempre, dar um trunfo ao adversário, foi como se FCP estivesse em campo com menos um jogador, tamanha era a sua inutilidade prática. Por que não saiu ele e saiu o Hélder Postiga? Não tendo jogado de início por que não entrou, no acto da primeira substituição, o Adriano?

Agora que a primeira parte do campeonato está prestes a terminar permita-me Senhor Professor que lhe faça as seguintes três recomendações: Não proponha nenhuma nova aquisição de jogadores na abertura do mercado de Janeiro; estimule superiormente a dispensa, ou a rodagem noutras equipas, de uma boa parte dos atletas recrutados para a presente temporada, de que destaco especialmente os seguintes: Kazmierczak, Mariano González, Leandro Lima, Edgar, Farias e Lino; promova, dentre outros, o regresso imediato do Ibson, do Alan e do Hélder Barbosa; aposte mais nos atletas que provêm das escolas do Futebol Clube do Porto. Se fizer isto vai ganhar folgadamente o campeonato da Primeira Liga, vai ter sérias possibilidades de passar à fase seguinte da Liga dos Campeões, vencendo o Schalke 04, e dará um contributo muito importante para o saneamento das finanças do Clube. Vá por mim, Senhor Professor.

quinta-feira, dezembro 20, 2007

O PINÓQUIO-MOR DA REPÚBLICA

Nunca gostei das pessoas que mentem. Muito menos daquelas que, para atingirem um fim ou obterem proveito pessoal, prometem uma coisa e fazem outra totalmente diferente. É certo que de mentirosos sempre esteve o mundo cheio; mas irritam-me quando os vejo a perorar desalmadamente. Se, no nosso País, há grupos que se caracterizam pela mentira desbragada esse grupo é o grupo dos políticos. Não são, em geral, intrinsecamente sérios, mentem a torto e a direito, acantonam-se por ilhas de intriga, fazem batota para alcançarem o poder, são, por isso, uns empafos inúteis. Que me desculpem os que, apesar de tudo, são honestos e tem feito da política um acto de desinteressada dedicação ao seu País.

Mas se há uma figura da política portuguesa que especialmente se caracteriza pelas mentiras que sistematicamente dirige ou dirigiu ao País, essa figura é o nosso inefável José Sócrates Pinto de Sousa. Sem nunca ter feito nada de socialmente relevante ao longo da vida, nunca olhou a meios para atingir os fins. Antes e depois de ser Secretário-geral do Partido Socialista; antes e depois de ser o Primeiro-ministro de Portugal.

Ora vejam o que aquele senhor disse para ser Primeiro-Ministro e o que fez depois de o ser. Prometeu não aumentar os impostos e a primeira coisa que fez logo que tomou posse foi aumentá-los despudoradamente (IVA, IRS, IRC, ISP, IA, tabaco, selo, álcool, bebidas alcoólicas…); garantiu um crescimento da economia em mais de 3% e o resultado obtido foi o de um pífio 1,5%, muito inferior à média dos países da UE; assegurou, vezes sem conta, que o poder de compra iria folgadamente crescer durante o tempo em que fosse Primeiro Ministro mas o resultado concreto que obteve foi o de uma clara diminuição do poder de compra dos portugueses, hoje calculada em mais de 10% (que o digam os cidadãos da classe média, designadamente os aposentados da função pública que, por exemplo este ano ganham nominalmente menos do que em 2006. Será isto constitucional?); prometeu equilibrar a balança de transacções correntes mas o resultado foi o de que continuamos a importar mais do que aquilo que exportamos; prometeu aumentar o investimento público reprodutivo mas o resultado tem sido precisamente o contrário, isto é, menos 18% do que era 2005; afirmou que o serviço nacional de saúde seria garantido para todos com mais qualidade, mais acessível e menos dispendioso, qualquer que fosse o local e capacidade económica dos portugueses, mas o resultado é hoje claramente negativo, com a prestação de cuidados de saúde muito mais cara e inacessível, e os medicamentos menos comparticipados; teve como certo que a educação e a justiça teriam condições de afirmação positiva como nunca tiveram em Portugal, mas os resultados que se vêem permitem uma leitura substancialmente diferente, com menos qualidade na educação e os serviços de justiça mais lentos e ineficazes.

Muito mais poderia ser dito acerca das promessas de uma vida melhor que o então bacharel de engenharia garantiu aos portugueses para o caso de vir a ser eleito Primeiro-ministro de Portugal. Tudo o que manhosamente prometeu para ser o candidato vencedor das legislativas de 2005 não cumpriu, tendo praticamente falhado em tudo. Salvou-se, neste contexto, o famigerado equilíbrio das contas correntes; mas mesmo aqui à custa do empobrecimento de todos nós. Os portugueses estão, passados dois anos de governo socialista, inequivocamente mais pobres; que o digam todos, mas especialmente os 600000 desempregados e os 2 milhões de portugueses pobres.

Com excepção de uma certa casta de glutões sociais que tudo comem, os portugueses andam tristes, acabrunhados, melancólicos e preocupados com o seu futuro. Há como que um sentimento de descrença geral que todos vêem e sentem, excepto o Primeiro-ministro Sócrates. Já não há esperança em Portugal. Com este Chefe de Governo os portugueses sentem que continuam desesperadamente no caminho de um precipício colectivo, para pouco servindo os biliões de euros que ainda vão chegando da União Europeia. Que fazer perante um panorama destes? DEMITI-LO por um vigoroso processo de indignação colectiva. De que estão à espera os funcionários públicos, os magistrados, os juízes, os professores, os médicos, os enfermeiros, os aposentados, os 600 000 desempregados e os 2 milhões de pobres? De que estão à espera os Sindicatos? Este estado de coisas não pode mais manter-se em Portugal. Estamos todos fartos de um Primeiro-ministro embófia e do seu séquito de “bufos”e acéfalos. BASTA.

sexta-feira, novembro 30, 2007


TRÊS HOMENS DE VISÃO

É frequente dizer-se que no nosso País não há uma visão estratégica de futuro. Isso é globalmente verdade e tem sido norma no decurso da sua longa história de oito séculos de independência política. Portugal foi sempre, com raras excepções, um País subalterno no concerto das nações mais desenvolvidas. Não era propriamente a pequenez geográfica que lhe atribuía esse estatuto, mas era a gritante incapacidade das gentes que o habitavam. Foi assim no período da fundação, tem sido sempre assim no decurso da sua existência de oitocentos anos de autonomia política, é claramente assim em 2007, mas hoje com a agravante de se estar a correr o risco de perda da sua identidade secular.

Em Portugal não há elites mobilizadoras, os políticos não prestam, José S. Pinto de Sousa é um primeiro-ministro mesquinho e sem dimensão, as “castas lusitanas”, desprezando o interesse geral, só se preocupam com aquilo que lhes dá poder ou reforça a fortuna de que são já são possuidores. As classes dominantes não servem o País, servem-se descaradamente dele para seu próprio proveito. Foi quase sempre assim, é assim nos tempos de hoje. É esta a nossa sina, tem sido este o nosso fado.

Apesar de tudo há casos isolados de sucesso; pontuais, mas de indesmentível sucesso. A história conhece os seus autores e foram eles que, de algum modo, foram dando visibilidade a um País de irrelevante interesse internacional. Sem me querer deliberadamente referir aos casos e pessoas que, pelos seus feitos, foram, em todas épocas, ficando na história de Portugal, senti-me no dever patriótico de salientar três homens de sucesso recente. Jorge Jardim Gonçalves, Luís Todo Bom e José Manuel Castro Rocha foram, de facto, três homens de sucesso. Se, de uma forma geral, no nosso País não há homens de VISÃO, estes tiveram-na e deixaram, por isso, obra duradoira no domínio da banca, das telecomunicações e das actividades energéticas.

Não é possível falar-se do Grupo Millenium BCP e do que ele representa para o progresso da banca portuguesa sem se falar do Engenheiro Jardim Gonçalves; não é possível falar-se do Grupo PT e do que as telecomunicações significam para o nosso País sem se referir o nome do Engenheiro Luís Todo Bom; não é, enfim, possível falar-se do Grupo EDP e do peso estratégico que o mesmo simboliza para os portugueses sem se recordar o Dr. José Manuel Castro Rocha.

No âmbito das funções profissionais que desempenhei tive o privilégio de me relacionar com estes três homens. Pela alta capacidade de VISÃO estratégica que demonstraram no contexto das funções por que foram, numa época muito difícil, responsáveis, Jardim Gonçalves, Luís Todo Bom e Castro Rocha representam um caso raro de sucesso empresarial. A obra que fundaram e legaram aos portugueses é a sua demonstração de glória.

Se a banca portuguesa está hoje ao nível do que há de moderno e mais bem organizado no âmbito do sistema bancário europeu e mundial isso é, em grande medida, devido ao fundador do BCP e do Grupo Millenium BCP; se o Grupo Portugal Telecom é hoje a “maior entidade empresarial privada portuguesa, um operador global de telecomunicações, líder a nível nacional em todos os sectores em que actua”, e uma referência positiva de Portugal no mundo, isso deve-se à VISÃO e elevada capacidade de gestão que o Engenheiro Todo Bom demonstrou ter durante o período em que foi o seu Presidente executivo, nos anos de 1994 a 1996; se o Grupo EDP é hoje uma “empresa de energia integrada, líder em criação de valor nos mercados" onde estiver implantada e, igualmente, uma instituição de referência ao nível nacional e internacional, há também aqui uma quota parte muito grande de contribuição do Dr. Castro Rocha, um dos seus mais prestigiados Presidentes.

Como seria diferente Portugal se os políticos que o têm vindo a governar tivessem a capacidade demonstrada por aqueles três HOMENS DE VISÃO!!! Infelizmente não têm; é por isso e por causa da sua mediocridade que o nosso país nunca mais passa da cepa torta em que fatalmente se encontra.

quarta-feira, novembro 28, 2007

UM TREINADOR COM MEDO


O Futebol Clube do Porto foi, esta noite, copiosamente batido pelo Liverpool por quatro bolas a uma. Um desastre. Senti-me profundamente envergonhado pelos números expressivos da derrota e pela forma como a mesma se deu. É uma derrota esmagadora que não condiz com o historial da mais prestigiada equipa portuguesa de futebol. O que aconteceu hoje em Anfield Road foi obsceno, foi uma catástrofe absolutamente inadmissível, foi mau de mais, foi uma vergonha que desprestigiou o clube, a cidade e o país.

Quando, no início do jogo, foi conhecida a constituição da equipa uma conclusão imediatamente saltava à vista de todos: o treinador do Futebol Clube do Porto estava apavorado e, por isso, ia jogar à defesa. De uma assentada procedeu à alteração de quase meia equipa, retirando quatro jogadores habituados a jogar juntos e substituindo-os por outros de carácter globalmente mais defensivo. O resultado estava claramente preanunciado: DERROTA clara, sem apelo nem agravo. Era, de resto, o renascer de um filme já conhecido noutras ocasiões, em circunstâncias muito parecidas. Foi assim com o Chelsea há um ano; foi assim no início desta época com a final da Super Taça Cândido de Oliveira. Em ambos os casos Jesualdo teve medo; em ambos os casos o Futebol Clube do Porto perdeu.

No desporto, como em todas as actividades da vida, quem tem medo raramente ganha, quase sempre perde. Foi o que aconteceu em Anfield Road. Nunca pensei que, aos sessenta anos, um homem com a experiência de vida de Jesualdo Ferreira ainda tivesse medo. Medo de quê? De perder um jogo de futebol? Como já lhe disse um dia, quando também perdeu a final da referida Taça Cândido de Oliveira, se não for capaz de se libertar dos medos de que se atormenta quando tem de enfrentar uma grande equipa europeia de futebol ou uma equipa portuguesa de capacidade semelhante, não pode continuar a ser o treinador do Futebol Clube do Porto.

O que vai fazer agora na jogo do próximo Sábado com o Benfica? Vai jogar à defesa? Ou vai jogar de peito feito, sem medo, com os jogadores que habitualmente ganham? Dificilmente terá condições serenas de trabalho se voltar a perder no Sábado nas circunstâncias em que perdeu esta noite em Anfield Road. Por que é que mudou meia equipa para este jogo? Por que é que, atarantado, sistematicamente mexe na equipa para os jogos de alto risco? Ainda não aprendeu a lição? Lembre-se dum grande ditado popular, Senhor Professor Jesualdo Ferreira: numa equipa que ganha não se mexe. Meta isto na sua cabeça e redima-se para ainda ter condições de continuar a ser o Treinador do Futebol Clube do Porto. Ainda não perdeu substancialmente nada; mas pode perder objectivamente tudo.

sexta-feira, novembro 09, 2007


VITUPÉRIOS DE UM VÍLICO SEM CLASSE


Fui um dos que assistiu pela televisão ao debate do Orçamento de Estado para 2008. Fiquei enojado com a postura desatinada da dupla José Sousa/Fernando Santos. Estou farto dela e da sobranceria com que se dirige aos portugueses. Falaram de cátedra, atiraram números falaciosos para público se entreter, mentiram, disseram o que lhes convinha, omitiram, sem pudor, os números que depreciavam a sua política de polichinelo. Esta dupla é autista, está desacreditada e há muito que atingiu o seu estado de validade.

O Orçamento do Estado para 2008, além de um embuste pegado, é um orçamento reles. Não contribui para o desenvolvimento económico-social do País, aumenta o número de desempregados, agrava os impostos, engorda a riqueza dos que já são ricos, empobrece uma vez mais a classe média, insulta, com migalhas de cobardia, os que já são pobres, menospreza os funcionários públicos, avilta os aposentados do Estado.

Enquanto se ouve e vê pela televisão esta súcia de poltrões a defender o Orçamento de Estado do próximo ano, os portugueses indignam-se com o que vão vendo e sentindo à sua volta; irritam-se com as notícias vindas a público de que vão ser gastos em 2008, e à custa de todos nós, 61,6 milhões de euros em viagens e hotéis, mais 18,8% (!!!) do que terá sido gasto em 2007, e para um ano em que Portugal já não preside à União Europeia; enfurecem-se com os gastos sumptuários dos membros do Governo (para quê tanta viagem e tantos carros novos todos os anos, senhores?); revoltam-se com os sucessivos aumentos dos combustíveis e, por via disso, da ceva gulosa dos vílicos do Estado; preocupam-se com os aumentos dos produtos alimentares, da electricidade, do gás, da água, dos medicamentos, dos serviços de saúde, dos simples produtos de higiene básica; inquietam-se com o futuro.

Os Sindicatos da função pública, cansados deste Governo e das políticas de hostilização que sistematicamente visam os funcionários públicos, decretaram greve geral para o dia 30 de Novembro. Fizeram bem, cumpriram o seu dever. Espera-se agora que os funcionários façam o seu, anuindo em massa ao apelo dos Sindicatos. A agitação social por meio de uma greve, sendo um direito de quem trabalha, é igualmente uma forma democrática de se discordar de um Governo, de o deitar abaixo se for necessário. É preciso destituir este Governo. Há muito que deixou de ser capaz de mobilizar a sociedade portuguesa. Um Governo que não mobilize a sociedade não presta. O Governo do licenciado José Sócrates perdeu o prazo de validade. Que o “pântano” de Guterres o inspire, por uma vez, na única decisão que deve tomar: DEMITIR-SE. Para isso têm também a palavra, no dia 30 de Novembro, os funcionários públicos, os juízes, os magistrados, os médicos, os professores, os aposentados, os deficientes; têm a palavra os descontentes da sociedade portuguesa. Assim se assumam e não tenham medo.

terça-feira, outubro 30, 2007

CASTAS LUSITANAS


O nosso País é um País de castas. De muitas e variadas, para todos os gostos, tradicionais e modernas, de natureza política, de feição religiosa ou de cariz económico. Sendo uma casta, de acordo com a Porto Editora, “uma classe de cidadãos que goza de privilégios especiais”, ou “todo o grupo social ciosamente fechado sobre si”, não é difícil vê-las por esse país fora, aos montes. Basta estar atento.

Se, ao longo da história, se distinguiram e distinguem ainda os membros da Opus Dei e das Lojas Maçónicas, proliferam pela nossa sociedade outras castas que, ínsitas ou já desligadas daquelas, têm sido objecto, pelos piores motivos, de uma especial atenção por parte da Comunicação Social e da opinião pública portuguesa. Não querendo falar de todas as castas, há hoje na sociedade portuguesa a chamada casta dos gestores dos Grandes Grupos Económicos, de capitais públicos e privados. A Caixa Geral de Depósitos, o Banco de Portugal, a Portugal Telecom, a Galp, o Milénio BCP, a EDP, a RTP, a REFER, a CP… são, dentre outros, exemplos recentes de como funciona a malfadada casta de alguns dos mais famosos Gestores de Portugal. Gravitam por aí, giram de um grupo económico para outro, contratam-se entre si, reformam-se e voltam a ser contratados, perpetuam-se no poder anos a fio, estabelecem as suas remunerações, fixam as suas reformas, negoceiam as saídas de um grupo para logo entrarem noutro, permitem-se conceder a si próprios e aos seus familiares empréstimos milionários sem juros, a juros baixos ou, cúmulo dos cúmulos, com perdão do seu próprio pagamento; atentos ao mercado e detentores de informação privilegiada permitem-se criar condições para a baixa artificial das acções dos grupos a que pertencem para logo a seguir as revenderem com mais valias milionárias.

As reformas milionárias dos gestores da Caixa Geral de Depósitos e do Banco de Portugal; os empréstimos que se permitem obter junto desta última entidade reguladora; e os episódios rocambolescos dos Administradores do Grupo Millenium BCP são três exemplos claros acerca do modo como esta classe de privilegiados funciona, do carácter que revelam e do desplante com que placidamente continuam a aparecer junto da opinião pública portuguesa. Não têm vergonha, gozam despudoradamente com a fragilidade de quem tudo suporta.

Enquanto isto acontece o País deprime-se, os portugueses empobrecem, a classe média definha. O que se passa no nosso País é um escândalo, caiu-se, há muito, ao nível da indecência. Até quando?

domingo, outubro 21, 2007


UM PAÍS DE POLÍTICA MENTIREIRA


O actual Ministro das Finanças parece ser um daqueles homens relativamente ao qual é difícil recair qualquer onda de azedume. O ar cândido, o passado impoluto e a forma elegante como dialogava com as pessoas faziam dele um homem talhado para um papel de grande relevo na sociedade portuguesa. Tem-no sido ao longo da sua vida como Professor Universitário na Faculdade de Economia da Universidade do Porto, como Presidente da Comissão do Mercado de Valores Mobiliários e, de há dois anos a esta parte, como Ministro das Finanças. Por bons e maus motivos…

Conheço o Professor Fernando Teixeira dos Santos no contexto dos Cursos de Defesa Nacional, recordando-me do auditor assíduo, do aluno atento, do discípulo deferente, do companheiro solidário. Professor universitário de profissão, Teixeira dos Santos era um homem simples de quem se gostava à primeira. Ainda hoje mantenho a excelente impressão que a colegas e professores causava.

Todavia, se Teixeira dos Santos conseguia facilmente criar, junto daqueles com quem lidava, uma auréola de professor competente, de auditor interessado, de gestor com amplo sentido de visão no âmbito da CMVM, tenho hoje muitas dúvidas de que o seu papel como Ministro das Finanças do nosso País esteja a ser um papel positivo. O tempo o dirá, mas não vai, seguramente, ficar com bom-nome na história dos ministros das finanças portugueses. E é pena porque este homem afável bem o merecia.

Com a política monetarista que imprimiu ao seu Ministério e ao País, vexou, de forma indecorosa, os aposentados da Caixa Geral de Aposentações, maltratou os professores, disse mal dos médicos e profissionais de saúde, ostracizou magistrados e juízes, não soube, enfim, respeitar os próprios funcionários públicos que o serviam e de quem se serve.

Obcecado pelo défice das finanças públicas Teixeira dos Santos não tem sabido ser um Ministro das Finanças à altura das dificuldades do País. Qualquer contabilista de formação mediana sabia fazer o que tem vindo a fazer. Aumentar os impostos e diminuir traiçoeiramente os rendimentos de funcionários públicos e aposentados do seu Ministério é uma decisão de merceeiro mal amanhado, não é decisão própria de um Ministro das Finanças com visão estratégica. Uma empresa em dificuldades que tratasse os seus clientes como Teixeira dos Santos e o Chefe de Governo têm tratado os portugueses já teria fatalmente falido. Se um País, pela natureza das coisas, não pode falir, há muito que uma boa parte dos portugueses está falida. Sugados pelo fisco até ao tutano, os portugueses da chamada classe média, se ainda não faliram todos, estão irremediavelmente mais pobres.

O que resultou da política adoptada pela dupla José Sócrates /Teixeira dos Santos depois de dois anos de governo? Crescimento pífio da economia portuguesa; diminuição galopante do poder de compra da maioria dos cidadãos; meio milhão de portugueses desempregados; dois milhões de portugueses pobres ou no limiar da pobreza; contestação social generalizada; riqueza ilicitamente acumulada em "meia dúzia" de modernos "senhores feudais"; pequena e alta corrupção; indigência; criminalidade e insegurança; pobreza envergonhada; política desprestigiada; políticos mentireiros…

Como ter mão nisto? Não há quem se revolte?

terça-feira, setembro 25, 2007


QUE INTERESSES MOVEM A FEDERAÇÃO PORTUGUESA DE FUTEBOL?

Tomei agora mesmo conhecimento de que a Federação Portuguesa de Futebol decidiu não sancionar Luís Filipe Scolari. Soube ainda que, além de o não ter afastado pela falta grave que cometeu no fim do jogo Portugal-Sérvia, decidiu reiterar-lhe confiança no cargo de Seleccionador Nacional e, pasme-se, apoiá-lo jurídica e politicamente no recurso que aquele Senhor interpôs junto da UEFA a propósito da sua suspensão por quatro jogos. Fiquei, como cidadão, indignado com esta decisão de Gilberto Madaíl e seus pares na Direcção da Federação. É o cúmulo da iniquidade e é caso para se pensar que, nos meandros daquela entidade desportiva, o crime às vezes compensa, como é o caso presente, e outras penaliza, como foram os casos de Sá Pinto, João Pinto, Abel Xavier e de muitos outros atletas de que não me ocorrem agora os nomes.

Falando os factos por si e não havendo, por isso, outros comentários a fazer, atrevo-me, no entanto, a formular as seguintes perguntas ao Sr. Dr. Gilberto Madaíl: será possível dar conhecimento público dos relatórios que foram apresentados pela Federação junto da UEFA e dos relatórios desta entidade que estiveram na base da sanção de quatro jogos que impenderam sobre Luís Filipe Scolari? Será possível conhecer o processo disciplinar que o relator da Federação elaborou a propósito do acto irreflectido do Seleccionador Nacional? Por que razão houve, desde o início, uma intenção de se branquear tão grave comportamento? Que interesses económicos e desportivos moveram e movem a Federação para que um acto desta natureza pudesse passar sem sanção ao nível do País? Que autoridade moral tem esta Federação para, no futuro, punir casos desta ou de menor gravidade que venham a ocorrer com outros atletas e técnicos de Clubes ou ao serviço desta mesma Federação?

Faltando apenas quatro jogos para que o apuramento se realize acha o Senhor Presidente da Federação que Filipe Scolari tem autoridade e condições psicológicas para bem dirigir, fora do banco, os jogos que é obrigatório ganhar? Nada assim tanto em dinheiro esta Federação para se permitir manter os custos de um seleccionador que, tendo sido punido pelas mais altas instâncias europeias do futebol, está disciplinarmente impedido de exercer em pleno as suas obrigações contratuais? Se o apuramento falhar, de quem é a responsabilidade? Do Seleccionador que só trabalha a meio termo, ou do Presidente da Federação que foi, desde o início, cúmplice no branqueamento dos disparates daquele Senhor?

segunda-feira, setembro 24, 2007

DEVE SCOLARI DEIXAR A SELECÇÃO NACIONAL?


A falta que Luís Filipe Scolari cometeu no fim do jogo Portugal-Sérvia foi uma falta muito grave. Tão grave que deveria ter dado origem a uma de duas atitudes: demissão a pedido do próprio, ou despedimento, por justa causa, a cargo da Federação Portuguesa de Futebol. Todos sabemos que nenhum destes caminhos foi seguido quer por um quer por outro. O empregado Luís Filipe, agarrado ao poder e às benesses que a função lhe atribuía, não pediu a demissão, renegou ainda a quente a agressão que todo o mundo viu, deu, umas horas depois, o dito por não dito, pediu desculpa pelo erro cometido e, sancionado pela UEFA com quatro jogos de suspensão, decidiu interpor recurso dessa punição, alegando estar a ser vítima de um castigo desproporcionado. O empregador Gilberto Madaíl, encolhido na concha de interesses que o comum dos mortais não conhece, ignorou praticamente o incidente e tentou mesmo branqueá-lo junto das altas esferas do futebol europeu. Sublime, não acham?

Confesso que nunca gostei deste Seleccionador Nacional e já o escrevi neste espaço, numa época em que aquele senhor ainda estava em estado de graça junto da generalidade dos portugueses. Desde sempre me irritou a forma como se relacionava com os portugueses e os clubes. Scolari foi, sem razão, especialmente agressivo com o Futebol Clube do Porto, arrogante com os jornalistas que dele discordavam e paternalista doentio com os portugueses que nele ingenuamente confiavam. Sempre me indignei com a forma como Scolari se dirigia aos portugueses, quando, do alto do seu pedestal, os tratava como se todos fossem uma cambada de analfabetos, integrantes de um País subdesenvolvido e menor. Há quem o ache um líder de primeiro plano. Para mim é um chefe sem classe, é um capataz de gente amorfa, é um sargento do tipo brutamontes. Mas também não gostei dele por razões de ordem técnica. Não foi capaz de aproveitar com sucesso os jogadores de craveira internacional que foram postos à sua disposição, não foi isento na escolha dos melhores profissionais de cada momento, tem sido inapto na formação de uma equipa renovada. Desaparecida a equipa base de José Mourinho tem-se visto “grego” para formar uma equipa ganhadora. Os resultados estão à vista: Portugal nunca ganhou nada e está a correr sérios riscos de não se apurar para o próximo Campeonato da Europa.

Luís Filipe Scolari não tem hoje condições para continuar no exercício das suas funções em Portugal. A falta que cometeu é muito grave, fragilizou-o para os próximos tempos. Um comandante debilitado torna fracos os seus comandados, é um derrotado à partida. Por isso, ou inteligentemente se afasta ou tem que ser afastado. Não falta, em Portugal, quem seja capaz de fazer melhor nesta fase crítica de apuramento da Selecção Nacional para o Europeu de 2008. Mourinho não disse, um dia destes, que, numa situação de emergência, se dispunha a sobraçar o cargo de Seleccionador Nacional? De que está à espera Senhor Presidente da Federação Portuguesa de Futebol? Que causas justificam a sua inadmissível hesitação, Senhor Dr. Gilberto Madaíl? Por favor, esclareça-nos...

terça-feira, agosto 28, 2007


OUTROS ASPECTOS DE UMA VIAGEM À RÚSSIA


Da recente visita que efectuei à Rússia ressaltaram-me outros aspectos mais correntes que, por falta de oportunidade, não mencionei no artigo que publiquei sob o título DE S. PETERSBURGO A MOSCOVO. Estive então mais atento ao que, de observação directa e in loco, conseguia ouvir, ver e saber acerca deste enorme País euro-asiático, sob o ponto de vista cultural, histórico, político e social. Foi, nesses domínios, uma viagem estimulante que admito voltar a fazer, designadamente a Moscovo.

Numa viagem destas, e num País tão cheio de expectativas, era impossível deixar de observar outros aspectos mais triviais, relacionados com a vida do dia a dia. São muitos mas apenas quero realçar dois: o turismo e as fortunas colossais que, em poucos anos, muitos russos conseguiram obter de forma escandalosa.

O turismo é ainda incipiente, atravessa um período de grande agitação, cresce atabalhoado e está, aos olhos de um europeu da classe média, muito longe de ser um turismo de qualidade. Tem-se a nítida sensação de que o importante para os operadores locais de turismo é ganhar muito dinheiro e rapidamente. O conforto do cliente que lhes paga é coisa que ainda não é para eles relevante. Vejamos:

Embora fazendo parte do pacote de serviços que foram pagos antecipadamente é muito frequente que, no aeroporto de chegada, não esteja nenhum guia local à espera do turista. Tive pessoalmente essa experiência, grupos houve que tiveram de esperar horas a fio pela vinda do guia previamente anunciado no voucher do seu programa de viagem; impressionou-me, neste contexto, a visível desorientação dum casal americano, de idade já muito avançada, abandonado à sua sorte e à inconsciência profissional dum guia que lhe prometeram estar ali à sua espera mas que não havia meio de chegar. Para cúmulo era raro encontrar, mesmo num espaço internacional, vivalma russa que falasse inglês.

O russo é, praticamente, a única língua que a generalidade das pessoas fala e utiliza, tornando-se muito difícil o diálogo com as populações sem a ajuda de guias profissionais. Os monumentos e a sua história apresentam-se, quase sempre, com legendas em russo, poucas há em inglês. Quem ousar deslocar-se sozinho ao Metro ou conduzir um automóvel na cidade ou no País terá, por essa razão, dificuldades acrescidas. É melhor não pensar nisso.

Disseram-me que a ligação de Moscovo a S. Petersbugo, feita de comboio à noite, é uma ligação lenta, desconfortável, de serviço fraco e com deficiências hoje inaceitáveis no domínio da higiene básica. Não constatei isso, felizmente, no Navio em que fiz a ligação fluvial entre as duas capitais. O serviço aqui já era razoável com o senão de as cabines serem ainda muito apertadas e desconfortáveis. Os navios, de idade avançada, deixam ainda muito a desejar. Em conforto e qualidade geral estão, curiosamente, muitos anos atrás dos cruzeiros do Nilo.

Após a desagregação da União Soviética e a subida ao poder do Presidente Boris Nikoláievitch Iéltsin tudo mudou, para melhor e para pior. Para melhor, desde logo pelo estabelecimento da democracia política num país cujo povo estava habituado a viver em ditadura e sofrer na pele, séculos e séculos, a ignomínia dos poderes sanguinários de Czares e Comunistas; para melhor, pela defesa, pelo menos teórica, dos direitos, liberdades e garantias do cidadão russo. Para pior, pela confusão generalizada que se instalou no País e nos Países que saíram da ex-União Soviética, com guerras violentas à mistura; para pior, pela degradação social das populações russas que, totalmente dependentes do Estado, não souberam, na generalidade, adaptar-se, de repente, a tempos diferentes e a uma nova mentalidade nascente; para pior pelo aumento do desemprego, pela privatização, a preços de saldo, de tudo o que era do Estado, especialmente das grandes empresas e meios de produção lucrativos; para pior pela desagregação da economia, pelo aumento do desemprego, pela falta de serviços, pelos altos preços praticados e pelo aparecimento de casos de pobreza extrema nas zonas mais afastadas dos grandes centros de decisão; para pior pelo aparecimento inopinado de fortunas colossais, conseguidas com a cumplicidade e falta de autoridade do Estado, pelo comportamento corrupto dos seus agentes que tudo facilitavam, também eles na voracidade dum enriquecimento rápido, ilícito e sem limites.

O que acabo de descrever resulta da observação directa do que vi, ouvi e interpretei. Depois de um comunismo atroz, a Rússia vive hoje num ambiente de capitalismo selvagem em que o dinheiro é o motor de tudo, e em que uma pequena parte da população está bem instalada na vida, e a outra, a grande maioria, se encontra numa situação de pobreza extrema, no limiar da indignidade humana. Até quando?

quinta-feira, agosto 16, 2007

DE S. PETERSBURGO A MOSCOVO


Se alguém tiver a intenção de um dia visitar a Rússia recomendo que o faça através de um cruzeiro fluvial que ligue S. Petersburgo a Moscovo. São mil e trezentos quilómetros de navegação que permitem, numa curta viagem de 10 dias, ter uma ideia geral do povo russo, da sua mentalidade, da sua história, da sua cultura, do seu nível de vida. Visitam-se pequenas, médias e grandes cidades, atravessam-se rios, lagos e canais, escalam-se eclusas e tem-se acesso a ilhas exóticas…

S. Petersburgo, Rio Neva, Lago Lagoda, Rio Svir, Mandrogy, Lago Onega, Ilhas de Valaam e de Kizhi, Canal de Kovzha, Lago Beloye, Goritzi, Rio Sheksna, Reservatório de Rybinsk, Yaroslavl, Rio Volga, Uglich, Canal de Moscovo e, finalmente, Moscovo, eis no que, em síntese, consiste este famoso cruzeiro, cujo título é, com rara felicidade, inspirado nas obras literárias de Radishhchev e Alexander Pushkin, respectivamente Journey from St Petersburg to Moscow e Journey from Moscow to St Petersburg, muito familiares também do próprio povo russo que, tendo condições económicas favoráveis, não deixa, ele próprio, de efectuar este deslumbrante cruzeiro.

Esta viagem permitiu-me saber que este extenso País é muito diferente nos níveis de desenvolvimento do seu povo. Moscovo imperial ou S. Petersburgo cosmopolita e cultural nada têm a ver com as outras cidades desta imensa Nação-Continente. Muito menos se assemelham às populações das vilas e aglomerados rurais em que a miséria económica e a degradação social se constituem na situação corrente de um povo que, sendo afável, manifesta ser simultaneamente sofredor, desiludido, resignado e sem esperança de uma vida melhor.

Há, por todos os lados, sinais claros do que foi a sua longa história, quase sempre sustentada por lutas de Poder Político e de uma nefasta influência do Poder Eclesiástico local. Estes dois poderes pouco quiseram saber de um povo que, escravizando na Terra, preparavam para um Céu que havia de vir. Poder religioso e poder político, lá como cá, sempre de braço dado, na preservação das suas próprias honrarias, mas sempre indiferente às condições de degradação económica do povo que governavam. O poder político dos Czares e a força religiosa dos Metropolitas, numa primeira fase milenar, e dos Comunistas, em todo o século vinte, foram as notas que mais marcaram uma Nação cujo povo se habituou a suportar sem capacidade de contestação. O povo russo é hoje, na sua raiz mais intrínseca, um povo manso, porque manso o fizeram os tiranetes da sua história. Depois de, na cidade de YAROSLAVL, me ter sido dito por um guia local que 50000 camponeses trabalhavam gratuitamente para 150 monges de uma riquíssima congregação religiosa, que forma mais concludente há para se descrever o que por lá se passou? Tudo em nome dos Czares na Terra e de Deus no Céu!!!

Esta forma de organização do povo russo deixou, pois, marcas históricas de grande importância, negativas e positivas. Como marcas negativas, o já aflorado poder tirano de czares e de dirigentes religiosos e, no último século, do poder político de comunistas sanguinários; Ivan (o Terrível), Pedro I (o Grande), Catarina II (a Grande) e, já nos tempos modernos, Estaline, são disso um arrepiante testemunho. Como sinais positivos ninguém pode esquecer, para além da literatura, ciência, música, teatro, vias fluviais e grandes obras de engenharia, o que pelo País abunda, de períodos mais longínquos, em matéria de igrejas, catedrais, monumentos, museus e palácios. As cúpulas douradas das catedrais de S. Petersburgo e Moscovo emprestam a estas cidades uma beleza única, dificilmente igualável no mundo. Neste contexto é obrigatório, em S. Petersburgo, visitar-se os palácios de Pedro o Grande (localizado em Peterhoff e residência de verão do czar, é tido como o Palácio de Versalhes russo) e de Catarina a Grande (em Pushkin), bem como o Museu Hermitage (uma espécie de Louvre de Paris e antigo Palácio de Inverno de Catarina II), considerado como o maior do mundo em termos de conteúdo e de números de obras expostas; como é obrigatório em Moscovo visitar-se o Kremlin, o Museu de Armeria, a Praça Vermelha, a Igreja de Cristo Redentor, a Catedral de S. Basílio e o Metro de Moscovo (que obra de arte este espantoso museu subterrâneo!!!).

Dizia-me um dos guias russos que durante o consulado soviético a religião deveria ser banida da sociedade russa. Não era mais necessária; a única “religião” oficialmente aceite deveria ser o próprio ideal comunista, a implantar em todos os territórios da então União Soviética mas a expandir igualmente por todo o mundo e por todos os povos, nem que fosse pela força das armas. Não nos fará este pensamento recordar algo de idêntico com as religiões que provieram de Cristo? O que foram as nove Cruzadas da Idade Média e o que é a Jihad islâmica dos tempos que correm?

Hoje por hoje não sou nada dado a grandes manifestações de natureza religiosa; mas na Praça Vermelha, lá que senti como que um deslumbramento de natureza mística que não consegui explicar, lá isso senti…Hei-de lá voltar.

segunda-feira, agosto 13, 2007


PERDER ASSIM, NÃO


O resultado do jogo da Super Taça Cândido de Oliveira que se disputou em Leiria no passado dia 11 de Agosto não é um resultado justo. Para a história fica sempre, é certo, a vitória do Sporting Clube de Portugal, mas o 1-0 final é lisonjeiro e não resulta, na minha opinião, de uma clara supremacia do vencedor. O SCP ganhou com um golo fortuitamente bonito, que só sai na rifa uma vez de tempos a tempos, mas pouco fez para justificar o primeiro troféu da época de 2007/2008. Paulo Bento, treinador medíocre, é notoriamente um treinador com sorte. Para sorte do Sporting. Até quando?

Mas houve erros incompreensíveis do Futebol Clube do Porto que contribuíram decisivamente para a sua derrota. Erros, em primeiro lugar, dos próprios jogadores que não foram capazes de transformar em golos as oportunidades que criaram; mas também erros graves de estratégia do treinador Jesualdo Ferreira. Um treinador competente define-se, independentemente das qualidades técnicas que revele ter, pela ousadia da estratégia que, qualquer que seja o adversário, escolhe para o confronto, e pela capacidade de tornar audazes os atletas que a vão interpretar no campo de jogo. Jesualdo Ferreira foi uma vez mais, num jogo decisivo, um treinador medroso. Escalou atletas para uma inaceitável postura de defesa e não ousou armar uma equipa para um ataque de vitória. Quando assim é, raramente se ganha, quase sempre se perde ou empata. É o que dizem as estatísticas; foi o que a estatística comprovou uma vez mais.

Mas neste processo há também uma figura pressaga. Bruno Paixão em campo nos jogos do FCP é garante seguro de vitória dos seus adversários. Foi quase sempre assim desde a lastimável arbitragem do já longínquo Campomaiorense-Futebol Clube do Porto, em que o resultado foi exactamente igual, depois de uma série de penalidades escandalosamente não marcadas também contra a equipa vencedora. No jogo do passado Sábado o inefável Bruno Paixão cometeu quatro erros graves, com incidência directa no resultado do jogo: dois cartões amarelos selectivamente mostrados, logo de início, a dois jogadores do FCP; uma flagrante grande penalidade não marcada contra o SCP numa altura em que o resultado era ainda de zero a zero; e uma inusitada paragem do jogo numa situação em que Adriano se encontrava em posição de poder fazer 1-0 a favor do FCP. Por tudo isto e pelas razões acima referidas a vitória do Sporting não foi uma vitória indiscutível; foi uma vitória que cheirou a falso.

Mas, por favor, Senhor Professor Jesualdo Ferreira: deixe, por uma vez, de ser medroso; quem tem medo não pode ser treinador do Futebol Clube do Porto.

quarta-feira, julho 18, 2007



UM PRESIDENTE DE 9% DE ELEITORES RECENSEADOS


É obra. Temos em Portugal um Presidente eleito com apenas 9% da população recenseada. Não conheço nos anais da democracia política portuguesa resultado igual. A vitória de António Costa, sendo formalmente irrecusável, é para ele um grande embaraço político. No lugar dele questionar-me-ia sobre se teria legitimidade real para governar a maior Câmara do País.

As eleições do passado Domingo dão muito que pensar. Desde logo por terem sido desnecessariamente precipitadas. Carmona Rodrigues tinha sido eleito para um mandato de quatro anos e não apenas para dois. Ser-se arguido num qualquer processo não é razão suficiente para se por em causa a legitimidade política de que Carmona era detentor.

Ser-se arguido hoje em Portugal é, além disso, um acto banal de que nenhum português está livre de se ver, de um momento para o outro, ignominiosamente constituído. Os casos multiplicam-se pelo País e o ex-presidente foi apenas uma das vítimas desta abominável fúria judicialista que persegue os portugueses. Por este caminho ninguém pode governar; basta que um qualquer magistrado do Ministério Público assim o queira.

É um paradoxo verificar, por outro lado, que o descalabro eleitoral de Lisboa tenha sido provocado pelo próprio partido de poder. Tratou-se dum acto suicidário absolutamente incompreensível. Como foi possível que o PSD desse, de mão beijada, o poder ao adversário? Erro crasso esse, como se viu.

Mas o descalabro de Lisboa não disse apenas respeito ao PSD e ao seu líder. Disse-o a todos os partidos do actual sistema político. Os lisboetas estiveram-se literalmente nas tintas para o acto eleitoral do passado dia 15 de Julho. Esmagadoramente quiseram dizer que já não acreditam nos políticos profissionais que temos, que os partidos, tal como estão, passaram de moda, que o actual modelo político português se encontra fatalmente ultrapassado e que é preciso encontrar outras formas de representação. As urnas do dia 15 de Julho disseram-no claramente.

quarta-feira, julho 11, 2007


OS MISTÉRIOS DE UMA SONDAGEM QUE SE CONTRADIZ


Há momentos em que entendo as sondagens políticas. Compreendi-as, por exemplo, quando o candidato a Primeiro-ministro nas eleições legislativas de 2005 era, segundo as sondagens de então, o candidato claramente vencedor. Além de o Governo de Santana Lopes se encontrar fatalmente desacreditado as promessas que o bacharel José Sócrates fazia aos portugueses favoreciam um desfecho vitorioso para o Partido Socialista e o seu Secretário-geral. Foi o que, sem surpresa, aconteceu. As sondagens confirmaram o que a realidade fazia prever.

Entendo-as também hoje no que toca à mais que provável vitória de António Costa nas eleições do próximo dia 15 de Julho para a Câmara de Lisboa. As sondagens já disseram quem vai ser o próximo Presidente da Câmara e eu acredito nelas. Inclusive penso que os outros candidatos também não têm dúvidas de quem será o vencedor. O ambiente social e político da cidade de Lisboa favorecem inapelavelmente o candidato socialista.

Mas, com franqueza, não percebo as sondagens que nos últimos tempos têm vindo a público em relação ao actual Governo. É que neste caso não diz a letra com a careta. O ambiente social que reina no seio da sociedade portuguesa é mau e globalmente hostil ao Governo e a José Sócrates mas, apesar disso, as sondagens espelham uma realidade diferente, no hipotético caso de novas eleições legislativas. Se as houvesse hoje José Sócrates e o Partido Socialista seriam, de novo, vencedores. Alguém entende isto? Por que razão, neste caso, as sondagens não reflectem a realidade que todos vêm e sentem?

O que se passa no nosso País em 2007 é o contrário absoluto do que Sócrates disse e prometeu antes de ser eleito em 2005. Sócrates, para ganhar, aldrabou irresponsavelmente os portugueses. Vejamos: Portugal deveria, nesta fase da actual legislatura, estar mais rico mas está hoje muito mais pobre, regredindo assustadoramente no ranking dos seus parceiros da União Europeia; a economia deveria estar mais fortalecida mas não há meio de crescer; a carga fiscal deveria ter sido substancialmente atenuada mas os impostos nunca apertaram tão impiedosamente o cinto dos portugueses como hoje; a saúde tem muito menos qualidade, é muito mais cara e o acesso aos cuidados é tremendamente mais difícil; a educação é um antro de confusões, perseguições, medos e conflitos; a justiça praticamente não funciona; a despesa pública é hoje mais elevada e, sem razão que se conheça, tem vido a subir na razão inversa dos apertos financeiros de que todos temos vindo a ser vexatoriamente explorados; se a taxa de desemprego era em 2005 de 7,5%, os seus índices são hoje de 8,2%, atingindo proporções nunca verificadas na sociedade portuguesa desde 1986.

Com um panorama tão negativo assim, e uma situação geral em todas as vertentes muito pior do que em 2005, como é possível, pergunto de novo, que as sondagens não expressem esta realidade e façam, ao contrário, do Partido Socialista e do licenciado José Sócrates os grandes vencedores dum putativo acto eleitoral, se realizado hoje?

Que mistérios abundam numa sondagem que, dando as indicações que dá, intrinsecamente se contradiz? Será por incapacidade das oposições? Será por causa da inexistência de alternativas políticas credíveis? Será por causa de um gigantesco programa de persuasão e propaganda que o chefe do Governo soube, com muito engenho, por em prática, iludindo e enganando, uma vez mais, os portugueses? Será por causa da comunicação social que temos, amorfa, vigiada, subserviente, medrosa?

Quem sabe responder a isto? Será o Governo mesmo competente e estarei eu, como outros, errado na apreciação que lhe faço? As sondagens feitas ao Governo é que estão certas? Neste caso específico, tergiverso.

quinta-feira, junho 21, 2007

A OTA DE UM OTÁRIO ÚTIL


É ponto assente. O novo Aeroporto Internacional de Lisboa vai ser construído na Ota. Alguém tem dúvidas sobre isso? Por mim não tenho.

O que significa então o estudo complementar que vai ser desenvolvido acerca da alternativa Alcochete? Perda de tempo e de dinheiro. Perda de tempo porque a decisão já foi, há muito, tomada pelo Governo e não vai, por isso, servir rigorosamente para nada; perda de dinheiro porque vamos todos ter que o pagar, sem que daí advenha retorno para o País, ou benefício visível para os cidadãos. Que utilidade tem, de facto, o dinheiro que um Governo irresponsável vai fazer-nos gastar com o estudo da alternativa ao Aeroporto da Ota? Nenhum; é uma despesa escandalosamente inútil.

O estudo que aí vem é, além de uma aldrabice sonsa, um mero esbanjamento de dinheiros públicos. É mais um assalto à bolsa dos portugueses perpetrado por um Governo que, gozando sem vergonha com todos nós, não há meio de cair. Vai um dia cair de maduro, mas, incompreensivelmente, não há meio de cair de vez.

O estudo da alternativa Alcochete tem, contudo, motivações políticas muito claras. É necessário ao Governo, é imprescindível a José Sócrates e é fundamental para a presente candidatura de António Costa. Durante seis meses o Governo deixa, no seu todo, de ter um problema que o flagelava todos os dias; durante seis meses o Primeiro-ministro pode, com mais tranquilidade, pensar melhor na presidência da União Europeia; durante os 30 dias decisivos da campanha eleitoral para a Câmara de Lisboa o socialista António Costa, com notório alívio, deixa de ter de responder à questão chata de, putativo presidente, ter que, em benefício do Aeroporto da Ota, justificar o abandono do aeroporto internacional da própria cidade de que quer ser Presidente.

E assim vai o nosso País. Indignado mas submisso; revoltado mas medroso; amargurado mas servil. Que raio estamos todos nós, cidadãos amoucos, a fazer? Não há ninguém que, com a fibra de outros que na história foram “valorosos”, dê um safanão reabilitante a todo este estado de astenia colectiva? Como vamos sair disto?

segunda-feira, junho 18, 2007

JORGE NUNO PINTO DA COSTA


Se há em Portugal algum dirigente desportivo cuja competência possa ser medida pelos êxitos que conseguiu, esse dirigente chama-se Jorge Nuno Pinto da Costa. Em mais de duas décadas como Presidente do Futebol Clube do Porto já ganhou tudo o que poderia ser ganho. Em Portugal, na Europa e no Mundo. Os troféus nacionais e internacionais atestam-no com inatacável evidência. Jorge Nuno é, por muito que isso custe aos seus detractores, um vencedor nato, um emblema eterno do FCP, uma referência obrigatória do desporto português. Ele é hoje um dos raros portugueses que, estando já para além do seu próprio País, surpreende o mundo com os êxitos que obteve, enaltece Portugal com a obra que construiu e orgulha os portugueses saudosos do seu País distante, qualquer que seja o recanto da diáspora em que se encontrem. Jorge Nuno Pinto da Costa e o seu Futebol Clube do Porto são, irmanados, uma marca incontornável do nosso País, na Europa e no Mundo. Não será exagero dizer-se que, no dirigismo desportivo, Jorge Nuno é, nos tempos de hoje, uma outra expressão do Eusébio dos anos sessenta, do Figo dos anos noventa e do Cristiano Ronaldo dos últimos tempos dos anos 2000.

Tive o privilégio de ler o que foi editado pelo jornal Público de hoje. Concordei com o que foi dito. Pinto da Costa é feliz sempre que fala do seu Futebol Clube do Porto, mas entristece-se naturalmente quando os assuntos são de outra natureza. Com a serenidade que sempre soube patentear na vida, mesmo em circunstâncias adversas, pressinto-o inundado pela amargura de algumas injustiças de que, aleivosamente, está a ser vítima, vejo-o incomodado pela traição de pessoas que amou, noto-o revoltado pelas tramas jurídicas do Apito Dourado, observo-o desiludido com as artimanhas com que gente despeitada o quer, à viva força, condenar.

Em Portugal não se pode ser um vencedor, não se pode, sobretudo, vencer muitas vezes. No desporto como nas outras actividades. Jorge Nuno Pinto da Costa e o Futebol Clube do Porto têm vencido quase sempre nas últimas décadas, cá dentro e lá fora, sem favores de ninguém. De forma limpa, com a luta abnegada dos seus atletas e sempre no terreno de jogo. Se antes de 1974 havia, em Lisboa, os chamados vencedores do odioso regime de então, o Futebol Clube do Porto e Jorge Nuno Pinto da Costa passaram a sê-lo, sem favores, do regime democrático que, entretanto, nasceu.

Toda a gente de boa fé verifica que Jorge Nuno Pinto da Costa e o Futebol Clube do Porto estão a ser alvo de perseguições intoleráveis. Como raramente são derrotados no campo de jogo têm que ser derrotados, a qualquer preço, na secretaria e nos tribunais. Por maiores que sejam as campanhas insultuosas, por mais ilustres que sejam os próceres das artimanhas judiciárias que artificialmente se criaram com o exclusivo fim de se obter a sua condenação, Jorge Nuno e o FCP vão vencer uma vez mais. Os justos vencedores da vida nunca perdem com burocratas invejosos e sabem também vencer com justiça nos Tribunais. É o caso presente.

domingo, junho 17, 2007

A SENHORA DO DEDO EM RISTE

Por muito que custe à Senhora Ministra da Educação, Margarida Moreira não pode continuar no exercício das funções de Directora Regional da Educação do Norte. Se nunca deveria ter sido nomeada no passado para aquelas funções, foi um erro crasso tê-la reconduzido recentemente no contexto do processo de reestruturação desta estrutura regional de educação. A DREN merece que a dirija outra pessoa, uma outra pessoa que, sem ser de dedo em riste, seja capaz liderar bem e de saber ouvir diferente. À frente deste Organismo Regional de Educação não pode estar um tiranete pífio, uma sarigueia qualquer. A dignidade da função requer um dirigente de alto nível, um dirigente com nobreza de carácter.

Aquela senhora não tem claramente perfil para o lugar. Ocupa-o, não por mérito próprio, mas por ser militante do Partido Socialista, por ter sabido aproximar-se de quem fosse capaz de lhe dar guarida partidária (diz-se, por aí, ser um tal ministro que ficou célebre pela famosa tirada do “jornalismo de sarjeta”…) e por ser o exemplo perfeito de como devem actuar, no terreno, os mangas de alpaca do todo poderoso Chefe José. Margarida Moreira não tem dimensão humana para o desempenho das funções que exerce, rareia-lhe cultura cívica, escapa-lhe o sentido democrático das coisas, escasseia-lhe visão estratégica, abunda-lhe o autoritarismo mesquinho, falta-lhe notoriamente, como se disse, nobreza de carácter.

Margarida Moreira é hoje, pelas piores razões, um celebridade nacional. É um pequeno tiranete que amedronta quem dela discorda, é um epifenómeno que, infelizmente, reproduz o que se vai passando pelo País fora. As pessoas em Portugal hoje têm medo; têm medo de discordar do poder político; têm medo de emitir publicamente opinião diferente; têm medo de desagradar aos chefes; receiam o poder político. Há um temor generalizado de represálias. Neste clima de medo, nunca visto desde que instalou o regime democrático, Fernando Charrua é apenas um exemplo. Até quando Senhor Primeiro-ministro?

terça-feira, maio 08, 2007


UM PAÍS MENOR. UM PAÍS SEM HOMENS DE VISÃO


Portugal tem sido, ao longo da sua história, um País de pensamento negativo. É da sua condição não saber afirmar-se com segurança no concerto das nações. Excepção feita ao período das Descobertas e a fogachos momentâneos de ocasião o nosso País sempre foi um país globalmente menor. Menor nos recursos naturais, menor na capacidade criativa do seu povo, menor na incapacidade endémica de se organizar, menor nas elites políticas que o governaram ao longo dos séculos.

Ainda hoje é assim e, presumo, será sempre assim para as próximas gerações. Está na massa genética dos portugueses fazer do seu País um País irrelevante, inculto, preguiçoso, boçal, submisso, pedinte, invejoso, economicamente dependente, traiçoeiro, ganancioso. São assim os portugueses, exactamente como é o País que fundaram. São assim os políticos que governaram e governam Portugal; são fracos porque fraca é a sua gente. Não têm culpa de serem como são; coerentemente não degeneram.

Apesar de tudo Portugal é um País de nove séculos, tem fronteiras consolidadas, criou, manteve e expandiu a sua própria língua, detém uma cultura própria. Apesar de tudo sobreviveu politicamente e soube deixar a sua marca no mundo por onde passou. Soube ser perene na Europa, na África, na América, na Ásia, na Oceania!!!

Como sair desta contradição aparentemente insanável? Como é possível deixarmos de ser o que hoje somos e passarmos a ser o que por vezes fomos? Não sei, duvido que alguém saiba. Tenho a convicção de que já não vamos lá com as gerações sobrevivas. Não vislumbro elites salvadoras. Onde as há?

terça-feira, abril 17, 2007


JOSÉ SÓCRATES DEVE, OBVIAMENTE, DEMITIR-SE


Já não consigo olhar de frente para José Sócrates. Sempre que o vejo na televisão assaltam-me dúvidas imensas acerca da autenticidade dum homem que um dia conseguiu ser Primeiro-ministro de Portugal. Ao vê-lo hoje em Marrocos fiquei, tenho que ser franco, arrepiado. Não consegui desligá-lo das mentiras públicas em que se envolveu antes de ser Primeiro-ministro e depois de o ser.

Utilizou truques para se promover socialmente através da sua carreira académica e prometeu, irresponsavelmente, aos portugueses aquilo que não podia ter prometido para ganhar eleições. Há no seu comportamento uma trapalhada de aldrabices que o não recomendam para o cargo de Primeiro-ministro do meu País. A forma, combinada, como conseguiu obter a classificação de 15 valores na cadeira de Inglês Técnico foi de bradar aos céus. Este homem, por se ter socorrido de repetidas falcatruas, deixou de ser credível. Digo isto com profunda frustração. Sinto-me envergonhado.

José Sócrates deve demitir-se, ou ser demitido. Por muito menos do que aquilo que ele fez houve Presidentes e grandes estadistas que tiveram de resignar. Há, como se vê pela sua história pessoal e política, mais do que um WATERGATE na conduta daquele senhor. Este homem não tem condições políticas para governar o meu País e para representá-lo, com dignidade, no contexto das relações internacionais. Sócrates não tem condições para presidir ao Conselho Europeu no segundo semestre de 2007.

O Partido Socialista e o Senhor Presidente da República têm que assumir as suas responsabilidades. A legislatura deve ser continuada até ao fim pela actual maioria parlamentar. Mas com outro Primeiro-ministro. Acabe-se com este calvário. O País exige-o.

quinta-feira, abril 12, 2007



SALPICOS DE UMA ENTREVISTA MAL ENGENDRADA


A entrevista que o licenciado José Sócrates concedeu, ontem noite, à RTP, não me convenceu. Pecou, desde logo, por ter sido feita na televisão pública, exactamente na estação que o próprio Primeiro-ministro tutela, e por jornalistas que, por via disso, se encontravam subconscientemente condicionados. Uma entrevista desta natureza só deveria ter sido feita numa das estações privadas e pelos próprios jornalistas que estiveram na génese dos factos que lhe deram origem. Como tudo teria sido diferente se esta entrevista tivesse sido feita pelos jornalistas do Público, Expresso e Rádio Renascença, ainda que na televisão pública!!!

O exercício do contraditório teria sido, de resto, a melhor forma de o Primeiro-ministro se defender das acusações de que fora alvo. José Alberto Carvalho e Maria Flor Pedroso, porque não conheciam a fundo o problema, nunca conseguiram encontrar o rumo certo, revelaram desfasamento e preparação insuficiente, mais parecendo ter necessidade de fazerem o frete ao Governante em dificuldades do que contribuírem para o cabal esclarecimento dos portugueses. Foi pena.

Ressaltam da entrevista algumas ideias-chave, que urgiria clarificar melhor. Ei-las, dentre outras: José Sócrates permitiu-se utilizar indevidamente, anos a fio, o título de Engenheiro sem que para isso estivesse devidamente habilitado; não ficou claro como foram obtidas as equivalências e se as mesmas foram objecto de rigoroso escrutínio pelo Conselho Científico da Universidade; não se compreende por que houve apenas um professor para quatro disciplinas, e o próprio reitor para a cadeira de Inglês Técnico, à revelia do professor desta cadeira; é esquisito que o aluno José Sócrates tenha obtido o direito às equivalências sem apresentação prévia, junto dos serviços competentes, do certificado das cadeiras que terá feito nos Estabelecimentos de Ensino onde foram ministradas; não se sabe como foram dadas as aulas práticas das cinco disciplinas que este aluno diz ter feito na Universidade Independente; ignora-se o que têm a dizer acerca desta embrulhada os colegas do aluno José Sócrates bem como os professores, Conselho Científico e pessoal da secretaria da Universidade; seria interessante conhecer a opinião da Ordem dos Engenheiros acerca do nível técnico-científico desta licenciatura.

José António Verdade é um profissional de contabilidade muito competente, reconhecido no meio e com uma excelente carteira de clientes. Com a sua vida profissional perfeitamente estabilizada, José António acalenta hoje o sonho de ingressar na Faculdade de Economia de uma das Universidades Portuguesas, para aí tirar a licenciatura em Economia. Depois de conhecer a história universitária do Primeiro-ministro José Sócrates ficou tranquilo. Espera, sem apresentação prévia do certificado do curso que possui por um Instituto Superior de Contabilidade, que a Faculdade de Economia lhe aceite as indicações verbais que vai proporcionar, lhe faça um plano de equivalências e lhe indique as cadeiras que terá de frequentar para concluir a sua tão desejada Licenciatura em Economia. Será que vai ter sucesso?

terça-feira, abril 10, 2007


O MORALISTA-MOR DO REINO


Incomoda-me ouvir, quase todos os dias, o Senhor Luís Filipe Vieira. Fala muito, em toda a parte, de tudo e de todos, contra tudo e contra todos. Quem o ouve e não conheça o seu passado recente fica com a ideia de que se trata dum homem íntegro, acima de qualquer suspeita, tantas são as conversas que faz em torno das virtudes públicas de que se diz ser praticamente o único portador. Tudo em nome do seu Benfica, do clube que ele, para risota de toda a gente, diz ser o maior clube do mundo.

Fora do desporto ignoro o que seja o seu passado de cidadão e de empresário. Pelo dinheiro que parece ter, pelos sinais exteriores de riqueza de que dá mostras é, certamente, um dos homens ricos da sociedade portuguesa. Não tenho elementos nem me sinto com competência para ajuizar sobre se a riqueza que detém é obra de um trabalho sério. Admito que sim.

Não posso dizer o mesmo no que toca ao seu comportamento como Presidente do Sport Lisboa e Benfica. A postura deste Senhor tem sido inqualificável; o seu comportamento público grassa, por norma, a boçalidade, não é sério e é indigno da instituição desportiva que representa. Julgando-se ser dono absoluto da verdade insinua que o Benfica só não ganhou mais vezes nos últimos anos porque os árbitros não deixaram; que o Benfica tem sido sempre prejudicado e que os clubes rivais sistematicamente favorecidos, especialmente o Futebol Clube do Porto. Nunca fala das vezes em que o seu clube é despudoramente protegido, esquece sempre as vezes em que os clubes rivais são descaradamente prejudicados. O seu comportamento, próprio de um songamonga, não prestigia o clube que nele depositou confiança.

Na história do futebol português são três os clubes de referência nacional: Sport Lisboa e Benfica, Sporting Clube de Portugal e Futebol Clube do Porto. Cada um teve o seu período de hegemonia. Ninguém esquece os anos de ouro dos cinco violinos do Sporting, ninguém contesta o poderio encarnando dos anos de Eusébio, ninguém deve por em dúvida a força do Futebol Clube do Porto das últimas três décadas. Ninguém, excepto o inefável Luís Filipe Vieira. Esse, detentor de todas as virtudes e moralista-mor do fenómeno desportivo do nosso País, acha que o Futebol Clube do Porto raramente ganhou com mérito no campo de jogo, entende que a sua força desportiva apenas se tem devido à decisiva influência que tem sabido exercer sobre os árbitros de futebol. Ao falar assim omite deliberadamente os êxitos internacionais deste clube; ao fazer aquelas insinuações ignora que, no mesmo período de três décadas, o FCP foi por duas vezes campeão europeu, uma vez finalista vencedor da Taça UEFA, uma vez finalista vencido desta última Taça, duas vezes Campeão da Taça Intercontinental, uma vez vencedor da Super-Taça Europeia e uma outra vez finalista vencido desta mesma última Taça. Tal como o Benfica o foi no passado longínquo dos anos sessenta, o Futebol Clube do Porto é, de há trinta anos a esta parte, o principal baluarte do desporto nacional, bem como a grande referência mundial do futebol português. Por muito que isso custe àquele indizível senhor.