sábado, maio 31, 2008

AGORA FAÇAM O FAVOR DE TER JUÍZO


O Partido Social-democrata tem, a partir de hoje, uma nova liderança. Manuela Ferreira Leite acaba de ser eleita Presidente do segundo maior partido português, sendo, dentro do PSD, a primeira mulher a desempenhar uma tal função. Conforme as previsões, ganhou democraticamente nas urnas contra Pedro Passos Coelho, Pedro Santana Lopes e Mário Patinha Antão. Não obteve uma maioria absoluta mas assiste-lhe a legitimidade de uma vitória clara que não foi posta em dúvida por nenhum dos candidatos derrotados, que, de resto, a felicitaram tão depressa foram conhecidos os resultados eleitorais. Todos tiveram fair play na hora da vitória e da derrota. Um bom sinal…

Ferreira Leite tem, a partir de agora, cinco tarefas fundamentais a levar a cabo, e pela seguinte ordem de prioridade: unir e credibilizar o Partido; unir os deputados e reorganizar a liderança do grupo parlamentar na Assembleia da República; seduzir os portugueses para as causas que defende; derrotar José Sócrates nas legislativas de 2009; formar Governo e traçar um novo rumo para Portugal. São, é certo, as habituais tarefas de um líder partidário que, na oposição, pretende ser Primeiro-ministro, mas que, no contexto da actual situação política portuguesa e mundial, se revelam de acrescida dificuldade de execução.

Depois de se terem ouvido as últimas declarações de azedume do Presidente demissionário e sendo do domínio público que o PSD se encontra, sob o controlo de caciques locais, incrivelmente organizado em maquiavélicos sindicatos de voto, não será tarefa fácil unir e credibilizar o partido; sabendo-se, como se sabe, qual é a composição do actual grupo parlamentar, eleito em condições de especial comprometimento com o ex-primeiro Ministro, é gigantesca a tarefa de unir os actuais deputados e mobilizá-los para um processo de luta contra José Sócrates e o Governo por si liderado; mais fácil parece a tarefa de sedução dos portugueses para as causas que defende, se conseguir demarcar-se, com clareza, das políticas e da forma como Sócrates tem vindo a lidar com a sociedade portuguesa; derrotar o actual Primeiro-ministro, formar Governo e traçar para Portugal um novo rumo de desenvolvimento económico e social, são tarefas possíveis que apenas dependem do sucesso que Manuela Ferreira Leite tiver, até ao próximo acto eleitoral de 2009, na concretização das tarefas anteriormente descritas.

Manuela Ferreira Leite tornou-se num mito dentro da família social-democrata. Íntegra, tranquila, de honestidade acima de qualquer suspeita, tecnicamente competente, dedicada ao Partido e ao bem-estar dos portugueses, esta prestigiada militante do Partido Social-democrata era, na embrulhada em que o PSD se tinha metido desde que Durão Barroso decidiu ir tratar dos seus interesses pessoais para Bruxelas, a referência salvadora. Uma vez eleita, tem o caminho aberto para demonstrar o que vale dentro do Partido, junto dos portugueses e nas legislativas de 2009. Se conseguir vencer José Sócrates no ano que vem, ficará na história como a heroína salvadora; se perder, esvair-se-á a auréola de que era detentora. Como a todos os que perderam.

Manuela Ferreira Leite é a primeira mulher portuguesa a presidir a um partido político de poder. Ninguém tem dúvidas de que quererá fazer o melhor pelo PSD e pelo País. Assim saibam estar com ela os que venceram e os que perderam no combate eleitoral que hoje terminou. Haja sensatez;que todos tenham juízo.

segunda-feira, maio 26, 2008

NÃO SE ILUDAM COM A ACTUAL SELECÇÃO NACIONAL


Não acredito na selecção portuguesa de futebol que Luís Filipe Scolari está a formar em Viseu para o campeonato da Europa que vai ter lugar no próximo mês de Junho, na Áustria e na Suíça. Há jogadores que estão lá e não deviam estar; há jogadores que não foram escolhidos e deviam tê-lo sido. Uma equipa que não tem um guarda-redes de categoria, que não tem um lateral esquerdo de classe e que não tem um ponta de lança de prestígio, dificilmente poderá ir longe. Só por um bambúrrio da sorte ganhará coisa que se veja.

Por outro lado incomoda-me aquilo que se vai passando pelo estágio. Por aquelas bandas parece haver mais passagem de modelos com honras diárias de televisão do que um estágio sério de preparação de uma equipa nacional que está prestes a entrar numa competição internacional de grande exigência. O que andaram por lá a fazer Roberto Leal e Tony Carreira? Aquilo parece tudo um lamentável forrobodó. Por onde tem andado o sargentão? Ou me engano muito ou este folguedo de honrarias e festanças vai pagar-se caro.

Que ninguém se iluda. Scolari nunca foi, no nosso País, um treinador capaz de, com os atletas que teve ao seu dispor, constituir uma equipa ganhadora. Com jogadores de qualidade, com vedetas de dimensão internacional, com atletas que tinham acabado de vencer competições europeias e mundiais, este seleccionador nunca conseguiu ganhar nada à frente da Selecção Nacional. Continua a ter ainda jogadores de elevada cotação internacional, dispõe mesmo do melhor jogador do mundo, mas não se vislumbra que Filipe Scolari esteja a construir uma equipa organizada, coerente, com fio de jogo e em que o conjunto se sobreponha sempre às altas individualidades.

Portugal, com as estrelas internacionais que possui, precisava de um treinador vencedor; precisava de alguém com a inteligência de José Mourinho ou a capacidade de organização de Otto Rehagel. Mourinho no Futebol Clube do Porto e no Chelsea, e Rehagel no comando da selecção da Grécia foram treinadores vencedores. Organizaram-se para as vitórias e, sem contestação, obtiveram-nas de forma brilhante. Scolari ainda não passou, em Portugal, de um treinador vulgar, de um treinador do quase que vence mas não vence. Quase que vencia o euro 2004 mas ficou-se pelo segundo lugar; quase que vencia o mundial de 2006 mas ficou-se pelo quarto lugar.

No contexto em que estão as coisas, e em que já não há nada a fazer, espero que Luís Filipe Scolari ganhe finalmente alguma coisa no comando da Selecção portuguesa. Tendo em conta os factos do passado recente não acredito, mas desejo sinceramente ser rebatido no próximo mês de Junho.

segunda-feira, maio 19, 2008

COMPETENTE MAS IRRITANTEMENTE INCAPAZ


Falar depois de se conhecer o resultado dum jogo de futebol é sempre muito fácil. Na vitória, o treinador foi competente, na derrota o treinador não prestou para nada. É o que este ano aconteceu com o professor Jesualdo Ferreira: foi competente por ter sido campeão nacional dois anos seguidos; acaba de ser considerado incapaz por ter sido derrotado na final da Taça de Portugal pelo Sporting Clube de Portugal.

Considero Jesualdo Ferreira um treinador vitorioso e com capacidade de organização para um campeonato de trinta jornadas; mas também o considero medíocre para um tipo de jogo em que esteja em causa a vitória num único jogo. São prova da sua capacidade os dois campeonatos seguidos na Primeira Liga de Portugal nos anos de 2006/2007 e 2007/2008; provam a sua incompetência para vencer finais ou jogos decisivos as duas derrotas com o SCP na última Taça Cândido de Oliveira e na final da Taça de Portugal da tarde de 18 de Maio de 2008. Contra factos não há argumentos.

É pena que o Professor Jesualdo Ferreira ainda não tenha percebido que o FCP nunca pode entrar numa competição para empatar ou ganhar à tangente. Sempre que isso aconteceu consigo o FCP perdeu. Perdeu com o Sporting por três vezes em ano e meio, foi fatalmente derrotado pelo Chelsea, Liverpool e Schalke 04 nas duas últimas edições da Champions League.

Jesualdo tem um medo enorme de perder um jogo. Isso tem sido notório sempre que o figurino da equipa passa do seu habitual modelo ofensivo para um modelo de nítida defesa de um resultado tangencial. Antes da final desta última edição da Taça de Portugal nunca me passou pela cabeça que Jesualdo viesse, uma vez mais, a incorrer nesse erro. Incorreu e perdeu de novo. Não se percebe que João Paulo tenha alinhado a defesa esquerdo, sendo um central; não se entende por que fica de fora da equipa o avançado Tarik Sektoui, substituído por um desengonçado Mariano González, de pendor mais claramente defensivo.

Só por ter medo de perder é que Jesualdo abandona o seu habitual esquema de jogo de 4-3-3, substituindo-o, sem razão, por um sistema defensivo de 4-2-2. Sem José Bosíngwa, com Tarik Sektoui inexplicavelmente no banco e com um sistema de jogo virado mais para a defesa do que para o ataque, o resultado só poderia ser o que foi nesta final do Estádio do Jamor. Tem sido sempre assim, provam-no os desaires acima referidos. Até quando, Senhor Professor? Espero que definitivamente tenha aprendido a lição. Os desafios da nova época desportiva assim o exigem, o Futebol Clube do Porto quer que o Senhor deixe de ser medroso. Veja lá se consegue...

terça-feira, maio 13, 2008

UM ESTÁDIO HELÉNICO


Nunca aceitei que a final da taça de Portugal tivesse sempre lugar no Estádio Nacional. Impressionou-me, por isso, muito mal que o actual Secretário de Estado do Desporto tivesse feito a apologia deste Estádio como palco de jogo do próximo dia 18 de Maio. Dizia aquele responsável político que também devemos viver de símbolos, de momentos mágicos, sendo que aquele Estádio é um dos símbolos de maior magia do nosso País. Mas a que raio de símbolo mágico se refere Laurentino Dias? Será este senhor um dos nostálgicos do regime político que, há décadas, fez daquele Estádio uma referência mor do poder que nos subjugou durante quarenta anos? É que nos tempos de hoje o Estádio Nacional, por muito helénico que lhe pareça, só me faz recordar Salazar, o centralismo político, administrativo e desportivo de Lisboa, bem como a obrigação quase patriótica de que o vencedor da Taça de Portugal devesse ser sempre um dos três clubes da capital.

No passado longínquo apenas teria justificação que uma final se pudesse realizar no Jamor se os contendores fossem da cidade de Lisboa. Não o sendo, a equidade desportiva esteve, na minha opinião, quase sempre em causa. Uma coisa é um clube de Lisboa jogar naquele estádio, outra, bem diferente, é um clube do norte, do sul, do Funchal ou até mesmo da cidade de Setúbal, ter que jogar naquele lugar. As circunstâncias da disputa são objectivamente diferentes e a verdade desportiva, pode, por isso, ficar á partida viciada.

Para o Benfica ou para o Sporting disputar uma final no Estádio do Jamor é, na prática, o mesmo que a disputar no Estádio da Luz ou no Estádio José de Alvalade, com todos os sócios e adeptos ali mesmo à mão de semear. Não é o mesmo para o Futebol Clube do Porto, para o Boavista, para o Braga, para o Marítimo ou para o Vitória de Setúbal. Para estes clubes disputar uma final em Oeiras é, na prática, o mesmo que a disputar no campo do adversário. Ou não será assim? Não estarão os sócios dos clubes que visitam Lisboa em condições económicas muito mais desfavoráveis? Não seria mais justo, mais democrático que o campo de jogo de uma final da Taça de Portugal ocorresse sistematicamente num local neutro e que acarretasse sacrifícios similares para os adeptos de ambas as equipas finalistas? Não será um disparate pegado realizar-se uma final no Jamor quando os adversários pertencem a outras cidades que não a cidade de Lisboa?

A disputa da final da Taça de Portugal do próximo dia 18 de Maio no Estádio Nacional vai ser uma luta em que as circunstâncias desportivas e económicas favorecem claramente o clube de Lisboa. O Sporting Clube de Portugal vai jogar a final ali ao lado do seu próprio Estádio, com os seus sócios, com mais adeptos, sem outros custos senão os que apenas vão decorrer da compra do bilhete de acesso ao jogo.

Muitos sócios e adeptos do actual campeão nacional gostariam de, ao vivo, assistir ao jogo do próximo Domingo. Não o vão poder fazer pela própria dificuldade da deslocação, por acharem desgastante fazerem 700 quilómetros num só dia e por não estarem disponíveis para as despesas que teriam forçosamente de resultar dessa mesma deslocação; iriam, certamente, se o jogo fosse realizado em Coimbra ou em Leiria, num estádio moderno, confortável e em condições de sacrifício económico exactamente iguais para os adeptos do Futebol Clube do Porto e do Sporting Clube de Portugal. Sendo o jogo no Estádio Nacional, infelizmente não vão.

Já agora por que é que a Selecção Portuguesa de Futebol não realiza os jogos internacionais no Estádio do Jamor?