terça-feira, fevereiro 26, 2008


O RICOCHETE DE UMA DERROTA EVITÁVEL


Se há em Portugal pessoa com currículo adequado ao exercício, a tempo inteiro, de funções políticas, essa pessoa é o Dr.Luís Marques Mendes. Com prejuízo da sua própria actividade académica na Universidade de Coimbra onde, por causa disso, teve de frequentar o Curso de Direito como aluno voluntário, Luís Marques Mendes desde muito jovem viu o seu percurso de vida traçado ao lado e em ligação diária com altas figuras da política portuguesa. A política passou a ser, por convicção, a sua escolha profissional.

Se no ambiente familiar não lhe eram, desde logo, alheias as convicções políticas do seu Pai António Marques Mendes, foi, todavia, do contacto com outras personalidades importantes da sociedade que este jovem cidadão de Braga mais bebeu para aquela que foi a sua própria formação, personalidade e estrutura de pensamento político. Homens como Fernando Alberto Ribeiro da Silva, Eurico de Melo, Fernando Nogueira e Aníbal Cavaco Silva estão, de facto, na génese do que Luís Marques Mendes foi como político relevante da sociedade política portuguesa. No percurso da sua longa carreira, só não foi Primeiro-ministro e Presidente da República. Se para o exercício deste último cargo era ainda demasiado jovem, Marques Mendes só não chegou a Primeiro-ministro por pouco, e por culpa própria.

O Dr. Luís Marque Mendes exerceu praticamente todos os cargos de natureza político-partidária. Por mérito pessoal e por se lhe reconhecerem qualidades adequadas ao exercício de cada cargo, Luís Marque Mendes foi, no PSD e na política em geral, praticamente tudo. Foi, por convite, secretário de Eurico de Melo no Governo Civil de Braga; foi membro eleito da Comissão Política Distrital do PSD de Braga, onde conviveu, durante anos, com o seu Presidente, Fernando Alberto Ribeiro da Silva; foi candidato derrotado a Presidente da Câmara de Fafe; foi vereador autárquico e membro de Assembleias Municipais; foi deputado na Assembleia da República e líder do Grupo Parlamentar do PSD; foi Secretário de Estado e foi Ministro dos Governos de Cavaco Silva e de Durão Barroso; foi membro dos Órgãos Nacionais do PSD; foi, finalmente, Presidente da Comissão Política Nacional do Partido Social-democrata.

Como é que um homem com um currículo assim não conseguiu vingar como Presidente do PSD e, a meio do mandato, é derrotado nas primeiras eleições directas do Partido? Como é que um homem que poderia ter sido Primeiro-ministro de Portugal deixou de poder sê-lo a partir do momento em que, afastado do cargo de Presidente do PSD, se viu naturalmente impedido de combater José Sócrates nas Eleições Legislativas de 2009, por que tanto lutou? Marques Mendes tinha, como se disse, experiência política e conhecia o Partido e o País. Apesar disso perdeu. Perdeu por circunstância alheias e por culpa própria.

Por circunstância alheias por, desde logo, estar na oposição a um Governo e a um Primeiro-ministro de maioria absoluta ainda em estado de graça; por turbulência interna do seu próprio Partido e por actos hostis de algumas das suas figuras mais proeminentes; por uma comunicação social quase sempre favorável a Governos de esquerda; pelo abuso indecente dos bonecos da contra-informação.

Mas Marques Mendes perdeu também por razões só imputáveis a si próprio. Ao contrário de José Sócrates, nunca conseguiu que a sua imagem passasse junto da população portuguesa; tinha uma ideia para o País, tinha convicções, defendia princípios, reclamava valores, mas, sistematicamente, tudo caía em saco roto. Os princípios que defendia viraram-se, muitas vezes, contra si próprio. Isso foi especialmente notório no processo eleitoral de algumas autarquias. Marques Mendes perde porque, intrometendo-se insensatamente, na embrulhada de Lisboa, provocou a queda da sua Câmara social-democrata e a eleição de uma nova Câmara de cariz socialista. Perdeu porque provocou eleições directas para um novo Presidente do PSD, delas saindo claramente derrotado.

Mas Marques Mendes também perdeu por outras razões, da sua inteira responsabilidade. Perdeu porque escolheu, para o acompanhar, uma equipa política globalmente fraca, subserviente, acrítica, sem capacidade efectiva de intervenção junto dos portugueses. Perdeu porque meteu na equipa quem não devia, deixando ficar de fora quem devia estar dentro. Perdeu porque não soube rodear-se das pessoas exactas para a missão correcta. Perdeu porque nunca gostou de estar rodeado de pessoas que pensassem diferente do que ele próprio pensava.Marques Mendes perdeu, porque glorificou inaptos, ostracizou militantes capazes, perseguiu elites críticas do seu partido; perdeu porque prometia muito a muita gente simples que o demandava e raramente cumpria aquilo que lhes tinha prometido.

Luís Marques Mendes tinha tudo para ganhar. Perdeu sobretudo por culpa própria; perdeu pelo chamado efeito de ricochete. Foi pena.

3 comentários:

Anónimo disse...

Marques Mendes foi sempre um bom número dois. Foi-o com Eurico de Melo,com Fernando Alberto Ribeiro da Silva, com Fernando Nogueira e com Cavaco Silva.
Elevado à condição de número um do PSD, não manifestou estofo para o lugar, muito menos garantiu ter condições para, um dia, ser Primeiro-ministro. Teria fatalmente que soçobrar como soçobrou. O princípio de Peter aplicou-se-lhe na perfeição.
Mas há três razões objectivas que o levaram à derrota: A sua figura nunca entrou pelos olhos dentro dos portugueses; O boneco da CONTRA-INFORMAÇÃO diminuiu-o duma forma demolidora;o excesso de intervenção na Câmara de Lisboa deu-lhe a estocada política final.

Anónimo disse...

Luís Marque Mendes é um daqueles políticos que não tem a noção dos seus limites. Se lhe sobejam qualidades para coadjuvar uma personalidade forte,faltam-lhe condições estruturais para ser o número um do que quer que seja. Marques Mendes, como muito boa gente,não teve esta noção. Elevado, por uma vez, à condição de número um do seu Partido teria que cair estrondosamente como caíu. Dificilmente terá outra oportunidade na política.

Anónimo disse...

Não estou totalmente de acordo com os comentários anteriores. Se Luís Marques Mendes foi sempre um bom número dois, não lhe deram tempo para poder demonstrar que também era capaz de ser um bom número um do PSD.
Marques Mendes foi, de resto, um excelente líder do Grupo Parlamentar no tempo em que era Presidente do PSD o Professor Marcelo Rebelo de Sousa