A RTP E O ELOGIO EM CAUSA PRÓPRIA
Entre o programa das sete maravilhas do mundo da TVI ou o espectáculo de indecoroso auto-elogio da RTP, optei claramente por assistir ao programa do canal 4 da televisão portuguesa. Além de ser um espectáculo bem concebido, as sete maravilhas do mundo que a TVI, em boa hora, trouxe a antena no aniversário dos 50 anos da RTP, contribuíram, de uma forma agradável, para o enriquecimento cultural dos seus espectadores. Sem custos para o contribuinte, sem indemnizações compensatórias oriundas do Orçamento do Estado, vivendo autonomamente do share e dos anunciantes que financeiramente a sustentam, a TVI demonstrou que é possível conceber-se excelentes espectáculos de televisão, de inegável interesse público, sem as contrapartidas financeiras a que habitualmente se reclama o canal do Estado.
A história da RTP não é, com efeito, uma história brilhante. Sistematicamente ligada aos regimes e poderes políticos de ocasião, a RTP não tem sido um modelo de liberdade de expressão, não tem sabido ser isenta e não é um exemplo de independência do poder político. Serviu-o sempre de acordo com as circunstâncias, na ditadura, no PREC e na democracia. A televisão pública tanto foi, contraditoriamente, capaz de servir Salazar e Caetano, como, desaparecidos aqueles, foi lesta a apoiar Vasco Gonçalves ou, depois deste, o Ministro de um qualquer Governo democrático. Em matéria de informação as oposições sempre foram e são ignoradas. Ora, fazer dessa história um espectáculo de auto-elogio ao longo de um dia inteiro e por períodos que se têm vindo a prolongar para além do que é razoável, é o cúmulo da desfaçatez. É irritante e todos estamos fartos.
Pesada na estrutura, cara para os cofres do Estado, sorvedouro sistemático do dinheiro dos contribuintes, a RTP há muito que deixou de ter interesse para os portugueses. É um fardo que hoje se dispensa perfeitamente. A SIC e a TVI fazem melhor do que a RTP, não custam dinheiro aos contribuintes, também vão às comunidades portuguesas espalhadas pelo mundo, já estão gratuitamente a fazer serviço público de televisão, não dependem do poder político dominante, dão oportunidade equitativa de afirmação às oposições e aos governos, são financeiramente autónomos e não precisaram, para equilíbrio das suas contas, dos 224 milhões de euros que, imagine-se, foram oferecidos pelo Estado à RTP no ano que findou.
Dentre os muitos serviços públicos que devem acabar para equilíbrio das contas do Estado, a RTP é, inegavelmente, um deles. Os portugueses agradecem. Terá o Senhor Primeiro-ministro coragem de a extinguir?