terça-feira, outubro 30, 2007

CASTAS LUSITANAS


O nosso País é um País de castas. De muitas e variadas, para todos os gostos, tradicionais e modernas, de natureza política, de feição religiosa ou de cariz económico. Sendo uma casta, de acordo com a Porto Editora, “uma classe de cidadãos que goza de privilégios especiais”, ou “todo o grupo social ciosamente fechado sobre si”, não é difícil vê-las por esse país fora, aos montes. Basta estar atento.

Se, ao longo da história, se distinguiram e distinguem ainda os membros da Opus Dei e das Lojas Maçónicas, proliferam pela nossa sociedade outras castas que, ínsitas ou já desligadas daquelas, têm sido objecto, pelos piores motivos, de uma especial atenção por parte da Comunicação Social e da opinião pública portuguesa. Não querendo falar de todas as castas, há hoje na sociedade portuguesa a chamada casta dos gestores dos Grandes Grupos Económicos, de capitais públicos e privados. A Caixa Geral de Depósitos, o Banco de Portugal, a Portugal Telecom, a Galp, o Milénio BCP, a EDP, a RTP, a REFER, a CP… são, dentre outros, exemplos recentes de como funciona a malfadada casta de alguns dos mais famosos Gestores de Portugal. Gravitam por aí, giram de um grupo económico para outro, contratam-se entre si, reformam-se e voltam a ser contratados, perpetuam-se no poder anos a fio, estabelecem as suas remunerações, fixam as suas reformas, negoceiam as saídas de um grupo para logo entrarem noutro, permitem-se conceder a si próprios e aos seus familiares empréstimos milionários sem juros, a juros baixos ou, cúmulo dos cúmulos, com perdão do seu próprio pagamento; atentos ao mercado e detentores de informação privilegiada permitem-se criar condições para a baixa artificial das acções dos grupos a que pertencem para logo a seguir as revenderem com mais valias milionárias.

As reformas milionárias dos gestores da Caixa Geral de Depósitos e do Banco de Portugal; os empréstimos que se permitem obter junto desta última entidade reguladora; e os episódios rocambolescos dos Administradores do Grupo Millenium BCP são três exemplos claros acerca do modo como esta classe de privilegiados funciona, do carácter que revelam e do desplante com que placidamente continuam a aparecer junto da opinião pública portuguesa. Não têm vergonha, gozam despudoradamente com a fragilidade de quem tudo suporta.

Enquanto isto acontece o País deprime-se, os portugueses empobrecem, a classe média definha. O que se passa no nosso País é um escândalo, caiu-se, há muito, ao nível da indecência. Até quando?

domingo, outubro 21, 2007


UM PAÍS DE POLÍTICA MENTIREIRA


O actual Ministro das Finanças parece ser um daqueles homens relativamente ao qual é difícil recair qualquer onda de azedume. O ar cândido, o passado impoluto e a forma elegante como dialogava com as pessoas faziam dele um homem talhado para um papel de grande relevo na sociedade portuguesa. Tem-no sido ao longo da sua vida como Professor Universitário na Faculdade de Economia da Universidade do Porto, como Presidente da Comissão do Mercado de Valores Mobiliários e, de há dois anos a esta parte, como Ministro das Finanças. Por bons e maus motivos…

Conheço o Professor Fernando Teixeira dos Santos no contexto dos Cursos de Defesa Nacional, recordando-me do auditor assíduo, do aluno atento, do discípulo deferente, do companheiro solidário. Professor universitário de profissão, Teixeira dos Santos era um homem simples de quem se gostava à primeira. Ainda hoje mantenho a excelente impressão que a colegas e professores causava.

Todavia, se Teixeira dos Santos conseguia facilmente criar, junto daqueles com quem lidava, uma auréola de professor competente, de auditor interessado, de gestor com amplo sentido de visão no âmbito da CMVM, tenho hoje muitas dúvidas de que o seu papel como Ministro das Finanças do nosso País esteja a ser um papel positivo. O tempo o dirá, mas não vai, seguramente, ficar com bom-nome na história dos ministros das finanças portugueses. E é pena porque este homem afável bem o merecia.

Com a política monetarista que imprimiu ao seu Ministério e ao País, vexou, de forma indecorosa, os aposentados da Caixa Geral de Aposentações, maltratou os professores, disse mal dos médicos e profissionais de saúde, ostracizou magistrados e juízes, não soube, enfim, respeitar os próprios funcionários públicos que o serviam e de quem se serve.

Obcecado pelo défice das finanças públicas Teixeira dos Santos não tem sabido ser um Ministro das Finanças à altura das dificuldades do País. Qualquer contabilista de formação mediana sabia fazer o que tem vindo a fazer. Aumentar os impostos e diminuir traiçoeiramente os rendimentos de funcionários públicos e aposentados do seu Ministério é uma decisão de merceeiro mal amanhado, não é decisão própria de um Ministro das Finanças com visão estratégica. Uma empresa em dificuldades que tratasse os seus clientes como Teixeira dos Santos e o Chefe de Governo têm tratado os portugueses já teria fatalmente falido. Se um País, pela natureza das coisas, não pode falir, há muito que uma boa parte dos portugueses está falida. Sugados pelo fisco até ao tutano, os portugueses da chamada classe média, se ainda não faliram todos, estão irremediavelmente mais pobres.

O que resultou da política adoptada pela dupla José Sócrates /Teixeira dos Santos depois de dois anos de governo? Crescimento pífio da economia portuguesa; diminuição galopante do poder de compra da maioria dos cidadãos; meio milhão de portugueses desempregados; dois milhões de portugueses pobres ou no limiar da pobreza; contestação social generalizada; riqueza ilicitamente acumulada em "meia dúzia" de modernos "senhores feudais"; pequena e alta corrupção; indigência; criminalidade e insegurança; pobreza envergonhada; política desprestigiada; políticos mentireiros…

Como ter mão nisto? Não há quem se revolte?