sexta-feira, novembro 30, 2007


TRÊS HOMENS DE VISÃO

É frequente dizer-se que no nosso País não há uma visão estratégica de futuro. Isso é globalmente verdade e tem sido norma no decurso da sua longa história de oito séculos de independência política. Portugal foi sempre, com raras excepções, um País subalterno no concerto das nações mais desenvolvidas. Não era propriamente a pequenez geográfica que lhe atribuía esse estatuto, mas era a gritante incapacidade das gentes que o habitavam. Foi assim no período da fundação, tem sido sempre assim no decurso da sua existência de oitocentos anos de autonomia política, é claramente assim em 2007, mas hoje com a agravante de se estar a correr o risco de perda da sua identidade secular.

Em Portugal não há elites mobilizadoras, os políticos não prestam, José S. Pinto de Sousa é um primeiro-ministro mesquinho e sem dimensão, as “castas lusitanas”, desprezando o interesse geral, só se preocupam com aquilo que lhes dá poder ou reforça a fortuna de que são já são possuidores. As classes dominantes não servem o País, servem-se descaradamente dele para seu próprio proveito. Foi quase sempre assim, é assim nos tempos de hoje. É esta a nossa sina, tem sido este o nosso fado.

Apesar de tudo há casos isolados de sucesso; pontuais, mas de indesmentível sucesso. A história conhece os seus autores e foram eles que, de algum modo, foram dando visibilidade a um País de irrelevante interesse internacional. Sem me querer deliberadamente referir aos casos e pessoas que, pelos seus feitos, foram, em todas épocas, ficando na história de Portugal, senti-me no dever patriótico de salientar três homens de sucesso recente. Jorge Jardim Gonçalves, Luís Todo Bom e José Manuel Castro Rocha foram, de facto, três homens de sucesso. Se, de uma forma geral, no nosso País não há homens de VISÃO, estes tiveram-na e deixaram, por isso, obra duradoira no domínio da banca, das telecomunicações e das actividades energéticas.

Não é possível falar-se do Grupo Millenium BCP e do que ele representa para o progresso da banca portuguesa sem se falar do Engenheiro Jardim Gonçalves; não é possível falar-se do Grupo PT e do que as telecomunicações significam para o nosso País sem se referir o nome do Engenheiro Luís Todo Bom; não é, enfim, possível falar-se do Grupo EDP e do peso estratégico que o mesmo simboliza para os portugueses sem se recordar o Dr. José Manuel Castro Rocha.

No âmbito das funções profissionais que desempenhei tive o privilégio de me relacionar com estes três homens. Pela alta capacidade de VISÃO estratégica que demonstraram no contexto das funções por que foram, numa época muito difícil, responsáveis, Jardim Gonçalves, Luís Todo Bom e Castro Rocha representam um caso raro de sucesso empresarial. A obra que fundaram e legaram aos portugueses é a sua demonstração de glória.

Se a banca portuguesa está hoje ao nível do que há de moderno e mais bem organizado no âmbito do sistema bancário europeu e mundial isso é, em grande medida, devido ao fundador do BCP e do Grupo Millenium BCP; se o Grupo Portugal Telecom é hoje a “maior entidade empresarial privada portuguesa, um operador global de telecomunicações, líder a nível nacional em todos os sectores em que actua”, e uma referência positiva de Portugal no mundo, isso deve-se à VISÃO e elevada capacidade de gestão que o Engenheiro Todo Bom demonstrou ter durante o período em que foi o seu Presidente executivo, nos anos de 1994 a 1996; se o Grupo EDP é hoje uma “empresa de energia integrada, líder em criação de valor nos mercados" onde estiver implantada e, igualmente, uma instituição de referência ao nível nacional e internacional, há também aqui uma quota parte muito grande de contribuição do Dr. Castro Rocha, um dos seus mais prestigiados Presidentes.

Como seria diferente Portugal se os políticos que o têm vindo a governar tivessem a capacidade demonstrada por aqueles três HOMENS DE VISÃO!!! Infelizmente não têm; é por isso e por causa da sua mediocridade que o nosso país nunca mais passa da cepa torta em que fatalmente se encontra.

quarta-feira, novembro 28, 2007

UM TREINADOR COM MEDO


O Futebol Clube do Porto foi, esta noite, copiosamente batido pelo Liverpool por quatro bolas a uma. Um desastre. Senti-me profundamente envergonhado pelos números expressivos da derrota e pela forma como a mesma se deu. É uma derrota esmagadora que não condiz com o historial da mais prestigiada equipa portuguesa de futebol. O que aconteceu hoje em Anfield Road foi obsceno, foi uma catástrofe absolutamente inadmissível, foi mau de mais, foi uma vergonha que desprestigiou o clube, a cidade e o país.

Quando, no início do jogo, foi conhecida a constituição da equipa uma conclusão imediatamente saltava à vista de todos: o treinador do Futebol Clube do Porto estava apavorado e, por isso, ia jogar à defesa. De uma assentada procedeu à alteração de quase meia equipa, retirando quatro jogadores habituados a jogar juntos e substituindo-os por outros de carácter globalmente mais defensivo. O resultado estava claramente preanunciado: DERROTA clara, sem apelo nem agravo. Era, de resto, o renascer de um filme já conhecido noutras ocasiões, em circunstâncias muito parecidas. Foi assim com o Chelsea há um ano; foi assim no início desta época com a final da Super Taça Cândido de Oliveira. Em ambos os casos Jesualdo teve medo; em ambos os casos o Futebol Clube do Porto perdeu.

No desporto, como em todas as actividades da vida, quem tem medo raramente ganha, quase sempre perde. Foi o que aconteceu em Anfield Road. Nunca pensei que, aos sessenta anos, um homem com a experiência de vida de Jesualdo Ferreira ainda tivesse medo. Medo de quê? De perder um jogo de futebol? Como já lhe disse um dia, quando também perdeu a final da referida Taça Cândido de Oliveira, se não for capaz de se libertar dos medos de que se atormenta quando tem de enfrentar uma grande equipa europeia de futebol ou uma equipa portuguesa de capacidade semelhante, não pode continuar a ser o treinador do Futebol Clube do Porto.

O que vai fazer agora na jogo do próximo Sábado com o Benfica? Vai jogar à defesa? Ou vai jogar de peito feito, sem medo, com os jogadores que habitualmente ganham? Dificilmente terá condições serenas de trabalho se voltar a perder no Sábado nas circunstâncias em que perdeu esta noite em Anfield Road. Por que é que mudou meia equipa para este jogo? Por que é que, atarantado, sistematicamente mexe na equipa para os jogos de alto risco? Ainda não aprendeu a lição? Lembre-se dum grande ditado popular, Senhor Professor Jesualdo Ferreira: numa equipa que ganha não se mexe. Meta isto na sua cabeça e redima-se para ainda ter condições de continuar a ser o Treinador do Futebol Clube do Porto. Ainda não perdeu substancialmente nada; mas pode perder objectivamente tudo.

sexta-feira, novembro 09, 2007


VITUPÉRIOS DE UM VÍLICO SEM CLASSE


Fui um dos que assistiu pela televisão ao debate do Orçamento de Estado para 2008. Fiquei enojado com a postura desatinada da dupla José Sousa/Fernando Santos. Estou farto dela e da sobranceria com que se dirige aos portugueses. Falaram de cátedra, atiraram números falaciosos para público se entreter, mentiram, disseram o que lhes convinha, omitiram, sem pudor, os números que depreciavam a sua política de polichinelo. Esta dupla é autista, está desacreditada e há muito que atingiu o seu estado de validade.

O Orçamento do Estado para 2008, além de um embuste pegado, é um orçamento reles. Não contribui para o desenvolvimento económico-social do País, aumenta o número de desempregados, agrava os impostos, engorda a riqueza dos que já são ricos, empobrece uma vez mais a classe média, insulta, com migalhas de cobardia, os que já são pobres, menospreza os funcionários públicos, avilta os aposentados do Estado.

Enquanto se ouve e vê pela televisão esta súcia de poltrões a defender o Orçamento de Estado do próximo ano, os portugueses indignam-se com o que vão vendo e sentindo à sua volta; irritam-se com as notícias vindas a público de que vão ser gastos em 2008, e à custa de todos nós, 61,6 milhões de euros em viagens e hotéis, mais 18,8% (!!!) do que terá sido gasto em 2007, e para um ano em que Portugal já não preside à União Europeia; enfurecem-se com os gastos sumptuários dos membros do Governo (para quê tanta viagem e tantos carros novos todos os anos, senhores?); revoltam-se com os sucessivos aumentos dos combustíveis e, por via disso, da ceva gulosa dos vílicos do Estado; preocupam-se com os aumentos dos produtos alimentares, da electricidade, do gás, da água, dos medicamentos, dos serviços de saúde, dos simples produtos de higiene básica; inquietam-se com o futuro.

Os Sindicatos da função pública, cansados deste Governo e das políticas de hostilização que sistematicamente visam os funcionários públicos, decretaram greve geral para o dia 30 de Novembro. Fizeram bem, cumpriram o seu dever. Espera-se agora que os funcionários façam o seu, anuindo em massa ao apelo dos Sindicatos. A agitação social por meio de uma greve, sendo um direito de quem trabalha, é igualmente uma forma democrática de se discordar de um Governo, de o deitar abaixo se for necessário. É preciso destituir este Governo. Há muito que deixou de ser capaz de mobilizar a sociedade portuguesa. Um Governo que não mobilize a sociedade não presta. O Governo do licenciado José Sócrates perdeu o prazo de validade. Que o “pântano” de Guterres o inspire, por uma vez, na única decisão que deve tomar: DEMITIR-SE. Para isso têm também a palavra, no dia 30 de Novembro, os funcionários públicos, os juízes, os magistrados, os médicos, os professores, os aposentados, os deficientes; têm a palavra os descontentes da sociedade portuguesa. Assim se assumam e não tenham medo.