quarta-feira, julho 18, 2007



UM PRESIDENTE DE 9% DE ELEITORES RECENSEADOS


É obra. Temos em Portugal um Presidente eleito com apenas 9% da população recenseada. Não conheço nos anais da democracia política portuguesa resultado igual. A vitória de António Costa, sendo formalmente irrecusável, é para ele um grande embaraço político. No lugar dele questionar-me-ia sobre se teria legitimidade real para governar a maior Câmara do País.

As eleições do passado Domingo dão muito que pensar. Desde logo por terem sido desnecessariamente precipitadas. Carmona Rodrigues tinha sido eleito para um mandato de quatro anos e não apenas para dois. Ser-se arguido num qualquer processo não é razão suficiente para se por em causa a legitimidade política de que Carmona era detentor.

Ser-se arguido hoje em Portugal é, além disso, um acto banal de que nenhum português está livre de se ver, de um momento para o outro, ignominiosamente constituído. Os casos multiplicam-se pelo País e o ex-presidente foi apenas uma das vítimas desta abominável fúria judicialista que persegue os portugueses. Por este caminho ninguém pode governar; basta que um qualquer magistrado do Ministério Público assim o queira.

É um paradoxo verificar, por outro lado, que o descalabro eleitoral de Lisboa tenha sido provocado pelo próprio partido de poder. Tratou-se dum acto suicidário absolutamente incompreensível. Como foi possível que o PSD desse, de mão beijada, o poder ao adversário? Erro crasso esse, como se viu.

Mas o descalabro de Lisboa não disse apenas respeito ao PSD e ao seu líder. Disse-o a todos os partidos do actual sistema político. Os lisboetas estiveram-se literalmente nas tintas para o acto eleitoral do passado dia 15 de Julho. Esmagadoramente quiseram dizer que já não acreditam nos políticos profissionais que temos, que os partidos, tal como estão, passaram de moda, que o actual modelo político português se encontra fatalmente ultrapassado e que é preciso encontrar outras formas de representação. As urnas do dia 15 de Julho disseram-no claramente.

quarta-feira, julho 11, 2007


OS MISTÉRIOS DE UMA SONDAGEM QUE SE CONTRADIZ


Há momentos em que entendo as sondagens políticas. Compreendi-as, por exemplo, quando o candidato a Primeiro-ministro nas eleições legislativas de 2005 era, segundo as sondagens de então, o candidato claramente vencedor. Além de o Governo de Santana Lopes se encontrar fatalmente desacreditado as promessas que o bacharel José Sócrates fazia aos portugueses favoreciam um desfecho vitorioso para o Partido Socialista e o seu Secretário-geral. Foi o que, sem surpresa, aconteceu. As sondagens confirmaram o que a realidade fazia prever.

Entendo-as também hoje no que toca à mais que provável vitória de António Costa nas eleições do próximo dia 15 de Julho para a Câmara de Lisboa. As sondagens já disseram quem vai ser o próximo Presidente da Câmara e eu acredito nelas. Inclusive penso que os outros candidatos também não têm dúvidas de quem será o vencedor. O ambiente social e político da cidade de Lisboa favorecem inapelavelmente o candidato socialista.

Mas, com franqueza, não percebo as sondagens que nos últimos tempos têm vindo a público em relação ao actual Governo. É que neste caso não diz a letra com a careta. O ambiente social que reina no seio da sociedade portuguesa é mau e globalmente hostil ao Governo e a José Sócrates mas, apesar disso, as sondagens espelham uma realidade diferente, no hipotético caso de novas eleições legislativas. Se as houvesse hoje José Sócrates e o Partido Socialista seriam, de novo, vencedores. Alguém entende isto? Por que razão, neste caso, as sondagens não reflectem a realidade que todos vêm e sentem?

O que se passa no nosso País em 2007 é o contrário absoluto do que Sócrates disse e prometeu antes de ser eleito em 2005. Sócrates, para ganhar, aldrabou irresponsavelmente os portugueses. Vejamos: Portugal deveria, nesta fase da actual legislatura, estar mais rico mas está hoje muito mais pobre, regredindo assustadoramente no ranking dos seus parceiros da União Europeia; a economia deveria estar mais fortalecida mas não há meio de crescer; a carga fiscal deveria ter sido substancialmente atenuada mas os impostos nunca apertaram tão impiedosamente o cinto dos portugueses como hoje; a saúde tem muito menos qualidade, é muito mais cara e o acesso aos cuidados é tremendamente mais difícil; a educação é um antro de confusões, perseguições, medos e conflitos; a justiça praticamente não funciona; a despesa pública é hoje mais elevada e, sem razão que se conheça, tem vido a subir na razão inversa dos apertos financeiros de que todos temos vindo a ser vexatoriamente explorados; se a taxa de desemprego era em 2005 de 7,5%, os seus índices são hoje de 8,2%, atingindo proporções nunca verificadas na sociedade portuguesa desde 1986.

Com um panorama tão negativo assim, e uma situação geral em todas as vertentes muito pior do que em 2005, como é possível, pergunto de novo, que as sondagens não expressem esta realidade e façam, ao contrário, do Partido Socialista e do licenciado José Sócrates os grandes vencedores dum putativo acto eleitoral, se realizado hoje?

Que mistérios abundam numa sondagem que, dando as indicações que dá, intrinsecamente se contradiz? Será por incapacidade das oposições? Será por causa da inexistência de alternativas políticas credíveis? Será por causa de um gigantesco programa de persuasão e propaganda que o chefe do Governo soube, com muito engenho, por em prática, iludindo e enganando, uma vez mais, os portugueses? Será por causa da comunicação social que temos, amorfa, vigiada, subserviente, medrosa?

Quem sabe responder a isto? Será o Governo mesmo competente e estarei eu, como outros, errado na apreciação que lhe faço? As sondagens feitas ao Governo é que estão certas? Neste caso específico, tergiverso.