VOOS CHARTERS
Já viajei muitas vezes nos chamados voos charters mas, confesso, nunca gostei muito deste meio aéreo de transporte. O único atractivo que apresenta é o baixo preço das suas tarifas, substancialmente muito mais reduzido do que o praticado pelas companhias de aviação de voos regulares. Se se não tiver em conta a questão da tarifa, os inconvenientes do charter são em muito maior número do que as vantagens que são oferecidas pelos aviões de carreiras regulares.
Há, entre estes dois modelos de transporte aéreo, uma decisão clara que tem de ser tomada: ou se escolhe apenas a tarifa mais barata, e o charter é claramente a escolha a fazer; ou se opta pelo conforto de um avião mais seguro, e a opção a tomar é o avião de preço mais elevado de uma companhia de voos regulares. Ou se opta, em suma, por pagar menos, e se tem a noção de que se vai viajar num avião que é, por norma, velho e inseguro; ou se escolhe a tarifa mais cara, e se tem a convicção de que se vai fazer um voo num avião mais moderno, mais confortável e, sobretudo, mais seguro.
Não tenho informação actualizada acerca do número de acidentes com os aviões charters e não sei se, em proporção, são em maior ou menor número do que os acidentes das outras companhias aéreas. Proporcionalmente o número de acidentes com aviões charters pode até ser menor, mas o que, por experiência própria, sei, é que uma viagem neste tipo de avião se transforma, de uma maneira geral, numa infindável fonte de problemas. Na partida, durante o voo, na chegada ao destino, no regresso ao aeroporto de origem. A confusão é sempre muita, os responsáveis do que não está bem dificilmente dão a cara, quando há problemas cada um desenrasca-se como pode.
Viajar num voo charter é, por sistema, viajar com desconforto; utilizar estes aviões é ter a certeza de que se vai voar apertado, com condições do tipo sardinha na canasta; escolher um voo charter é ter a noção de que o voo não vai cumprir os horários, é estar preparado para ter de ficar em terra, é estar psicologicamente predisposto para ter de passar noites deitado nos bancos do aeroporto, é ter a certeza de que o avião em que vai viajar tem mau aspecto, de que é velho e assustadoramente inseguro. Num avião charter a manutenção diária praticamente não existe e as operações de grande manutenção, por norma, são deficientes. Num charter, o pessoal de bordo aparenta ter pouca preparação e é normalmente mal-encarado. Num voo charter o snack praticamente não existe, a limpeza deixa muito a desejar, as condições de higiene a bordo são habitualmente más.
O acidente aéreo de Barajas do passado dia 20 de Julho foi aquele tipo de tragédia que é muito próprio de um avião charter. Os sinais que têm vindo a público por declarações de testemunhas de origem variada demonstram que as circunstâncias em que o acidente se deu configuram, infelizmente, isso mesmo. Confusão no check-in, atraso de voo, avião velho, descolagem abortada, manutenção local duvidosa, assistência técnica insuficiente, nova tentativa de descolagem, incêndio no motor, descontrolo do avião, desastre inevitável, dezenas de vidas humanas tragicamente trucidadas.
Teria este desastre acontecido com um voo regular? Penso que não. A segurança não tem preço, a vida vive-se apenas uma vez, perdida não se repete. Vistas as coisas assim, a opção por um ou outro modelo de transporte aéreo parece clara. Já fiz a minha.
2 comentários:
Não me assusta viajar de avião, mas sempre evitei a experiência de um voo charter. A pouco e pouco começava a pensar que não havia razão para esta minha falta de confiança nesta modalidade de transporte. E andava tentado a experimentar, mas este acidente e o que acabo de ler aqui coloca um ponto final nas minhas dúvidas.
Corroboro, em toda a linha, o pensamento do autor do artigo.Só quem nunca andou nos aviões charters ou não observou a confusão que se passa nos aeroportos nos momentos de partida e regresso destes voos é que, porventura, poderá ainda duvidar das verdades que este artigo em boa hora veio por a nú.
Numa recente deslocação que fiz num avião destes pude pessoalmente ter a experiência do que é uma tentativa de descolagem abortada e do medo que isso provoca nos passageiros no acto de uma nova tentativa de descolagem, ainda que bem sucedida. O medo acompanha-nos durante toda a viagem...
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