sexta-feira, setembro 19, 2008

OS ATRELADOS

Quem consultar o dicionário da Porto Editora verificará que a palavra atrelado pode ter quatro significados: pode querer dizer algo que se encontra preso ou engatado a outro veículo, pode ser um veículo sem motor rebocado por outro, pode ser alguma coisa que ande preso com trelas e pode, por convenção, ser alguém que anda sempre associado a uma pessoa, como se ambas tivessem que funcionalmente estar para sempre coladas uma à outra. É obviamente em sentido coloquial que me quero referir aos atrelados, aos atrelados ditos sociais. De resto, cabem perfeitamente dentro do conceito das castas lusitanas, já retratadas neste espaço de expressão livre, num anterior artigo de opinião.

Na sociedade portuguesa há por aí muitos atrelados. Há homens e mulheres que, com rara habilidade, se atrelam a outras pessoas nas empresas, nos bancos, nas fundações, na economia, nas organizações sindicais, nos municípios, nos agrupamentos desportivos, nas instituições associativas, nas confissões religiosas, nos partidos, nos governos e no mundo da política em geral.

Quem não os conhece? Não sendo chefes, agem como se o fossem; não tendo poder próprio comportam-se como se o tivessem; não sendo ricos aparecem aperaltados por tudo o que cheire a jet-set. Por norma são falsos, vingativos, arrogantes, bajuladores, servis. Do ponto de vista ético são toda esta misturada de grelos que ninguém respeita mas que todos temem.

O atrelado procura andar sempre atrás de alguém que tenha nome, que tenha fama, que tenha dinheiro, que tenha poder; sem valor próprio, o atrelado é, por natureza, um ser obscuro, sebáceo, mesquinho, ganancioso, delator; indo com o chefe para todo o lado, é o parasita que nunca o larga; serve o chefe, mas para se servir dele; ataca impiedosamente quem lhe possa fazer sombra, vende-se para nunca perder as boas graças do chefe que adula.

O atrelado é, em geral, um ser menor. Sem grande carácter, de personalidade duvidosa e intelectualmente pouco dotado, o atrelado tem a vaga esperança de, um dia, ser ele o próprio chefe. Às vezes consegue sê-lo. Ou porque o seu chefe deixou naturalmente de o ser, ou porque o próprio chefe o promoveu, ou porque lhe foram criadas condições de incontornável apropriação do lugar que ficou vago.

Esta gente que abunda por aí, caída do céu aos trambolhões, é irritante e não presta. Não se suporta e são sobejamente conhecidos muitos dos seus figurantes. Essa gente está em todo o lado, nos Organismos Públicos como em prestigiadas Fundações da nossa sociedade. Os atrelados reconhecem-se, sem esforço, nas estruturas distritais dos principais partidos políticos de Portugal. Pairando, sobretudo, por estas bandas, conhecem-se de ginjeira e deveriam ser publicamente denunciados. Por pudor não o são, por ora.

5 comentários:

Anónimo disse...

Sabem quem, no contexto desta terminologia, tem sido o atrelado de Luís Filipe Meneses? Eu sei, toda a gente sabe, e, por isso, não é preciso dizer o seu nome. Ele anda por aí, aparece por todos os lados, todos o vêm e tem o sonho de vir a ser o próprio chefe...

Anónimo disse...

Por que é que Leonor Beleza nunca conseguiu libertar-se de alguém que, qual laparão, se agarrou a ela em todos os cargos que exerceu?

Sempre indirectamente ligado aos elevados cargos públicos e privados por que Leonor foi e é responsável, esse ATRELADO famoso, que toda a gente conhece, foi sempre a sua eminência parda.

A imagem de Leonor poderia ter sido muito melhor se dessa eminência se tivesse “desatrelado” de vez. Ainda está a tempo...

Anónimo disse...

Há uma "avis rara" que também não há meio de DESATRELAR de Pedro Santana Lopes para onde quer que ele vá.
Insolente, gordo de tantas iguarias, ostentador de charuto de um novo riquismo saloio, temo vê-lo de novo ao lado do futuro candidato à Câmara Municipal de Lisboa nas autàrquicas de 2009.

Anónimo disse...

Mais uma muito bem descrita imagem sarcástica mas verdadeira da nossa sociedade. Também há quem lhes chame penduras. E depois ainda há duas espécies: os que se matriculam no partido respectivo e os outros, os camaleões, ainda mais refinados. jm

Anónimo disse...

Conheço uma figura do nosso País que é um espelho perfeito do tema que o autor deste blog descreve com refinada ironia. Essa figura, para se tornar sempre conhecida, pairou, praticamente, por todos os partidos do chamado arco democrático. Esteve ao lado do saudoso Professor Vieira de Carvalho, conviveu estrategicamente com o também saudoso Oliveira Ramos, conseguiu cair nas boas graças de Leonor Beleza e, finalmente, colou-se a um famoso padre franciscano.
Essa figura de camaleão é hoje um chefe nacional, uma espécie de dono do lugar que aquele famoso sacedote misericordiamente lhe soube transmitir.
Com gente assim o nosso País dificilmente passará da cepa torta em que o atolaram...