terça-feira, janeiro 08, 2008


INCOMPETÊNCIA OU CUMPLICIDADE?


Já muita coisa foi dita e redita acerca do caso MILLENNIUM BCP. Trata-se dum caso que, não é demais repetir, ultrapassou os limites da decência. Nunca me passou pela cabeça que Jardim Gonçalves, depois de um trabalho notável ao nível da formação do seu Banco e, por via disso, da modernização do sistema bancário português, se deixasse cair na situação em que caiu. A sua história de sucesso, a sua ligação activa à Opus Dei, os princípios de carácter religioso por que se rege e de que, para público ver, ia sempre dando mostras às pessoas que o admiravam, dificilmente pressupunham que, por detrás de um homem de aparente integridade moral, morasse, afinal, a personalidade de uma criatura eticamente reprovável, de ambição sem limites e capaz mesmo de todos os desmandos, desde que isso significasse a sua perpetuação no poder e o reforço permanente da sua conta bancária, da dos seus familiares e de todos os que em conivência prosperavam à sua volta.

Agora se percebe melhor por que razão Paulo Teixeira Pinto se incompatibilizou com tão pressaga figura e se demitiu das funções de Presidente do Conselho de Administração do MILLENNIUM BCP. Qualquer pessoa de boa formação tinha que resistir às ilicitudes que, pelos vistos, se praticavam à tripa-forra naquele banco. Foi, depois de inglória luta, o que honestamente fez; não foi, sem surpresa, o caso de outros, designadamente dos Administradores e de todos aqueles que medraram e medravam sob o chapéu de Jardim Gonçalves. A Nomenclatura reinante estava habilidosamente criada e urgia mantê-la, nem que para isso fosse necessário afastar ou criar condições de auto-afastamento dos que a ela se opunham.

No rol das irregularidades e de ilícitos aparentemente criminais cometidos pela Administração de Jardim Gonçalves não se entende a passividade das autoridades que tutelam, regulam e fiscalizam o sistema bancário e o mercado financeiro de Portugal. O que estiveram a fazer, durante anos e anos, o Ministério Público, a Polícia Judiciária, a Inspecção-geral de Finanças, a Comissão do Mercado de Valores Mobiliários e o Banco de Portugal? Habitualmente tão lestas no tratamento de casos de ilicitude residual, por que não foi nenhuma daquelas entidades capaz de investigar, julgar e punir procedimentos de legalidade duvidosa que, em surdina, já iam passando de boca em boca pelo menos desde 2001? Se não fosse a atitude de grande dignidade de Paulo Teixeira Pinto e o papel, uma vez mais fundamental, que os jornalistas portugueses tiveram na denúncia das irregularidades deste processo, é muito provável que as castas de poder criadas por Jardim Gonçalves ainda hoje estivessem a governar o MILLENNIUM BCP e a tratar desta instituição bancária como coisa sua, ignorando, com desprezo, os legítimos direitos dos pequenos accionistas e depositantes do Banco.

Para além de Jardim Gonçalves, que já saiu, e dos Administradores do ainda Conselho de Administração, que vão sair, não se entende por que não foram ainda demitidos Fernando Teixeira dos Santos, Vítor Constâncio e Carlos Tavares. Se a embrulhada do BCP deu no que deu, estas três entidades não podem assobiar para o lado como se nada tivessem a ver com o caso. É que se não foram cúmplices (e admite-se que não sejam), foram, no mínimo, incompetentes no exercício das suas funções de reguladores e fiscalizadores da banca e do mercado de valores mobiliários. Fernando Teixeira dos Santos foi Presidente da CMVM, Carlos Tavares é-o neste momento, e o inefável Vítor Constâncio desempenha, de há muitos anos, a função de Governador do Banco de Portugal. Dadas as especiais responsabilidades que, por inacção, incompetência ou cumplicidade, indirectamente tiveram para o desprestígio do MILLENNIUM BCP, há muito que deveriam ter deixado de exercer os cargos que exercem. Já deixaram de ter credibilidade. Num País decente isso já teria acontecido. Como não estamos num País decente, essas preclaras figuras ainda vão acabar por ser publicamente louvadas por Sua Excelência o compadre José Sócrates…!!!

4 comentários:

Anónimo disse...

Obviamente demito-os. Era isso que teria sido feito, se houvesse quem mandasse neste País. Mas aqui está um caso em que foi Berardo a fazer o papel da Comunicação Social. Nem era preciso fazer jornalismo de investigação. Grande parte das "habilidades" do BCP eram do conhecimento de muita gente. Só que o BCP é dos maiores compradores de publicidade...

Anónimo disse...

Pois é ! Mais uma vez Portugal no seu melhor. Mas pensando bem, que diferença há entre o que se passou no MilleniumBCP, com a conivência das instituições regulamentadoras do mercado, será muito diferente de uma práctica mafiosa (porque criminosa no primeiro caso e displicente - como Pilatos lava daí as suas mãos... - no segundo, já o é!)?
Não há muito a fazer enquanto todos nós não nos decidirmos fazer uma verdadeira revolução e "correr com esta corja toda dos locais onde possa haver exercício de poder, seja ele económico ou político". Essa é a nossa verdadeira responsabilidade. E para cúmulo disto tudo, nem o sr. presidente da républica ajuda ! Veja-se a posição tomada face ao problema da ratificação do Tratado de Lisboa !!! Maltratados somos nós todos e a clique política aproveita ! Até quando ? Até ao momento em que a mostarda subir ao nariz a uma parte importante da população e isso acontecerá quando houver empobrecimento sensível da classe média. Não deverá tardar muito.
Pobre Portugal, merecias dirigentes melhores...

Anónimo disse...

Depois de ler este artigo e de tomar conhecimento acerca do que se passa com a tramóia que José Sócrates armou com a ajuda do Apóstolo Carlos Santos Ferreira,não posso deixar de aqui dar uma nota de grande simpatia por Miguel cadilhe. Admirei-lhe a coragem. Só um homem como ele era capaz de enfrentar as trutas deste poder político e de meia dúzia de accionistas que só sabem viver à sombra do actual poder socialista.

Cadilhe só tem possibilade de vencer se a votação for secreta. De outro modo vai perder, mas perde com a dignidade própria de um homem livre e competente.

Mais do que ser Presidente de um Banco, Cadilhe tem carisma para ser mais do que isso. Tem carisma de Primeiro-ministro. Não se percebe o que tem andado a fazer o PSD.Sem Cadilhe candidato a Primeiro-ministro dificilmente este partido voltará ao poder nos próximos 6 anos. Para mal do País...

Anónimo disse...

Tanto quanto eu julgo saber, nunca foi possível, em Portugal, inspeccionar-se bancos duma forma sistemática.
Em 1964, a lei que definia as funções da Inspecção do Crédito dizia claramente que não incumbia à Inspecção uma inspecção directa mas um simples acompanhamento (era mais ao menos assim). Isto no tempo da ditadura. Hoje...
Há tempos, a judiciária quis ir ao BES. Viu o resultado? Logo o Espírito Santo Salgado apareceu muito salgado dizendo que a banca é a mola de tudo e que portanto inspeccionar a banca é o fim.
Depois apareceu O Presidente da Associação de Bancos, com um ar diabólico que lhe é conhecido, dizendo que tinha que acabar depressa o que começou mal. A Judiciária, publicamente acusada de mau procedimento, não teve direito a um minuto de antena; meteu a viola na caixa e foi-se embora.
Os Menezes e os Portas, se falam muito, estão a arranjar lenha para se queimar. Um dia que lá estejam também não vão conseguir inspeccionar bancos. Se julgam o contrário não sabem do que estão a falar. Em certos países, é muito difícil segurar a banca. Veja o caso do Pinochet: depois de matar comunistas a torto e a direito, teve que nacionalizar a banca, pois não conseguia ter mão nela de outra forma.
Isto não quer dizer que o Victor Gamanthio mui indigno Sacador Geral do Banco não seja um estupor.