Desde que Aníbal Cavaco Silva se afastou da sua liderança, nunca mais o Partido Social-democrata foi o mesmo. Pior do que ficar órfão de um Presidente carismático que não soube preparar os militantes para a sua sucessão, o PSD viu-se, até hoje, sem uma ideia estratégica para o País, sem equipas capazes de o revitalizar e sem líderes competentes para o levarem novamente ao Governo de Portugal. Os Governos de Durão Barroso e Santana Lopes não passaram de um episódio a dois actos em que um e outro mais trataram da defesa de interesses e vaidades pessoais do que da resolução dos problemas do País. O PSD mergulhou numa profunda crise de identidade de que nunca mais conseguiu libertar-se até aos dias de hoje. E não há sinais de que o venha a conseguir a curto prazo. Para mal dos seus pecados e para mal do nosso País.
A bem dizer, a crise do PSD começa, remotamente, no momento em que Cavaco ganha as eleições legislativas de 1985 e passa, durante dez anos, a ser o Primeiro-ministro de Portugal. Preocupado apenas com o Governo, o País e, mais tarde, a Presidência da União Europeia, Cavaco Silva esqueceu injustamente o Partido que o tinha catapultado para o poder. Acho até que, em muitos casos, o ostracizou de uma forma inadmissível.
Com o Professor Aníbal Cavaco Silva nas funções de Primeiro-ministro o PSD foi ficando politicamente paralisado, atrofiou, tornou-se acrítico, deixou de pensar, afastou-se da análise política sistemática, e, sem estratégia, ficou, ao Deus dará, entregue ao cuidado de militantes que apenas tinham como objectivo principal a ocupação, a todo o custo, de tudo o que fossem lugares ou benesses oriundas da órbita administrativa e empresarial do Estado.
Com Cavaco na presidência, o Partido Social-democrata deixa praticamente de existir como instrumento dinâmico de intervenção política. Cavaco secou literalmente o PSD. O resultado é hoje o que se vê: ex-ministros dos seus Governos, sem excepção, bem colocados na vida, mas uma profunda desilusão no que toca à capacidade de auto-revitalização do Partido que também o promoveu. O PSD tem sido, desde que este carismático Presidente se afastou, um preocupante vazio de ideias, uma coutada de caciques que se vão protegendo uns aos outros na perpetuação em cargos para que, no contexto da Assembleia da República e das Autarquias locais, ainda conseguiram ser eleitos.
A crise do PSD é, afinal, uma das faces visíveis da própria crise do nosso País. Quanto mais profunda for a crise do Partido Social-democrata mais profunda e longa será também a crise de identidade de Portugal. Que nenhum português duvide disso.
1 comentário:
Infelizmente é mesmo assim. O PSD deixou de ter militantes que servem o Partido para viver apenas dos que se servem do Partido. Cavaco Silva foi o maior exemplo. Durão Barroso e Santana Lopes foram também grandes desilusões e serviram apenas para mostrar a mediocridade que impera no PSD.
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