UM PAÍS DE FUTEBOL FALADO
A novela que, nos últimos tempos, ocupou uma boa parte dos adeptos do futebol em Portugal chegou, para já, a um primeiro fim. Acabados os recursos e contra-recursos do caso Mateus passados no âmbito das Comissão Disciplinar da Liga e do Conselho de Justiça da Federação Portuguesa de Futebol, é a vez de, de novo, entrarem em cena os tribunais civis. Gil Vicente e Belenenses vão, certamente, digladiar-se pelos tribunais para, em última análise, se saber quem desce de divisão e quem não desce. Até agora desceram e não desceram à vez, em função dos bons ou maus humores dos senhores das Instâncias Judiciais: ora agora desces tu, ora agora permaneço eu…Ambos já estiveram na Primeira Liga, ambos já estiveram na Liga de Honra.
Pelos resultados desportivos obtidos no rectângulo de jogo o Gil Vicente perfez pontos que o manteriam na Primeira Liga; pelos resultados administrativos obtidos em campo judicial (!!!) o Belenenses conseguiu obter sentenças que evitaram a sua despromoção. Por incrível que pareça as decisões administrativas de um Tribunal espúrio prevaleceram sobre a legitimidade de resultados desportivos obtidos em campo de jogo.
Isto não me cheira bem. Desde cedo se pressentiu o resultado desta novela. Encontrado que fosse um qualquer atalho de natureza burocrática nunca o Belenenses poderia descer de divisão. Isso foi sempre evidente. Que importância teriam para um caso destes os resultados desportivos que o Gil Vicente obtivera em campo? Nada, se isso conviesse ao Belenenses e aos próceres da sua causa. Foi o que, como se previu, finalmente aconteceu.
Conhecidos os detalhes e desenlace deste caso algumas perguntas poderão ser colocadas: Por que razão o Belenenses só denunciou à Liga Portuguesa de Futebol as eventuais irregularidades do Gil Vicente depois de terminado o campeonato que ditou a sua despromoção? Por que não o fez no decurso do próprio campeonato? Sabendo a Liga, em tempo oportuno, que o Gil Vicente utilizara indevidamente o jogador Mateus por que razão não agiu, desde que foi conhecida a primeira utilização irregular? Por que razão houve tantas divisões, demissões e readmissões dos membros da Comissão Disciplinar da Liga? Como pode o Gil Vicente ser punido se a utilização, durante quatro jogos, do jogador Mateus foi autorizada pelo Tribunal? Como se explica que um atleta dito amador não possa ser inscrito num escalão profissional e um atleta júnior possa transitar directamente do seu escalão etário para o escalão sénior? Sendo, no seio dos membros da Comissão Disciplinar da Liga, tantas as opiniões divergentes sobre a regularidade ou irregularidade de utilização do jogador Mateus, por que não dar prevalência aos resultados desportivos obtidos legitimamente em campo pelo Gil Vicente? Que moralidade tem o Belenenses para disputar o campeonato da Primeira Liga de 2006/2007 sabendo-se que desportivamente os resultados que obteve em campo ditaram, de facto, a sua despromoção? Tem a actual Comissão Disciplinar da Liga espessura ética para ter decidido como decidiu? À semelhança de outros fretes não foi agora feito um frete ao Belenenses?