terça-feira, fevereiro 19, 2008


UMA QUESTÃO DE CARÁCTER

Por muito que queira ser simpático para com o Primeiro-ministro José Sócrates confesso que não consigo. A sua figura, quando a vejo, torna-se-me irritante. Foi o que, uma vez mais, aconteceu esta noite com a entrevista que concedeu aos jornalistas da SIC. Para mim, como para uma boa parte dos portugueses com quem vou falando na lufa-lufa do seu dia a dia, este homem já só cria repulsa a quem o vê.

José Sócrates chegou a Primeiro-ministro por um bambúrrio da sorte. Culturalmente mal preparado e intelectualmente medíocre, só chegou ao poder por abandono de Durão Barroso, por incompetência de Santana Lopes e por um conjunto de promessas manhosas com que se apresentou ao eleitorado que o haveria de eleger. O povo português, na subconsciência da sua “ingénua sabedoria”, desiludido com a traição de Barroso, indignado com a incapacidade de Santana e atraído pela fantasia de um conjunto de promessas eleitorais que poderiam garantir-lhe um nível de vida de superior qualidade, decidiu dar uma maioria absoluta ao Partido Socialista e escolher o seu Secretário-geral para Primeiro-ministro de Portugal. Traído por uns e iludido por outros, o povo português quis, com efeito, que este esquisito bacharel de engenharia fosse o Primeiro-ministro de Portugal.

Se, no acto da investidura, José Sócrates ainda criou expectativas, depressa tudo se foi desvanecendo. Pelo que já produziu na esfera política, mas, sobretudo, por aquilo que se vai conhecendo da sua vida particular, académica e profissional, há neste homem uma questão insanável de carácter. De mau carácter.

O percurso de vida de Sócrates, à medida que vai sendo conhecido, é um manancial inesgotável de coisas e casos complicados. Uma pessoa que mente para ganhar eleições; que subscreve, como seus, projectos de engenharia que se sabe serem de outros; que usa de artimanhas para a obtenção de uma licenciatura universitária; que, como deputado, opta pelo regime de exclusividade e continua a ter rendimentos de outra actividade; que persegue quem dele discorda; que se amedronta perante os poderosos e se arroga covardemente perante os fracos…; um homem assim, manhoso, incoerente, mentiroso, com comportamentos deste jaez, não é um homem que se recomende para o exercício do alto cargo de Primeiro-ministro de Portugal. É-o pelas razões que se conhecem, mas não vai ficar na história democrática do nosso País, na esteira de um Francisco Sá Carneiro, de um Mário Soares ou de um Aníbal Cavaco Silva.

Por muito que isso lhe doa, há em José Sócrates Pinto de Sousa uma questão básica de carácter, de mau carácter. Por isso muitos o abominam. Como eu.

3 comentários:

Anónimo disse...

Pelo modelo, pela estrutura dos temas tratados e pela forma como Sócrates conseguia levar sempre até ao fim cada assunto que era abordado,a entrevista cheirou a entrevista negociada.Tudo se tornou muito simples para ele e a entrevista pareceu, de facto, encomendada para não causar dano.
Sócrates falou do que apenas quis e como quis.
Arrogante, autista e insensível às dificuldades por que passam os portugueses, o Primeiro-ministro demonstrou estar totalmente alheio do País real que pensa estar a governar. Ao País etéreo de José Sócrates há um outro País real de que pouco falou: há o País duma classe média descrente e decadente; há o País de 500000 desempregados e de 2 milhões de pobres; há o País da alta corrupção e da justiça que não funciona;há o País do medo e da insegurança; Há o País de meia dúzia de castas que tudo comem e a todos dominam...
Deste País, que é o real, Sócrates não falou

Anónimo disse...

Este nem sequer precisou de ir a Rennes para nos enganar. Não vi a entrevista, porque já sei que nunca fala (nem é questionado)sobre os verdadeiros problemas do País. Mas concordo com tudo e penso que, infelizmente, estamos perante uma realidade com a qual teremos que conviver ainda muito tempo.

Anónimo disse...

Chamo-me Eça de Queirós e o artigo que escrevi no 1º número das FARPAS,em 1871, parece-me ser de plena actualidade. Estando de acordo com o que tem vindo a ser publicado pelo autor do IRRITANTE, eis o que, há 133 anos, também dizia a respeito da sociedade portuguesa:


"O país perdeu a inteligência e a consciência moral.Os costumes estão dissolvidos, as consciências em debandada, os carácteres corrompidos. A prática da vida tem por única direcção a conveniência.
Não há princípio que não seja desmentido. Não há instituição que não seja escarnecida.Ninguém se respeita. Não há nenhuma solidariedade entre os cidadãos.
Ninguém crê na honestidade dos homens públicos.Alguns agiotas felizes exploram.A classe média abate-se progressivamente na imbecilidade e na inércia.O povo está na miséria.Os serviços públicos são abandonados a uma rotina dormente.O Estado é considerado na sua acção fiscal como um ladrão e tratado como um inimigo.A certeza deste rebaixamento invadiu todas as consciências.Diz-se por toda a parte: o país está perdido!"